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Individualização de hidrômetros reduz consumo de água em até 47%

Do ponto de vista financeiro, a economia na conta chega a 60% em condomínios, incluindo o desconto oferecido pelo governo de São Paulo para quem diminui o gasto

Publicado em: 14/07/2015

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

A instalação de hidrômetros individuais em condomínios residenciais é solução que reduz a quantidade de água usada pelos moradores. A economia, levando em consideração o volume consumido, varia entre 25% e 47%. “Financeiramente, em alguns casos, a diminuição dos valores na conta chega a 60%, incluindo o desconto oferecido pelo governo de São Paulo para quem consegue reduzir o consumo”, afirma Marco Aurélio Teixeira, gerente de Negócios da CAS Tecnologia.

Mesmo com os números positivos, dos cerca de 38 mil condomínios existentes na capital paulista, 85% não contam com hidrômetros individuais nem estão preparados para receber o equipamento. Mas com a crise hídrica que atinge a região sudeste do Brasil, teve início uma mudança cultural da sociedade, que passou a perceber a água como um bem limitado. Mesmo com o esforço de parte da população, não foram todos que reduziram o consumo, e a maioria que manteve ou aumentou a média são exatamente os edifícios residenciais.

“A equação pode ser explicada pela ausência da medição individual, que auxilia o morador a ter consciência do seu perfil de consumo. É comum a pessoa se assustar ao receber pela primeira vez a informação do volume de água utilizado. A surpresa é ainda maior para aqueles que se mudam de casa para prédio com medidores individualizados, pois percebem que estão consumindo mais água no apartamento do que na residência, onde lavavam o quintal ou regavam o jardim”, destaca Teixeira.

CONSUMO DE ÁGUA X TIPOLOGIA DE EDIFICAÇÃO

De acordo com Teixeira, os números resultam da própria tipologia de cada edificação. “As residências térreas contam com caixas d’água que as abastecem por gravidade. Uma capacidade de mil litros é distribuída pela casa através da tubulação de três quartos, o que resulta em baixa pressão. Nessas casas, os chuveiros normalmente são elétricos e têm controladores de vazão para que a água não atravesse o equipamento com muita força e acabe danificando a resistência elétrica”, explica.

Por falta de conhecimento, ao se mudar da casa para o apartamento, as pessoas se surpreendem com a força da água do banho. Porém, não sabem que os chuveiros chegam a ter vazão de até 40 litros por minuto. Em um banho de dez minutos, serão consumidos 400 litros de água
Marco Teixeira

Nos prédios, a caixa d’água tem entre 20 e 30 mil litros e a tubulação é de uma polegada e meia ou duas, o que resulta em forte pressão. “Quando existem mais de 10 andares, há válvulas redutoras de pressão para segurar essa força e impedir que a tubulação estoure. Em apartamentos, é comum a presença de aquecedores de passagem e a substituição do chuveiro pela ducha. Por falta de conhecimento, ao se mudar da casa para o apartamento, as pessoas se surpreendem com a força da água do banho. Porém, não sabem que os chuveiros chegam a ter vazão de até 40 litros por minuto. Em um banho de dez minutos, serão consumidos 400 litros de água”, detalha.

O especialista deixa claro que, em apartamentos, o principal vilão no consumo de água é o chuveiro, e a redução decorre da consciência de cada um. “São dois fatores que pesam: estar lidando diretamente com o bolso e a mudança de hábito. A somatória de ambos reflete em menor entrada de água no condomínio e gera economia muito significativa”, diz Teixeira, avaliando que a instalação de hidrômetros individuais depende tanto da construtora responsável pela obra, quanto do síndico.

O QUE É PRECISO PARA A INDIVIDUALIZAÇÃO?

“Um dos grandes obstáculos para individualização da medição é que as construções com mais de dez anos foram concebidas com colunas de água separadas. Por exemplo, o projeto do apartamento previa uma coluna para o banheiro, outra para a suíte, uma terceira para área de serviço e a última para a cozinha. Os pontos eram separados para alimentação e embutidos dentro da alvenaria. Esse sistema dificulta a implantação da individualização”, explica Teixeira, lembrando que os empreendimentos mais recentes já são preparados para receber o medidor individual.

