menu-iconPortal AECweb

Fachadas de alto desempenho exigem sombreamento: conheça soluções

Brises, platibandas e varandas garantem conforto térmico, acústico e lumínico aos ambientes, além de eficiência energética às edificações. Entenda

Publicado em: 21/08/2017Atualizado em: 06/02/2018

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Como as pessoas passam grande parte de suas vidas dentro de edifícios, é fundamental que a arquitetura e a engenharia adotem boas práticas projetuais que visem reduzir problemas com ruído, calor, frio e umidade. A implantação adequada do edifício e o uso de recursos construtivos para garantir envoltórias de alto desempenho são algumas delas.

“A envoltória de alto desempenho é aquela capaz de combinar, de forma harmônica, os conceitos de conforto térmico, lumínico, acústico e eficiência energética”, afirma o arquiteto Marcelo Nudel, diretor da Ca2 Consultoria.

No Brasil, os edifícios comerciais se caracterizam pelo uso indiscriminado de fachadas construídas em grandes panos de vidro, o que exige redobrada atenção. “O vidro é somente parte da solução. Se for mal utilizado, como tenho visto acontecer, o material se torna causa de uma série de problemas”, alerta o especialista

cidades-sustentaveis
As fachadas são fundamentais para o conforto no interior dos edifícios (Marco Rubino / Shutterstock.com)

Vidros de alto desempenho não conseguem lidar com a elevada carga térmica presente na maior parte do território brasileiro, em boa parte do ano. “A radiação infravermelha do sol bate no vidro e irradia para o interior da edificação e nós sentimos isso como calor”, diz. Internamente, também é gerada carga térmica pelo grande número de ocupantes do prédio, computadores e equipamentos.

Sombreamento é fundamental. E não há qualquer vidro com condições de substituir o sombreamento físico feito por brises, platibandas ou qualquer elemento que bloqueie a radiação solar direta que incide no vidro”, ensina Nudel.

Vidros

Entre os vidros de alta eficiência, o low-e se destaca. Desenvolvido em países muito frios, onde compõe o sistema de duplos e até triplos insulados, cumpre a função de reter o calor no ambiente. Mas é também capaz de segurar o calor fora do edifício, quando se inverte a posição da chapa de low-e, ou seja, quando aplicado na face interna do vidro externo – aquela que fica em contato com o insulamento. “Dessa forma, a radiação solar é reemitida para o lado de fora da fachada”, diz.

Na Austrália, a maioria dos edifícios comerciais construídos nos últimos cinco anos é sombreada, incluindo aqueles que utilizam vidros duplos insulados com low-e. “O clima é muito parecido com o de São Paulo e deveríamos reproduzir aqui soluções semelhantes. A diferença é que lá as normas de desempenho das edificações não permitem projetos de torres de vidro sem elementos de sombreamento”, relata.

De acordo com Nudel, a intensidade da radiação solar no Brasil é tão alta que o laminado low-e não consegue promover conforto térmico para quem senta próximo à fachada. Ainda assim, a melhor opção é o low-e no sistema duplo insulado e, depois, no laminado. Qualquer solução com vidros comuns é a que mais deixa passar calor.

BRISES

Brise pode ser qualquer elemento que impeça a chegada do sol até o vidro; portanto, tem preços variados. Nos fabricantes multinacionais, o produto pronto tem um preço. Mas o projeto do edifício pode prever a construção personalizada do brise. Basta o arquiteto desenhar que uma serralheria produz.

A envoltória de alto desempenho é aquela capaz de combinar, de forma harmônica, os conceitos de conforto térmico, lumínico, acústico e eficiência energética
Marcelo Nudel

Outra opção de projeto são as extensões de lajes (platibandas), ou, ainda, construir uma estrutura independente para sombrear. “Mas é preciso dimensionar o brise de forma adequada, pois envolve geometria e ângulos de insolação”, adverte Nudel.

Os brises devem ser construídos com qualquer material opaco. Pode ser metálico, de concreto ou madeira. “No caso do elemento em alumínio, haverá certa absorção de calor que vai irradiar, mas isso é negligenciável. Já a madeira vai exigir mais manutenção”, comenta, lembrando que a proteção solar que esses materiais propiciam à fachada é igual.

