Fundação mal projetada é ‘raiz’ de problemas
A definição do tipo errado de fundação para as características geológicas do local, o subdimensionamento e a falta de capacidade técnica são os erros mais comuns
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
De um modo geral, as fundações se dividem em dois grandes grupos: as rasas ou superficiais, com execução próxima à superfície do terreno; e as profundas, compostas por estacas e tubulões. “A diferença principal entre estes grupos está na transferência das cargas advindas da superestrutura para o solo. As fundações rasas transferem a carga ao solo próximo à superfície do terreno, enquanto as fundações profundas transferem estas cargas ao longo da profundidade do solo”, define o professor Eduardo Dell’Avanzi, docente da Universidade Federal do Paraná.
Segundo o professor, a escolha da solução de fundação depende de três fatores principais: o tipo de solo, incluindo suas características de resistência e deformabilidade; as cargas provenientes da superestrutura, que dependem da concepção estrutural adotada pelo engenheiro durante o dimensionamento; e as magnitudes máximas de recalques, deslocamentos e distorções que a estrutura pode sofrer na sua vida útil. “Portanto, não há uma solução fechada de fundação para cada tipo de obra. Cada caso deve ser tratado de modo específico, sem generalizações”, comenta.
Investigação do solo
Para escolher a solução mais adequada, além de conhecer os esforços atuantes sobre a edificação e as características dos elementos estruturais que formam as fundações, é preciso estudar as particularidades do solo sobre o qual a obra será executada. Em alguns casos, esta avaliação se resume em sondagens de reconhecimento, porém, dependendo do tamanho da edificação ou se as informações obtidas não forem satisfatórias, outros tipos de pesquisas devem ser realizados.
Dentre as informações que precisam ser levantadas durante o estudo do solo estão o número de pontos de sondagem; seu posicionamento no terreno levando em consideração a posição relativa do edifício; profundidade a ser atingida; tipos de solo até a profundidade de interesse do projeto; condições de compacidade, consistência e capacidade de carga de cada tipo de solo; determinação da espessura das camadas e avaliação da orientação dos planos que as separam; e informação do nível do lençol freático. Estes dados servem de base técnica para a escolha do tipo de fundação da edificação que melhor se adapte ao terreno.
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Evitando problemas
Dell’Avanzi explica que é possível dividir os principais problemas que acontecem no processo de fundação entre os equívocos cometidos durante o projeto e aqueles que ocorrem na fase de execução. “A definição do tipo errado de fundação para as características geológicas do local, o subdimensionamento resultado de uma investigação do subsolo inadequada ou devido à deficiência de um projeto estrutural, e a falta de capacidade técnica (empirismo) são as principais causas dos problemas relacionados ao projeto”, afirma.
Já na execução podem ocorrer outros imprevistos, dentre os quais o docente destaca os erros na locação das fundações em campo, falhas de instalação, deficiência na qualidade dos materiais empregados, e também o empirismo. “Uma fundação realizada de maneira incorreta pode causar a ruína da edificação. A prevenção através de projetos bem elaborados e detalhados que são acompanhados da supervisão técnica de profissional devidamente habilitado é a principal alternativa, a fim de evitar que estes problemas aconteçam”, alerta o professor.
Caso a prevenção não seja realizada adequadamente e seja constatado qualquer indício de problemas durante a execução da fundação, o docente comenta que é possível remediar a situação. “Quando verificada dificuldade de desempenho, geralmente os serviços de reparo envolvem o reforço das fundações. Já em caso de problema relacionado à localização, a solução é a realização de novas fundações no local certo, com uma reanálise da estrutura e da fundação quanto aos novos esforços”, esclarece.
Para que o processo de fundação transcorra normalmente, outra medida necessária é o cumprimento das normas técnicas. “Entre as principais é possível destacar a ABNT NBR 6122 – Projeto e execução de fundações –, a ABNT NBR 9061 - Segurança de escavação a céu aberto, e a ABNT NBR 11.682 Estabilidade de Taludes. Sempre lembrando que toda a cadeia, desde o projeto até a execução, tem influência direta na qualidade final da fundação”, finaliza Dell’Avanzi.
Colaborou para esta matéria
- Eduardo Dell'Avanzi – Doutor em Civil Engineering - Environmental Geotechnics pela University of Colorado at Boulder. Atualmente, ocupa o cargo de professor adjunto na Universidade Federal do Paraná, além de ser revisor do periódico da ASTM - American Society for Testing and Materials. Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em geotécnica, atuando principalmente nos seguintes temas: análise de fluxo, modelagem em centrífuga e solos não saturados.