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ETE ecológica de Juturnaíba é considerada a maior da América Latina

Antes com pouca quantidade de fauna e flora, a região hoje está bem diversa e abundante, com várias espécies de aves, répteis, peixes e anfíbios

Publicado em: 22/10/2014

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Redação AECweb / e-Construmarket

ETE Juturnaíba

O sistema de coleta e tratamento de esgoto dos municípios de Araruama, Saquarema e Silva Jardim, no Rio de Janeiro, é composto por cinco estações (ETEs). Duas delas utilizam o sistema Wetlands, sendo o esgoto totalmente tratado por meios naturais. “A estação Águas de Juturnaíba é considerada a maior estação ecológica de esgotos do Brasil devido ao seu porte – que é de médio a grande com capacidade de tratamento de 200 litros por segundo –, e ao fato de utilizar recursos naturais – plantas –para absorção de nutrientes. O que, geralmente, não é comum em estações de grande volume e, sim, em estações mais centralizadas de pequenas comunidades e condomínios. A Águas de Juturnaíba é a única estação de tratamento que utiliza recursos naturais com esse porte no Brasil e na América Latina”, diz Felipe Vitorino, gerente de Engenharia, Operações e Manutenções da concessionária Águas de Juturnaíba.

A iniciativa de construir uma estação de tratamento de esgoto ecológica surgiu em função das características dos efluentes da região. “O nosso sistema de coleta hoje é o que chamamos de misto, que são águas pluviais mais esgoto, onde o volume é muito maior e a carga menor, uma vez que o esgoto está diluído. E para ter um tratamento mais eficiente, é preciso retirar a água”, diz. O processo de tratamento adotado, com zona de raiz, dispõe o efluente no solo e as plantas vão absorvendo os nutrientes. “A carga poluidora tem uma taxa de evapotranspiração muito grande, cerca de 30 a 40% do efluente que entra é transferido para a atmosfera, tanto da água quanto do próprio efluente que fica em repouso, reduzindo o volume da água. Esse é, portanto, o processo de tratamento ideal para o efluente existente”, explica Vitorino.

De acordo com o gerente, a ideia do sistema de tratamento ecológico foi importada. “Tratou-se de um conjunto de teses adaptadas para ser implantado aqui, desde experiências em outros países até artigos e publicações a respeito do potencial do sistema Wetlands. O projeto foi desenvolvido por uma equipe multidisciplinar constituída por profissionais com experiência internacional e projetistas de hidráulica que implementaram o sistema. Somou-se a influência de profissionais que atuavam na região, ONGs e comitê de bacias”, conta, lembrando que, no Brasil, são pequenas empresas e projetistas que desenvolvem o sistema, de forma bem pontual, para pequenos volumes.

SISTEMA CONVENCIONAL

A Águas de Juturnaíba é a única estação de tratamento que utiliza recursos naturais com esse porte no Brasil e na América Latina
Felipe Vitorino

Nas ETEs, os efluentes passam, inicialmente, por um processo de tratamento convencional. “Ao entrar nas estações, o esgoto vai para uma caixa separadora de sólidos grosseiros e, em seguida, para a caixa de areia retirar os sólidos menores. Na sequência, passa por um processo de remoção de gordura, de óleos e graxas, e entra em um processo de maturação e degradação da matéria orgânica. São criados ambientes propícios, lagoas, para oxigenar, etapa em que as bactérias contidas no esgoto vão se degradando. O próximo passo é a remoção de sólidos dissolvidos, processo de decantação, para deixar a água maturando e onde os sólidos vão para o fundo e são retirados. Logo após, vão para a zona de raiz”, afirma Vitorino.

SISTEMA ECOLÓGICO

É aqui que começa o uso das plantas, na última etapa do tratamento, que é chamado de polimento para remoção do fósforo e nitrogênio. “A zona de raiz é o local onde ocorre a remoção de carga orgânica poluidora residual, o que restou dos outros processos, por plantas que têm a capacidade para removê-las. São principalmente os nutrientes nitrogênio e fósforo, elementos essenciais para a reprodução das plantas. Assim, elas são utilizadas para a remoção das impurezas da água. Diariamente, é necessário cortá-las e retirá-las para que fiquem sempre perenes, já que quanto mais perene, maior é a capacidade de absorção de nutrientes da planta”, comenta o gerente.