Para isso, há única coluna de água. A tubulação desce na vertical e, depois, corre na horizontal por dentro do apartamento, distribuindo a água para todos os ambientes. “Em alguns prédios maiores, há instalação de duas colunas, exigindo dois medidores que, somados, indicam o consumo do apartamento”, complementa.

Um dos grandes obstáculos para individualização da medição é que as construções com mais de dez anos foram concebidas com colunas de água separadas
Marco Teixeira

Existem dois cenários possíveis para a instalação dos medidores. Em edifícios onde a solução não foi prevista, é necessário realizar o retrofit hidráulico. “Em São Paulo, foi criada norma que torna a Sabesp responsável pela emissão de contas individuais por apartamento, desde que o medidor esteja localizado do lado de fora da residência. Após readaptação do sistema hidráulico, são instalados o medidor e uma válvula bloqueadora, para que a concessionária faça o corte em caso de inadimplência”, diz Teixeira. Nos condomínios em que a individualização está prevista, os medidores são instalados no local já determinado pela construtora, às vezes dentro do aparamento ou então do lado de fora.

O hidrômetro individualizado também facilita a detecção de vazamentos. “Já houve casos em que o proprietário estava com 43 litros/hora de vazamento, e nem percebeu. Case que também merece destaque é o de prédio de médio-alto padrão, localizado no bairro do Campo Belo (SP), em que a somatória dos vazamentos dos 192 apartamentos chegava a 142 mil litros desperdiçados por mês”, destaca o profissional.

INVESTIMENTO

Em cenários em que é necessário somente instalar o hidrômetro, a média de preço é de R$ 450/apartamento. “Já quando é preciso retrofitar, pode-se chegar a R$ 3,5 mil/unidade. Em um prédio de 60 apartamentos e já preparado para receber a individualização, em 45 dias o sistema está todo instalado. Depois, há período de testes, que varia de 20 a 30 dias. Ao término da implantação, a concessionária realiza auditoria na obra para validar”, detalha Teixeira.

Em edifícios corporativos também cresce o interesse pela individualização. O primeiro ponto afetado pela solução, nesses casos, é a justiça, pois no mesmo condomínio pode haver sala ocupada por advogados e outra por clínica de estética, trabalhos com consumos totalmente díspares. “Outra preocupação é a eficiência. Quando se passa a individualizar o consumo, é possível enxergar onde é possível atuar para otimizar. Posso exemplificar com um caso em que o alto volume de água usado era explicado pelo sistema de resfriamento da torre do ar condicionado e, quando se percebeu isso, foram criadas cisternas para reúso da água nessa atividade”, detalha Teixeira.

REDUÇÃO NA PRÁTICA

Exemplo do saldo positivo causado pela individualização da medição é o condomínio Splendido, localizado em Santo Amaro, zona sul de São Paulo. São duas torres de médio-alto padrão construídas em área de 8 mil m2 e ocupadas por 140 famílias. “O empreendimento foi entregue em 2012, quando teve início o trabalho de instalação dos medidores. O prédio estava preparado para receber os medidores e, quando foi aprovada a individualização, contava com 95% de ocupação. A instalação demorou cerca de quatro meses. Com o hidrômetro, cada um sabe seu consumo e o quanto deve pagar. Dessa forma, passam a reduzir e ter controle sobre a quantidade de água utilizada. A redução foi em torno de 20% e, após campanha da Sabesp, chegou a 30% no condomínio”, fala o engenheiro Paulo Sergio Izidro, subsíndico do condomínio.

O investimento por unidade foi na faixa de R$ 400. “Com 140 famílias, a conta fechou em torno de R$ 60 mil, valor que já se pagou com a economia feita em um período de 12 meses. Antes, eram gastos R$ 18 mil por mês com a conta de água, hoje pagamos em torno de R$ 10 mil”, relata.

Colaboraram para esta matéria

Marco Aurélio Teixeira – Gerente de Negócios da CAS Tecnologia há mais de 10 anos, atuando na área de soluções para medição de água e energia.
Paulo Sergio Izidro – Subsíndico do Condomínio Splendido, é engenheiro e pós-graduado em Logística.