Iluminação bem planejada garante conforto visual e relaxamento
É fundamental que o projeto de iluminação seja iniciado a partir das definições do anteprojeto de arquitetura e tenha participação do light designer. Entenda mais<br>
CIEE, projeto de Cristiana Maluf
Redação AECweb
“O espectro da luz altera o metabolismo humano, afeta o humor e a saúde". A afirmação foi feita em agosto último pelo professor norte-americano Mark Rea, diretor do Rensselaer Polytechnic Institute, no II Fórum Latino Americano de Iluminação da AsBAI – Associação Brasileira de Arquitetos de Iluminação. Descoberta recente da ciência, a produção de melatonina – hormônio responsável pela regulação do ciclo biológico do homem – é inibida por células fotoreceptoras da retina quando há maior incidência de comprimentos de onda azul na luz.
“Se ficamos expostos por maior tempo à iluminação de cor branca, por exemplo, em cuja composição tenha maior quantidade de raios com este comprimento de onda, teremos uma produtividade muito maior. Por outro lado, se utilizarmos este tipo de iluminação à noite, a produção da melatonina será retardada, alterando o momento de relaxar e, em conseqüência diminuindo a nossa noite de sono”, explica a lighting designer Cristina Maluf, presidente da AsBAI. Segundo ela, é importante que no final da tarde a iluminação seja como a do por-do-sol, mais amarelada, que é a referência do nosso arquivo biológico e que indica que é hora de ir para casa descansar. “Atualmente, existe a tendência de reproduzir esta situação em ambientes corporativos, principalmente em locais fechados onde não há incidência da luz natural. Isto é possível através da instalação de reatores dimerizáveis e lâmpadas fluorescentes com temperaturas de cor diferentes”, explica.
Essa é uma situação sofisticada, em que salta aos olhos a importância do projeto de iluminação. Regra geral, o projeto atende o conforto, segurança e bem-estar dos ocupantes de um edifício, além de ajustar-se às exigências de eficiência energética. “O papel da iluminação tem se fundamentado, cada vez mais, ao seu caráter visual aliado ao técnico e funcional, onde um não mais subsiste sem o outro”, diz a arquiteta especializada em luminotécnica, Neide Senzi, que acrescenta: “A iluminação tem uma relação intrínseca de adequação à identidade visual e ao partido adotado pela arquitetura”.
Prédio CCBB, projeto de Neide Senzi
Para Cristina Maluf, em projetos residenciais, a iluminação planejada de forma adequada fornece conforto visual e proporciona relaxamento. “Calculada para os espaços de trabalho, de acordo com as normas técnicas e conforme a iluminância para os diversos tipos e complexidade das atividades, a iluminação bem planejada pode proporcionar resultados como o aumento da produtividade, a redução do consumo de energia e de manutenção, o que contribui para o aumento da lucratividade de uma empresa ou aumento do volume de vendas de um estabelecimento comercial”, expõe.
O PROJETO
O lighting designer ainda é pouco convocado para a maioria dos projetos do mercado. A razão estaria, segundo a presidente da AsBAI, na falta de informação de quem é o profissional adequado, ou, do que é um projeto de iluminação correto. “O contratante perde a oportunidade de ter um bom resultado na iluminação e nem sempre o consumo de energia vai atender aos níveis exigidos atualmente para projetos sustentáveis, além de proporcionar beleza e bem estar aos ocupantes”, comenta. A informação de Neide Senzi é de que “cresce exponencialmente a participação dos arquitetos de iluminação nos mais importantes e renomados projetos, devido a sua aceitação de parceria, responsabilidade e dos resultados apresentados”.
Para potencializar os bons resultados a que as arquitetas se referem, é fundamental que o projeto de iluminação seja iniciado a partir das definições do anteprojeto de arquitetura. “Isto porque vai interagir na definição do forro, nos projetos complementares de elétrica, ar condicionado e sprinklers. O projeto de luminotécnico vai participar da definição dos materiais de acabamento e cores, conforme as necessidades quanto ao baixo consumo. E, ainda, definirá os detalhes de fachada, quando é necessário prever a posição dos equipamentos de forma integrada aos elementos arquitetônicos”, ensina Cristina Maluf. “Dessa forma, o projeto será mais equalizado, com ótimos resultados, tanto em efeito, quanto no visual da luz”, acrescenta Senzi.
