Fachadas duplas ventiladas melhoram desempenho térmico da edificação
Além dessa solução, as fachadas unitizadas e os sistemas com cerâmica ou pedra são opções que ajudam o empreendimento a obter eficiência energética. Veja como funcionam
Redação AECweb
São chamadas fachadas duplas, ou double skin façades, as fachadas compostas por dois planos de esquadrias, ou seja, o plano normal que constitui o fechamento do edifício, partes opacas e esquadrias instaladas diretamente sobre o paramento externo – estrutura e fechamentos – do edifício, e um segundo plano afastado alguns centímetros do primeiro, constituído por uma fachada cortina que, junto com o plano principal, resulta num espaço entre-planos, onde podem ser instalados elementos como persianas ou cortinas rolô. Essa situação melhora o desempenho térmico do conjunto, pois a câmara de ar resulta em melhor isolamento térmico. Quando esse espaço é ventilado, as condições de isolamento melhoram ainda mais e, com recursos que envolvem projeto, tecnologia e investimentos, se tem a ‘fachada dupla ventilada’, uma evolução da fachada dupla. “A ventilação do espaço entre as essas duas fachadas ocorre por efeito ‘chaminé’, que pode ser ajudada pela introdução de exaustores ou ventiladores, bem como criando aberturas reguláveis na parte inferior e superior para controlar a circulação do ar entre elas, de acordo com as necessidades de cada estação ou condições específicas do clima”, explica o arquiteto Paulo Duarte, consultor de fachadas e vidros. A solução pode ser projetada também com entrada e saída de ar para cada pavimento.
A fachada dupla ventilada colabora com a eficiência energética do edifício e vem sendo mais utilizada na Europa, principalmente na Alemanha. Apesar dos raros projetos no Brasil, “a solução pode nos ajudar em determinadas situações”, diz o consultor que, na realidade, não considera o uso da dupla pele no país, exceto para os Estados do Sul, onde o inverno é mais rigoroso e o clima apresenta diferenciais mais característicos. “Há, inclusive, um estudo publicado pela Universidade de Cornell, realizado por um grupo de arquitetos brasileiros e estrangeiros, que chega à mesma conclusão, ou seja, que o uso de fachadas duplas só apresenta maior eficiência para prédios situados nos estados mais ao Sul, Paraná inclusive, e dependendo do estudo de cada projeto”, diz ele.
UNITIZADA E VENTILADA
Existe uma solução intermediária estudada com bons resultados pelo consultor, para o fechamento de um edifício em São Paulo: “Ao invés de utilizar dois caixilhos paralelos como ocorre com a double skin, é usada uma única fachada em sistema unitizado, com um vidro instalado normalmente do lado externo. Pelo lado interno do mesmo caixilho é instalado um segundo vidro com espaço entre os vidros de cerca de 13 cm. Temos, então, um ‘duplo envidraçamento’ e entre os vidros são instalados os elementos de sombreamento – persianas ou telas de sombreamento, que resultam em maior eficiência, pois o sombreamento ocorre ‘fora do ambiente interno’. Da mesma maneira que na fachada dupla, essa câmara de ar entre os vidros tem que ser ventilada para se obter a eficiência energética e conforto desejáveis. Para isso, são calculadas entradas de ar através de rasgos na travessa inferior ou na junção dos meio montantes, característicos do sistema unitizado, o que resulta em caixilhos mais robustos do que o usual. Os mesmos rasgos se repetem na parte superior do painel no pavimento, para a saída do ar quente”, revela.
Segundo o consultor, a estanqueidade é garantida pelos dois envidraçamentos. “Além disso, a pressão existente na câmara entre os dois vidros é menor do que a pressão externa, o que dificulta a entrada da água, e a estanqueidade do envidraçamento interno é garantida. Essa é uma fachada que tem que ser bem projetada, executada e instalada, e é uma solução cara”, comenta.
