Fibra ótica é tendência nas telecomunicações
Solução atende a crescente demanda por velocidade não só entre estados ou municípios, mas dentro das cidades. Porém, o processo de instalação requer estudos e cuidados
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Tendência no setor de telecomunicações, a fibra ótica tem capacidade infinita de tráfego de dados. “Anteriormente, essa tecnologia era mais utilizada em ligações de grandes distâncias, entre municípios ou estados. Porém, há alguns anos, ocorre a disseminação no uso da fibra ótica dentro das cidades. Essa solução está substituindo os cabos metálicos e, inclusive, conquistou grandes empresas prestadoras de serviços públicos. Fato motivado pela necessidade de ampliação da capacidade de banda larga, já que os links de cinco e dez megabytes não são mais suficientes para parte da população. A oferta de internet em velocidade compatível com a disponível na Europa ou no Japão – com cerca de 100 megabytes –, só é possível com a migração para a fibra ótica”, explica o engenheiro Carlos Frederico Valle Noyma, diretor da Integer Engenharia e Consultoria.
A fibra ótica é composta basicamente por filamentos extremamente finos fabricados a partir de vidro e revestidos por uma camada protetora. Dentro dos cabos acontece o tráfego de luz, que transporta as informações entre os dois pontos interligados. “Quando necessário, os cabos podem ser emendados através da fusão, ou seja, são aquecidos a determinadas temperaturas que possibilitam a união de duas fibras diferentes, permitindo a passagem do sinal. O problema é que nessa emenda há uma perda, da mesma maneira que ocorre perda de água ao unir dois canos”, afirma Noyma. Outro aspecto interessante é o tamanho da fibra ótica: enquanto um par com diâmetro semelhante ao de um fio de cabelo pode transmitir, simultaneamente, 2,5 milhões ou mais de chamadas telefônicas, um cabo de cobre com a mesma capacidade teria um diâmetro com cerca de 6 metros.
A semelhança entre os cabos metálicos e a fibra ótica está no processo de instalação, já que ambos são similares. “Há alguns anos, entre as principais dificuldades encontradas estava a falta de equipamentos que fizessem a transformação da luz, que trafega dentro da fibra ótica, em dados de informações compreendidos pelos aparelhos eletrônicos. Porém, hoje, esses dispositivos são produzidos em larga escala”, diz o engenheiro, destacando que a fibra ótica pode ser instalada na rede aérea, de maneira subterrânea e até submarina. “Os cabos submarinos apresentam algumas características, têm valores mais altos e são fabricados sob encomenda. Essa solução é usada para superar distâncias intercontinentais, ou então, através da costa. No Brasil, os cabos submarinos poderiam interligar Recife e Florianópolis através da faixa litorânea, porém o custo é alto, pois, além de ser um produto caro, a instalação é dispendiosa”, detalha.
Anteriormente, essa tecnologia era mais utilizada em ligações de grandes distâncias, entre municípios ou estados. Porém, há alguns anos, ocorre uma disseminação no uso da fibra ótica dentro das cidades. A solução está substituindo os cabos metálicos e, inclusive, conquistou grandes empresas prestadoras de serviços públicos, Carlos Frederico Valle Noyma
Já na rede aérea é possível instalar em torno de 2 km por dia. Nesse caso, os cabos vêm acondicionados em carreteis acomodados em um veículo que os carrega pelas ruas e o técnico consegue puxar somente o cabo para prendê-lo no poste. “A fixação pode acontecer de duas maneiras: com ou sem o uso de um cabo-guia, também conhecido como cordoalha, que é um fio de aço responsável por sustentar a fibra ótica entre os postes”, fala o profissional. Quando a cordoalha é utilizada, a fibra ótica é colocada rente ao cabo-guia e amarrada com arame. Logo após é usado um equipamento chamado espinadeira, cuja função é prender a fibra ótica e a cordoalha através de movimentos de rotação.
A fixação do cabo-guia no poste acontece com o uso de abraçadeiras metálicas, o que pode gerar problemas. “Tanto a cordoalha quanto a abraçadeira possuem componentes metálicos que, em caso de descargas elétricas ou curto-circuito, podem conduzir a corrente e causar dano na fibra ótica. Por isso, fabricantes desenvolveram um cabo que dispensa a cordoalha — nesse caso é usado um suporte dielétrico diretamente fixado no poste, em formato de sanduíche, constituído por duas partes que envolvem o cabo com uma superfície acolchoada”, ressalta Noyma.