Loja da TIM, projeto de Neide Senzi
Fatores como hábitos e cultura, e a incorporação de tecnologias ao cotidiano das pessoas interferem no projeto de iluminação do ambiente. ‘Até mesmo a localização geográfica afeta a forma e os equipamentos a serem especificados”, diz Cristina Maluf, exemplificando: no nordeste, onde faz muito calor, a iluminação deve ser mais branca e, nas regiões frias, mais amarelada para dar sensação de aconchego, principalmente em ambientes residenciais. Senzi complementa, lembrando que “a luz tem que conversar com os vários elementos que compõem a arquitetura para passar interação, harmonia e entrosamento visual e emocional”.
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
A maior eficiência energética da iluminação é meta constante dos profissionais em seus projetos. A presidente da AsBAI revela que essa busca está, tanto na especificação dos equipamentos e definições de utilização, como também na integração dos sistemas de iluminação artificial e natural, através do uso de equipamentos para controle da iluminação e gerenciamento de energia. Neide Senzi ressalta que o acesso às mais modernas tecnologias disponíveis no mercado tem levado o desenvolvimento do projeto luminotécnico a um status de ‘state of the art’, com alto grau de complexidade e responsabilidade. “Sabemos dos altos custos de manutenção e de energia a que se submetem os clientes no período pós-instalação, portanto, o uso de recursos sustentáveis tem se tornado ferramenta imprescindível para o bom projeto”, diz.
Parque do Povo, projeto de Neide Senzi
Ela destaca algumas dessas tecnologias: luminárias com alto controle de ofuscamento, alto rendimento, bom design; a possibilidade da utilização das mais inovadoras lâmpadas, caracterizadas pelo baixo consumo, bom índice de reprodução de cores e elevada vida útil; os reatores, que proporcionam alta eficiência do sistema, reduzindo substancialmente os custos operacionais; e as novas tecnologias como os LEDs. “As fontes de luz estão cada vez mais eficientes e com melhor reprodução de cores. Também estão com as suas dimensões mais reduzidas, o que resulta num design mais bonito dos equipamentos, que são integrados à arquitetura com maior facilidade”, comenta Cristina Maluf.
Restaurante Hashi, Cristiana Maluf
A integração da iluminação artificial e da natural pode ser feita, segundo ela, através do uso de controles de iluminação ou automação. “Usamos sensores instalados próximos às janelas que captam a intensidade variável da luz natural e comandam um determinado número de luminárias. Os sensores dimerizam as fontes de luz incandescente ou de descarga, através de reatores”, explica. E conclui, citando dois projetos brasileiros premiados pela IALD – Internacional Association of Lighting Design: da Estação da Luz, em São Paulo, de autoria do escritório Franco & Fortes Lighting Desing; e o da Igreja da Pampulha, com projeto de iluminação do LD Studio.
Parque do Carandiru, projeto de Neide Senzi
Redação AECweb
COLABORARAM PARA ESTA MATÉRIA
Maria Cristina Maluf Gardolinski - formou-se em arquitetura em 1975 pela UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Desde 1989 trabalha com iluminação arquitetural e participa, desde 1997, de seminários e workshops e cursos no exterior. Foi responsável pela idealização e organização dos eventos Lighting World em 1998 e Mundo da Luz em 1999, ambos no Rio Grande do Sul. Desde 2006, ministra o módulo de Iluminação Artificial no curso de Pós Graduação em Arquitetura de Interiores, cadeira de Conforto ambiental – Luminotécnica, pela Faculdade Ritter dos Reis, em Porto Alegre. É membro fundadora da AsBAI, onde atuou como diretora de Relações Sociais, como Diretora de Relações Culturais e como Presidente para a gestão 2008/2009. É autora de diversos projetos de iluminação da área residencial, comercial e industrial, no Brasil e alguns residenciais no Uruguai e Alemanha.
Neide Senzi - Especialista em Luminotécnica, atua na área desde 1992. É sócia-presidente do escritório Senzi Consultoria Luminotécnica S/C Ltda. Participou do curso especial de ‘Architectural Lighting’ na Penn State University, USA. Docente especialista no curso de Pós Graduação Lato Sensus - Projetos Luminotécnicos da Faculdade Castelo Branco de Brasília e UNICSUL de São Paulo. Participação no workshop de Iluminação Cênica do Cirque dSoleil em Las Vegas/USA – Novembro- 1997. É membro da IES - Illuminating Engineering Society of North America, desde 1994; PLDA – Professional Lighting Designer Association; AsBEA – Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura. É membro fundadora da AsBAI – Associação Brasileira Arquitetos de Iluminação. E autora do livro ‘Imagens da Luz” pela Editora J.J. Carol lançado em abril de 2006, em Frankfurt – Alemanha.