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Gestão da frota de caminhões-betoneira pede atenção aos detalhes

Entre os cuidados estão a manutenção realizada em função da quantidade de horas trabalhadas, a preparação adequada dos motoristas e o respeito à vida útil das peças

Publicado em: 30/07/2021Atualizado em: 04/08/2021

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Frota caminhão-betoneira
Existem diversas variáveis para se considerar na boa gestão da frota de caminhões-betoneira (Foto: iwciagr/Shutterstock)

Realizar a gestão dos caminhões-betoneira que abastecem o canteiro é trabalho que exige cuidado e atenção. Além de calcular a quantidade necessária de veículos, a equipe responsável pelo gerenciamento da frota precisa organizar a logística de entregas de modo a suprir a demanda da obra por concreto. Nessa equação, ainda entram outras variáveis, como a manutenção dos automóveis e o atendimento à legislação e às normas vigentes.

A definição do número adequado de caminhões passa pela análise de diferentes fatores. Por exemplo, se o transporte será feito somente dentro do canteiro ou se o veículo terá que atravessar trechos urbanos. “Nesse segundo caso, entra a imprevisibilidade do trânsito”, destaca o engenheiro Jairo Abud, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem (Abesc).

Principalmente nas grandes metrópoles, o fluxo intenso de automóveis pelas ruas e avenidas tem potencial de limitar as viagens realizadas pelo caminhão-betoneira. “O veículo consegue levar 8 m³ de concreto. Caso realize o trajeto três vezes por dia, ao final do mês terá carregado em torno de 450 m³", estima o engenheiro, lembrando que o tempo de descarga também precisa fazer parte dessa operação matemática.

Atualmente, as concreteiras têm à disposição sistemas de programação automáticos e dinâmicos. Com o apoio do GPS, a tecnologia é capaz de ajustar o caminhão para realizar ou não uma nova entrega. “Essa solução é mais comum nos centros urbanos maiores, em que o trânsito costuma ser constante”, conta o especialista.

Para escolher o modelo ideal, é verificado o tipo de obra e as características da peça que será concretada, entre outras informações
Jairo Abud

Quando o caminhão-betoneira se desloca somente dentro do canteiro, a logística tende a ser mais fácil. “A simples eliminação do trânsito aumenta a produtividade entre 50 e 60%”, afirma Abud. Nesses casos, é possível optar por veículos com capacidades maiores, chegando a até 10 m³. “Para escolher o modelo ideal, é verificado o tipo de obra e as características da peça que será concretada, entre outras informações”, complementa.

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Legislação

Além das tradicionais leis de trânsito, o caminhão-betoneira precisa atender a algumas regras específicas. Entre elas, está o peso bruto total combinado, ou seja, a soma dos pesos do veículo e da carga transportada não pode exceder determinados valores. Caso contrário, a empresa dona do veículo é passível de multa. A quantidade de eixos é outra característica a ser observada: quando o caminhão está abastecido com 8 m³ são necessários quatro eixos. “Veículos com três eixos podem ser usados desde que o volume de concreto na betoneira seja menor”, afirma o engenheiro.

O correto preparo dos motoristas é fundamental para evitar acidentes. Por se tratar de carga pesada, esse profissional tem que ser habilitado em direção defensiva e conhecer o tipo de equipamento que está guiando. “As movimentações não são como aquelas típicas de outros caminhões. A rotação do balão da betoneira faz com que os movimentos de curva sejam muito mais acentuados”, exemplifica Abud, ressaltando que nunca se deve deixar a betoneira parada para depois acioná-la rapidamente, pois isso pode fazer o caminhão tombar.

Manutenção

A frequência de manutenção dos caminhões-betoneira não é a mesma se comparada com os veículos convencionais. Isso porque, ao invés de quilometragem, as inspeções acontecem em função das horas trabalhadas. “Enquanto o caminhão rodoviário passa pela troca de óleo e verificação das peças a cada determinada distância percorrida, a betoneira tem um horímetro que indica quando a manutenção deve ser realizada”, explica o especialista.

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A betoneira precisa ser periodicamente engraxada e receber a troca de óleo hidráulico — responsável por lubrificar o sistema que a movimenta
Jairo Abud

O motivo dessa diferença está no fato de o caminhão-betoneira passar muito tempo parado, mas com o motor em funcionamento. Já os cuidados mecânicos são praticamente idênticos aos dos demais caminhões. “A betoneira precisa ser periodicamente engraxada e receber a troca de óleo hidráulico — responsável por lubrificar o sistema que a movimenta”, adverte o engenheiro.

Com o passar do tempo, há o desgaste natural das peças da betoneira e existem sinais que podem ser visualmente observados quando algumas delas apresentam problemas. “Caso comece a vazar a nata do concreto, é um indicativo que aponta para a necessidade de reforma da betoneira”, diz o especialista. Depois de usados, os caminhões passam pelo processo comum de lavagem da cabine e rodas.

Durante a limpeza, os restos de concreto que podem ter ficado no interior da betoneira são colocados em um reciclador para que grande parte desse material seja reaproveitada. “Existem normas técnicas que informam quando ele poderá ou não ser reutilizado. Os agregados também retornam para a concreteira, o que evita a geração de resíduos e sua destinação para os aterros”, fala Abud.

Vida útil

A vida útil do caminhão não é a mesma da betoneira. Enquanto o veículo trabalha entre cinco e dez anos — dependendo de como a manutenção é realizada —, a betoneira produzida em aço carbono mantém sua qualidade até transportar cerca de 24 mil m³ de concreto. Ultrapassado esse volume, é recomendada a troca do equipamento.

“A Abesc está desenvolvendo um novo tipo de betoneira, em aço inox. Normalmente, o equipamento em aço carbono tem 4,65 mm de espessura. Nesse projeto, verificamos que uma espessura de 3,5 mm de aço inox consegue aumentar a vida útil em 50%. Se for usado o tamanho convencional, de 4,65 mm, a durabilidade da betoneira de aço inox será o triplo em relação àquela feita em aço carbono”, detalha o engenheiro.

O caminhão ultraleve, fruto da colaboração entre a associação e a Aperam – empresa especializada em aço inoxidável –, foi mostrado na edição de 2019 da Concrete Show. “Conseguimos reduzir em 1,1 tonelada o peso do balão e em 1,3 tonelada o do caminhão — isso equivale a 1 m³ de concreto”, conta Abud. Com essa diminuição, o veículo pode contar com motor e peças mais leves, assim como sistema de freios com maior eficiência por estar transportando 2 toneladas a menos.

“A expectativa é de economia de 3,6 litros de diesel por viagem. Como a vida útil do veículo é estimada em mais de 40 mil m3 transportados, a redução é significativa”, menciona Abud, informando que a novidade deve ser lançada no início de 2020. “Mesmo com a série de benefícios, o valor é semelhante ao dos caminhões-betoneira tradicionais”, finaliza.

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Colaboração técnica

Jairo Abud
Jairo Abud — Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal de Uberlândia e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas. Atua no setor de concreto desde 1980 e trabalhou em diversas empresas deste mercado. É o atual presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem (Abesc).