A instalação da fibra ótica no subsolo também inspira cuidados. “É preciso avaliar o mapeamento da região, para identificar onde está a rede hidráulica, de gás e demais particularidades. Esse estudo pode ser feito de várias formas, porém é importante realizar mais de uma pesquisa, de maneira que a cobertura seja a mais completa possível”, comenta o engenheiro, indicando que o primeiro passo é a análise visual, no qual é possível identificar algumas válvulas de água ou do fornecimento de gás, indicador da existência de algum tipo de tubulação naquele local.
“Outro processo envolve a solicitação a cada concessionária de informações sobre redes no trecho onde será executada a obra. Trabalho que ainda pode ser realizado é o mapeamento através do uso de equipamentos responsáveis por fazer a varredura na superfície, identificando possíveis objetos e tubulações existentes no subsolo”, complementa o profissional. Após toda avaliação, os cabos de fibra ótica não podem ser enterrados diretamente no solo, devido ao risco de rompimento ou interferências no sinal e, por isso, torna-se necessária a utilização de dutos.
CASE ARENA CORINTHIANS
Entre as exigências da FIFA para as arenas que sediaram partidas do mundial de seleções, estava a comunicação eficiente. O manual “Estádios de Futebol — Recomendações e Requisitos Técnicos” — impõe a existência de rede IP com alta capacidade de tráfego para broadcast (vídeo e rádio), rede Wi-Fi, telefonia móvel indoor e outras demandas. Visando a segurança dessa infraestrutura, a FIFA exigiu, ainda, que os cabos de fibra ótica ligassem os estádios por dois caminhos diferentes. No caso da Arena Corinthians, um dos acessos é feito por terra e sem grandes dificuldades para instalação, mas do outro lado a situação é diferente, pois os cabos passam pelos viadutos que darão acesso viário ao estádio.
A fibra ótica pode ser instalada na rede aérea, de maneira subterrânea e até submarina. Os cabos submarinos apresentam algumas características, têm valores mais altos e são fabricados sob encomenda. Essa solução é usada para superar distâncias intercontinentais, ou então, através da costa. No Brasil, os cabos submarinos poderiam interligar Recife e Florianópolis através da faixa litorânea, porém o custo é alto
Os viadutos têm duas faixas de rodagem que chegam a quase 1 km de extensão em alguns pontos e usam barreiras new jerseys como sistema de proteção nas laterais. Nessas proteções, passam as tubulações para cabeamento elétrico e de telecomunicações, sendo que a tubulação para telecom tem entre 110 e 150 mm de diâmetro, o suficiente para passar até quatro subdutos rígidos de 32 mm cada. “O problema é que o tipo de construção das new jerseys não permitiu a passagem, por alguns trechos, de subdutos tradicionais, feitos em PEAD ou PVC. Isso porque a tubulação principal foi instalada com muitos pontos de curvatura, seguindo pela armação de ferro”, explica Noyma, também atuante nas obras de infraestrutura de telecomunicações em outros estádios que receberam jogos da Copa do Mundo.
Diante desse cenário, o profissional optou pelos subdutos flexíveis. Essa tecnologia norte-americana é novidade no Brasil e foi trazida para o território nacional pela empresa Redex Telecom. Entre as características desse material está sua força de empuxe de até 600 kg, o que se mostrou mais do que o suficiente para a situação na Arena Corinthians. “Tecnicamente, as operadoras de telecomunicações poderiam passar os cabos direto na tubulação principal. Mas isso certamente causaria um problema a partir do terceiro ou quarto cabo passado, pois eles se trançariam dentro da tubulação, impedindo a passagem dos demais. Por isso, instalar os cabos dentro dos subdutos flexíveis foi a melhor decisão tomada para executar o processo com a qualidade e a agilidade necessária”, relata Noyma.
O processo de instalação começou com o transporte e o posicionamento das bobinas com o subduto flexível na cabeceira do viaduto principal, onde há a caixa de passagem da tubulação. O subduto foi então amarrado em um fio guia, e puxado manualmente por cerca de 300 metros de cada vez. Após a conclusão desta etapa, os cabos de fibra ótica foram passados pelo viaduto sem maiores problemas.
Colaborou para esta matéria
- Carlos Frederico Valle Noyma – Engenheiro elétrico há 22 anos com ênfase em Eletrônica e Telecomunicações pelo INATEL. Trabalhou na implantação de sistemas de telecomunicações na Pirelli Cabos e na Promon. Em 2003, criou a Integer Engenharia, atuando em várias áreas (projeto, execução, gerenciamento) de empreendimentos públicos e privados. Participou ativamente de processos de revitalização e enterramento de redes aéreas na cidade de São Paulo. É consultor da Telcomp — Associação das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas — para assuntos de infraestrutura.