DECISÃO PRÉVIA

Considerado uma solução cara pelo mercado, o brise ainda é pouco empregado no Brasil. Marcelo Nudel conta que já vivenciou vários casos em que o investidor se arrependeu por não utilizar brises no projeto original. Depois da obra concluída, remediar custa mais caro. “O incorporador que constrói para alugar ou vender não leva em conta o desempenho da envoltória do edifício. Afinal, os problemas do desconforto térmico, da falta ou excesso de luz natural e do consumo energético são do ocupante”, lamenta.

Na opinião do especialista, é ainda mais grave quando é o proprietário que investe num projeto que vai ocupar ou operar, como hospitais, shopping centers ou agências bancárias. Ou, ainda, no caso de empresa que constrói sua sede. “Depois que ocupam, se deparam com problemas sérios, como shoppings com claraboia sobre a praça de alimentação, onde ninguém consegue ficar tamanho é o calor. Aí o dono vai gastar mais em soluções ou perder clientes”, exemplifica.

Nos prédios de escritórios, haverá desconforto dos funcionários, queixas, além de elevado custo com energia. “Vários fatores que comprometem o desempenho da envoltória podem ser previstos ainda na fase de projeto, como o gasto com energia, o quanto de irradiação solar vai entrar, qual o nível de conforto térmico e a intensidade de luz natural que incidirá nos ambientes”, lembra Nudel.

Essas providências e decisões tornam as soluções mais econômicas do que se adotadas no pós-obra. Além disso, ao incorporar brises nas fachadas, é possível optar por vidro de menor controle solar, que tem menor preço. “As persianas entre vidros duplos insulados também são opção. Os hospitais têm utilizado bem, inclusive porque elas cumprem papel de controle de luminosidade natural no ambiente, dispensando o uso de cortinas internas que acumulam poeira”, diz, ressalvando que não têm a mesma capacidade dos brises na proteção das fachadas.

Sombreamento é fundamental. E não há qualquer vidro com condições de substituir o sombreamento físico feito por brises, platibandas ou qualquer elemento que bloqueie a radiação solar direta que incide no vidro
Marcelo Nudel

RESIDENCIAIS

Os prédios residenciais diferem um pouco dos comerciais porque não têm cargas térmicas internas para elevar a sua temperatura, além de terem períodos diferentes de ocupação. “A partir de São Paulo descendo até o Rio Grande do Sul, há necessidade de aquecimento passivo no inverno, deixando o sol entrar. Mas, no verão, o ideal é controlar as cargas térmicas através do sombreamento e da ventilação natural. Isto se obtém com boas venezianas externas, platibandas e varandas”, diz.

Nesse tipo de clima, não é uma boa estratégia utilizar vidros de alto desempenho que refletem o calor para fora. “São caros para esse fim”, diz. No entanto, a prática comum de envidraçamento das varandas acaba aquecendo o ambiente e muitos moradores lançam mão de ar-condicionado. “O que é um contrassenso, pois a solução se torna um problema. Neste caso, sim, deve ser usado vidro com algum tipo de controle solar”, diz.

Já para o Rio de Janeiro e região Nordeste do país, Nudel recomenda sombrear e ventilar sempre. Além disso, implantar o edifício com as fachadas voltadas para o sul, com baixa incidência solar. “É regra geral para essas regiões, mas jamais para as cidades de clima frio no inverno”, conclui Marcelo Nudel.

Leia também:
Fachadas eficientes podem utilizar vidro, brises ou cobertura vegetal

Vidro serigrafado é solução sustentável para fachada

Colaboração técnica

Marcelo Nudel – Arquiteto, especialista em sustentabilidade, conforto ambiental e eficiência energética. Pós-graduado em Sustainable Architectural Science pela Universidade de Sydney (Austrália). Sócio-diretor da Ca2 Consultores Ambientais Associados, empresa de consultoria e gestão de projetos sustentáveis, conforto ambiental e eficiência energética de edificações. Atuou como consultor de sustentabilidade da Arup, empresa multinacional de engenharia nos escritórios de Sydney, Madrid e São Paulo, assessorando equipes de arquitetos como Norman Foster, Richard Rogers, Renzo Piano e Jean Nouvel, além de importantes escritórios brasileiros na concepção de edifícios de alto desempenho ambiental, incluindo alguns dos principais equipamentos das Olimpíadas Rio 2016. Lecionou como professor convidado nas Universidades de Sydney e New South Wales (Austrália). Atualmente, leciona em curso de pós- graduação na Universidade Presbiteriana Mackenzie.