A principal vantagem é que a transmissão térmica fica inibida pela câmara de ar. Além disso, qualquer elemento sombreador inserido no espaço entre os vidros está protegido das intempéries – ao contrário do que ocorre com o material instalado do lado externo do prédio - e do mal uso – comum quando instalado nos ambientes internos - “A persiana ou o rolô serão muito duráveis e mais eficientes, pois o calor não vai penetrar no ambiente”, diz Paulo Duarte. O estudo feito, no entanto, não se viabilizou no edifício em questão por uma dificuldade técnica, na época intransponível: “Numa fachada como essa, é preciso abrir internamente um dos vidros, como uma porta ou pelo sistema de tombar, para efetuar a limpeza. Nessa obra, cada quadro tinha 2,5 m de largura e qualquer solução ocuparia um grande espaço de abertura no ambiente. A tendência, hoje, de modulações cada vez maiores dificulta a adoção dessa solução”, comenta o consultor.
CERÂMICA E PEDRAS
A terceira possibilidade é identificada por Paulo Duarte como ‘soluções ventiladas’ e envolve uma fachada convencional opaca. “A mais tradicional que se tem no Brasil utiliza pedras naturais ou cerâmicas instaladas com as juntas abertas. É usado o chamado ‘sistema americano’ ou ‘granito preso no grampo’, em que se monta a fachada de pedras ou cerâmica afastada da parede convencional, com espaço entre 7 cm e 12 cm. Isso é feito instalando na estrutura do prédio várias ancoragens, geralmente em aço inox. Uma outra ferragem é fixada nessa ancoragem com ajustes para regular as distâncias. Os furos de fixação nas peças de cerâmica ou pedra são geralmente alongados, de forma a permitir a regulagem e alinhar as peças, dando planicidade à fachada. No granito, por exemplo, a ferragem prende a peça geralmente em cima e em baixo, encaixando-se em furos ou rasgos feitos no centro dos 30 mm da espessura das peças. No caso de cerâmicas, sendo mais finas, a fixação é feita com os ‘grampos’ que ficam aparentes nas juntas horizontais entre cada duas peças” explica.
As juntas não serão seladas para permitir a entrada do ar, tornando a fachada ventilada. “O ar vai penetrar no ambiente entre as paredes do prédio e o material que está dando o acabamento - essa câmara de ar se aquece, mas como é ventilada, o ar quente sobe e o ar fresco continua entrando pelas frestas das peças. “Essa solução cria, portanto, uma camada isolante térmica entre uma parede e a outra, reduzindo o calor que passa para dentro do prédio” , acrescenta Duarte.
O consultor conta que, atualmente, está sendo introduzida no país uma solução para fachada ventilada de cerâmica de terracota com tecnologia de extrusão – ao contrário da convencional moldada. É uma cerâmica grossa constituída por duas folhas de terracota unidas por interligações, o que já confere ao material um efeito isolante através desses vazios por onde o ar circula. Sua instalação na fachada pede uma estrutura de alumínio, onde as peças - dentadas em cima e embaixo - se encaixam no sentido horizontal. O ar penetra através das frestas horizontais, se aquece e busca saída pela parte superior. “É um sistema muito interessante e bem adequado às fachadas ventiladas. Seu custo é maior do que a da cerâmica convencional e a terracota é mais pesada”, diz Paulo Duarte.
Sistemas semelhantes podem ser empregados para o fechamento com painéis de ACM (alumínio composto), deixando-se as juntas abertas. Mas, a eficiência do material nesse caso é menor que a das cerâmicas e pedras naturais. “Há, atualmente, a penetração no mercado de outros produtos em placas, que podem utilizar sistemas de fixação semelhante, que permitem construir fachadas ventiladas. Alguns apresentam bom desempenho, porém é preciso cuidadosa análise dos produtos para sua adoção”, acrescenta o consultor.

Redação AECweb