A carga poluidora tem uma taxa de evapotranspiração muito grande, cerca de 30 a 40% do efluente que entra é transferido para a atmosfera, tanto da água como do próprio efluente que fica em repouso, reduzindo o volume da água. Esse é, portanto, o processo de tratamento ideal para o efluente existente
Felipe Vitorino

Segundo ele, em um sistema convencional esse mesmo processo realizado com plantas é chamado de precipitação, que consiste na adição de um coagulante na água, como cloreto férrico ou sulfato de alumínio. Eles irão agregar os pequenos sólidos e matérias orgânicas dissolvidas na água até formarem blocos e serem removidos. É um processo químico similar ao que separa a água do óleo. “O resultado é igual nos dois processos: a retirada do fósforo e do nitrogênio da água”, compara.

As plantas utilizadas no tratamento do esgoto são aquáticas, sendo três espécies de papiros e salvínia. “Os papiros são utilizados nas zonas de raiz e as salvínias nas lagoas. A primeira é enraizada, tem um substrato, o efluente passa por ali e sofre evapotranspiração, infiltração para o solo e absorção das plantas. E a segunda é uma planta de superfície, não tem raiz fixa e sobrevive na face d’água. Os processos com a macrófita emergente, enraizada, e a macrófita flutuante desempenham, portanto, dois papéis diferentes”, conta Vitorino.

A manutenção das plantas é feita com a retirada manual e auxílio de equipamentos para corte e poda. “As macrófitas flutuantes têm que ser removidas diariamente. Já as macrófitas emergentes demoram mais tempo para se desenvolverem, mas como é preciso deixá-las sempre jovens é necessário podar de três em três meses”, explica o gerente.

BENEFÍCIOS

Há um levantamento feito pela Universidade Federal de Viçosa (MG) que mostrava nossa região como uma zona urbana com pouca quantidade de fauna e flora. Atualmente, ela está bem diversa e abundante, com várias espécies de aves, répteis, peixes e anfíbios
Felipe Vitorino

Um dos benefícios do uso do tratamento com plantas é o emprego de mão de obra. “Não é possível colocar uma máquina para cortar planta. É um processo manual. E isso pode ser uma vantagem ou uma desvantagem, de acordo com a visão do gestor. Não há o consumo de produtos químicos e o de energia elétrica é ínfimo. Assim, troca-se a energia e o uso de produtos químicos por mão de obra. E os incrementos vão muito além. Tem um levantamento feito pela Universidade Federal de Viçosa (MG) que mostrava nossa região como uma zona urbana com pouca quantidade de fauna e flora. Atualmente, ela está bem diversa e abundante, com várias espécies de aves, répteis, peixes e anfíbios”, comenta.

O processo natural de tratamento evita os odores típicos das ETEs, dispensa o uso de produtos de origem de atividades extrativistas e, ainda, pode gerar valor com o resíduo da estação. “Destinar as 45 toneladas de plantas retiradas mensalmente a um aterro sanitário teria um custo muito alto e uma logística complexa. Hoje a legislação brasileira fala que todo o resíduo de tratamento de esgoto é considerado lodo de esgoto, e exige tratamento, disposição e destinação adequados”, comenta. A empresa escolheu implantar um processo de compostagem do lodo restante do tratamento, considerado nobre quando comparado aos convencionais. Aproveitado junto com as plantas retiradas do sistema de tratamento de esgoto, passa por um processo de maturação resultando em adubo.

A área necessária para a implantação de uma estação de tratamento de esgoto ecológico é de 200 a 300 vezes superior ao espaço necessário para o processo convencional. Esse é o único fator limitante
Felipe Vitorino

“Como o custo de mão de obra é alto, fizemos uma parceria com a empresa responsável pelo manejo das plantas e, em contrapartida, ela fica com o adubo gerado. Investimos somente nos equipamentos necessários para o processo de compostagem. A empresa faz o corte, retira as plantas e fica com o adubo que é comercializado”, diz.

OUTRAS INICIATIVAS

Segundo o gerente, não existem no Brasil outras iniciativas como a Águas de Juturnaíba. Em grandes centros urbanos, acaba sendo inviável a construção de uma estação de tratamento de esgoto ecológico, devido à área necessária para a implantação do processo de tratamento. “É de 200 a 300 vezes superior ao espaço necessário para o processo convencional. Esse é o único fator limitante”, conta.

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Felipe Vitorino
Felipe Vitorino – Engenheiro Ambiental formado pela FUMEC em 2007, com pós-graduação em formas alternativas de energia pela UFLA, 2009, e em Gestão de Desempenho pela FDC, 2013. Tem MBA em Administração e Marketing pela ESAB, 2009, MBA em Gestão de Processos pela FGV, em 2011, e MBA em Finanças pela FGV, 2014. Mestrado Profissional em Engenharia Sanitária e Ambiental (UERJ - 2012). Desde novembro de 2012, é Gerente de Engenharia, Operações e Manutenções da Concessionária Águas de Juturnaíba - Grupo Águas do Brasil.