Entenda o que é radier na construção civil
Considerado uma fundação rasa ou direta, radier é bastante utilizado tanto em casas térreas como em edificações assobradadas de pequeno porte
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Apresentando como característica principal a distribuição uniforme de toda a carga da edificação no terreno, a fundação radier é geralmente usada para casas térreas ou sobrados de menor porte. “É desejável que os empreendimentos apresentem dimensões (comprimento, largura e altura) com as mesmas ordens de grandeza, permitindo comportamento de corpo rígido”, explica o engenheiro Sérgio Murari Ludemann, sócio-diretor da Ludemann Engenheiros Associados.
Classificada como rasa ou direta, a fundação radier se apóia diretamente na superfície do solo. É composta por lajes de concreto armado que abrangem toda a projeção da edificação. Mas, como alerta o especialista, não deve ser especificada para estruturas em que as cargas se concentrem em pontos de apoio isolados. “A restrição acontece porque dificilmente se conseguirá transmitir esses esforços de maneira uniforme”, afirma Ludemann.
A alternativa também não pode ser aplicada em edificações verticais que apresentem comprimento excedendo mais de duas vezes a largura. “Nesses casos, será difícil conseguir o efeito de corpo rígido. E, em função das características de deformabilidade do terreno de apoio, poderá ser tecnicamente inviável o enrijecimento do radier para que possa haver uma distribuição uniforme dos esforços ao solo de apoio”, detalha o engenheiro.
Entre as vantagens das fundações radier, estão o baixo custo se comparado às sapatas corridas; menor tempo de execução; e redução de mão de obra. Por outro lado, a principal desvantagem ocorre quando é preciso complementar a resistência do radier para suportar as cargas que atuam sobre a laje. Essa necessidade acaba aumentando o volume de concreto utilizado, tornando a solução mais cara e difícil de ser executada.
Onde usar radier?
Para que as fundações rasas ou diretas sejam tecnicamente viáveis, o terreno precisa atender a, pelo menos, duas condições básicas. “A primeira é a de que o solo de apoio apresente capacidade de carga adequada aos esforços previstos”, fala Ludemann. Já a segunda é a de que as alterações previstas no subsolo sejam compatíveis com as deformações aceitáveis para a estrutura em seu estado limite.
A área que receberá a edificação pode estar sujeita a recalques por adensamento, quando o solo é mole, ou por colapso, em caso de terrenos porosos. Se essas condições forem constatadas, a fundação radier eventualmente poderá ser aplicada. Porém, exige elaboração de projetos geotécnicos específicos – fundamental para evitar o risco de colapsos futuros. “E o processo executivo será bem mais complexo do que aquele que ocorre com terrenos competentes”, diz o engenheiro.
Armaduras para fundação radier
Tanto a tipologias das armaduras quanto o espaçamento entre elas dependem das particularidades de cada obra. O dimensionamento estrutural do radier é realizado pelo engenheiro calculista de estrutura, com base nas informações fornecidas pela equipe geotécnica. Entre os dados, estão os parâmetros de resistência e de deformabilidade do solo.
Como a ideia da solução é que as cargas aplicadas pela estrutura sejam uniformemente distribuídas ao solo, em geral, os reforços se encontram sob as paredes. A localização permite que as cargas aplicadas possam migrar para as áreas adjacentes e, assim, promover a repartição dos esforços. “Nesse quesito, porém, generalizações podem não ser adequadas. É preciso elaborar um projeto para cada caso”, ressalta Ludemann.
Execução da fundação radier
Quando o subsolo atende aos requisitos mínimos, o processo construtivo é bastante simples. Basicamente, resume-se a regularizar o terreno e concretar o radier. “As etapas construtivas podem ser resumidas em: escavar o terreno até a cota de implantação, garantindo o nivelamento correto; lançar um lastro de concreto magro (espessura mínima de 5,0 cm), a fim de evitar contaminações indesejáveis; e concretar o radier, seguindo as especificações do projeto”, orienta o especialista.
Antes de começar o procedimento de execução, um dos cuidados principais é que a equipe de topografia verifique se o solo está rigorosamente nivelado. Em caso negativo, precisam ser realizados ajustes no solo antes de iniciar os trabalhos com a fundação. Entre os equipamentos utilizados no procedimento estão a bomba ou jerica, empregadas no lançamento do concreto.
Os sistemas hidrossanitários e elétricos devem ser assentados no solo sob o radier, contando com saída através da laje. Com isso, evita-se que sejam realizados cortes na laje e, portanto, que haja retrabalho. “As características do concreto são definidas no projeto estrutural do radier, atendendo às normas ABNT NBR 6118 — Projeto de estruturas de concreto — Procedimento — e ABNT NBR 6122 — Projeto e execução de fundações”, finaliza Ludemann.
Colaboração técnica
- Sérgio Murari Ludemann – Engenheiro Civil pelo Instituto de Ensino de Engenharia Paulista (IEEP), tem pós-graduação em Geotecnia pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. É sócio-diretor da Ludemann Engenheiros Associados, atuando na prestação de serviços de consultoria e elaboração de projetos em geotecnia, pavimentação, terraplenagem, estradas, hidrologia e hidráulica.