Iluminação de estádios deve ser homogênea, sem sombras ou ofuscamento
A quantidade de lux precisa ser igual em todas as partes do gramado. A luminância no plano vertical acima de dois mil lux e, no horizontal, superior a 3,5 mil lux
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Para que as grandes estrelas do futebol ‘brilhem’ nos gramados brasileiros durante a Copa do Mundo de 2014 é imprescindível que as arenas esportivas tenham um bom sistema de iluminação. Além de garantir que a partida transcorra sem a criação de sombras dentro do campo, ofuscamento e problemas para identificação dos atletas, os projetores e lâmpadas instalados em um estádio devem proporcionar luz suficiente para jogadores, torcida e transmissão pelas emissoras de televisão. É importante, também, que a iluminação excessiva fique contida na arena, sem causar impacto na vizinhança .
A arquiteta Lilian de Oliveira, estudiosa de tecnologia e gestão de estádios esportivos, e titular do escritório Lilian de Oliveira Arquiteta, explica que, por suas variadas funções, o sistema de iluminação engloba diferentes aspectos. “Não basta pensar apenas na iluminação do campo. Também é preciso prever as áreas convencionais, como as administrativas, e a cênica, que valoriza a arquitetura do estádio. Para um projeto ser completo, deve considerar o interior e o entorno da arena, com boa sinalização no acesso e direcionamento claro, para que o público se disperse com facilidade em caso de emergência”, detalha.
Fachada e ambientes internos
“Na iluminação cênica é muito comum trabalhar com cores. Uma alternativa é o uso de LED. Entretanto, esta solução tem custo um pouco elevado no Brasil, quando comparamos com outros países”, afirma Lilian, que exemplifica: “Em Munique, na Alemanha, a Allianz Arena tem iluminação interativa da fachada e varia de cor conforme o time que está jogando”.
Nos camarotes e setores VIP, a iluminação deve ser mais aconchegante a fim de proporcionar o conforto que o público exige. “São áreas que normalmente não são atendidas pelo gerador, mas que perdem muito em caso de falta de eletricidade, prejudicando a visualização do espectador que pagou mais caro o ingresso”, alerta Lilian. Já nos locais de circulação de público, um detalhe importante são as luminárias de incêndio que devem acender quando faltar energia ou ocorrer qualquer outro problema. “Essas lâmpadas são específicas e operam com indicação de saída. Além disso, os corredores podem ter parte da luz ligada a um gerador, de maneira alternada, para garantir uma iluminação mínima”, comenta.
A arquiteta destaca que, nos vestiários, a iluminação é básica, com luzes fluorescentes. “Em um caso ou outro, detalhes são colocados, criando uma atmosfera mais interessante para o conforto de atletas e visitas guiadas. Porém, o mais comum é um sistema simples que ilumine adequadamente o ambiente. A ressalva é que ambos os vestiários, tanto do time da casa quanto do visitante, devem ser iguais, sem privilegiar ou prejudicar uma das equipes”, afirma.
Na área destinada à imprensa, a iluminação também é comum. “Nesse setor, a grande preocupação é com a parte elétrica, já que é onde serão usados equipamentos como computadores e câmeras. É uma região que necessariamente deve ser abastecida por geradores”, diz a profissional.
Dentro de campo
Como em todo espetáculo, onde o palco tem iluminação diferenciada, nos estádios de futebol não é diferente. No campo de jogo, a grande exigência é manter uma quantidade de lux igual em todas as partes do gramado, evitando sombras e garantindo uma boa experiência visual aos torcedores e a qualidade da transmissão televisiva. “Existem pontos estratégicos e comuns para o posicionamento das câmeras que precisam ser previstos em projeto. Esses locais devem receber a quantidade de luz necessária para o funcionamento correto dos equipamentos das equipes de TV”, explica Lilian.
Os níveis de luminância são exigidos conforme o tipo de evento que o estádio recebe. Considerando arenas que comportam jogos internacionais, há duas luminâncias que precisam ser checadas: no plano horizontal e no vertical. “Para o horizontal, medido a um metro do gramado e em pontos que formam uma malha de 10m x 10m, deve ser atingida uma luminância acima de 3,5 mil lux. Já no vertical, atingindo toda a superfície de um jogador, deve ter acima de dois mil lux. Esses valores também garantem a qualidade de vídeo, mesmo em detalhes de jogadas”, esclarece a profissional.
Outra questão que merece atenção especial é o ofuscamento. O sistema de iluminação não pode atrapalhar a visão dos jogadores, principalmente dos goleiros. Por isso, alguns ângulos para instalação dos equipamentos na cobertura devem ser evitados e algumas alturas respeitadas.
A FIFA detalha estas informações no manual de regulamentos e requerimentos. No documento, muita coisa sobre iluminação é definida, não só para a qualidade do evento, mas também para a excelência dos jogos. “Quanto mais as diretrizes forem seguidas, maior será o conforto e a eficiência do estádio, além de baratear o custo”, enfatiza Lilian.
RecomendaÇÕes da FIFA
De acordo com o manual da FIFA sobre o tema, a luz que ilumina o gramado é proveniente de refletores que têm a altura determinada pelo ângulo formado sobre a linha horizontal do campo. Deve ser respeitado um ângulo mínimo de 25º do meio do campo de jogo até o ponto final da arquibancada. Essa abertura pode ser variável, mas não deve ultrapassar 45º. Outra questão importante são as estruturas da cobertura, que não podem obstruir a luz dos refletores.
Os refletores não podem estar em uma área de 15º para dentro ou fora da linha de fundo do gramado, isso para garantir boas condições visuais do goleiro e atacantes no momento da cobrança de escanteio. A região atrás das traves também tem que ficar sem projetores de luz, que não devem ser dispostos dentro de um ângulo de 20º para fora do campo a partir das linhas laterais e acima da linha de horizonte.
A FIFA também estipula a quantidade máxima de lux que pode vazar para a região ao redor do estádio sem causar impactos negativos, tanto na segurança dos pedestres e motoristas quanto para impedir desperdícios. Os projetos devem considerar projetores eficientes e com corte na difusão aleatória de luz. A evasão da luminosidade pode ser medida e os valores são expressos em iluminamento horizontais e máximos verticais. Os limites expressos no relatório são:
Ângulo de iluminação | Distância do perímetro do estádio | Lux |
---|---|---|
Escape Horizontal | 50m do perímetro do estádio | 25lux |
Escape Horizontal | 200m mais longe | 10lux |
Máximo vertical | 50m do perímetro do estádio | 40lux |
Máximo vertical | 200m do perímetro do estádio | 20lux |
A escolha das lâmpadas para os refletores é baseada em alguns fatores: luminosidade de saída, tempo de vida útil, consumo de energia, índice de reprodução e temperatura de cores. O produto escolhido deve ter um balanço entre estes itens para garantir a eficácia do sistema de iluminação. Também são importantes os equipamentos auxiliares, que têm a função de ascender corretamente as lâmpadas e manter o fluxo luminoso constante ao longo do tempo.
SeguranÇa e tecnologia
Geralmente, os estádios contam com geradores potentes, mas que não abastecem toda a estrutura. As áreas funcionais (vestiários, telão, imprensa, parte dos corredores e equipamentos de segurança, como alarmes de incêndio) são as que precisam estar inclusas. “O gerador deve entrar em ação imediatamente quando a luz faltar. Mesmo assim, há um tempinho sem energia, mas bem rápido. O equipamento deve ser capaz de sustentar a parte funcional do estádio por cerca de, pelo menos, três horas. Algumas localidades, como o campo de jogo, entram em Sistema de Alimentação Ininterrupta (UPS) com abastecimento secundário”, detalha a arquiteta.
Ela cita, por exemplo, um fato ocorrido durante a Copa do Mundo de 2010, realizada na África do Sul: “em uma das partidas no estádio Ellis Park, em Johannesburgo, faltou energia e alguns sistemas foram prejudicados, como o do setor VIP, dos camarotes, um telão e as catracas, o que gerou problemas de segurança entrando mais espectadores do que deveria. Sem dúvida, o público não gostou e a imagem do país e do estádio foi ferida”.
Para evitar problemas deste tipo uma das alternativas é sempre optar por equipamentos de boa qualidade e tecnologia. Na Copa de 2014, a promessa de uma iluminação superior deve vir do estádio do Corinthians, que promete superar todos os quesitos estabelecidos pela FIFA. Inclusive fornecendo iluminação de campo e torcida para uma transmissão 3D de extrema qualidade 360º.
“Tecnologias mais modernas unem cada vez mais um maior rendimento energético com menos gastos. Às vezes, os custos iniciais são caros, desanimando investidores, mas a médio e longo prazo valem muito a pena”, menciona Lilian sobre as soluções para maximizar a eficiência energética de um grande projeto de iluminação de estádios. “Um exemplo é usar o LED nas fachadas, pois gera uma economia significativa. Além disso, quanto mais essa tecnologia for usada no Brasil, mais rápido terá seu custo reduzido”, complementa.
COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA
Lilian de Oliveira– Graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, atua como arquiteta autônoma no escritório Lilian de Oliveira Arquiteta. Tem experiência em diversas áreas como restauro, arquitetura residencial e comercial. Também realiza estudos na área de arquitetura esportiva sobre o qual mantém o blog Gol da Arquitetura.