Indústria mundial de tratores caminha para a eletrificação dos motores
Custo e limitações tecnológicas ainda são entraves para avanço da energia limpa. Contudo, modelos híbridos – com energia solar ou elétrica aliada à tradicional – já reduzem a emissão de poluentes
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
A tendência para os próximos tratores é a eletrificação dos motores (foto: shutterstock / aharad)
A instalação do Plano Nacional da Indústria de Tratores de Rodas, em 1960, fez com que o Brasil desenvolvesse seu primeiro trator em solo tupiniquim. Mas foi somente a partir da década de 1990, com a abertura da economia nacional e a redução das taxas de importação (de 32,1%, em 1990, para 13,1%, em 1995) que esses maquinários ganharam notoriedade no comércio nacional. Desde então, as gigantes do setor disputam o mercado com a receita de sucesso obtida pela soma do preço e da tecnologia. E são nas feiras de negócios que as companhias têm a oportunidade de apresentar as novidades que rendem cifras bilionárias.
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Para José Paulo Molin, professor de engenharia de biossistemas – área de Mecânica e Máquinas Agrícolas da Universidade de São Paulo (USP) –, as novidades tecnológicas surpreendem a cada ano, e o setor de tratores tem caminhado para a eletrificação dos motores, mas ainda na forma híbrida. “As companhias têm trabalhado para que o motor ceda parte da sua potência – de 30% a 40% – para gerar eletricidade e permitir o acionamento das outras funções necessárias. Até o momento, esses são os lançamentos apresentados tanto na Europa quanto nos Estados Unidos”, diz. Na forma híbrida, quando é adicionada energia limpa – elétrica ou solar – ao motor convencional, a potência aumenta, o consumo de combustível fóssil diminui e, consequentemente, há redução da emissão de poluentes.
Entretanto, ainda não é possível implementar tecnologia totalmente elétrica aos tratores. “Se considerar apenas o mundo do automóvel e do caminhão, a Tesla – pioneira na tecnologia de motores elétricos com alta performance – já lançou o conceito e o cabeça de série. Mas não acredito que essa tecnologia alcance o trator, pelo menos por enquanto”, pontua Molin. Para o coordenador de marketing de produto da finlandesa Valtra, Alberto Toledo, os tratores elétricos devem ser viáveis somente na próxima década. “A limitação está relacionada aos recursos restritos da bateria de lítio. Hoje, não há tecnologia de armazenamento de energia compatível com a carga de trabalho exigida de um trator”, explica.
As companhias têm trabalhado para que o motor ceda parte da sua potência – de 30% a 40% – para gerar eletricidade e permitir o acionamento das outras funções necessárias. Até o momento, esses são os lançamentos apresentados na Europa e nos Estados UnidosJosé Paulo Molin
PROJETOS E PESQUISAS
Em 2013, a sul-coreana LS Tractor desenvolveu o primeiro trator híbrido do mundo, o PS 110 Hibrid (diesel-eletricidade). O modelo apresenta a mesma técnica utilizada em carros elétricos: quando o motor gera mais energia do que o necessário, uma bateria armazena o excesso e reverte para o motor em forma de potência. “Estamos com esse projeto pioneiro em mãos. Por enquanto, o custo de produção está acima do de tratores convencionais, o que dificulta a venda desse maquinário”, declara o diretor comercial da LS Tractor, André Rorato.
Outras empresas desse segmento também chegaram a criar alguns protótipos híbridos. A Valtra, por exemplo, desenvolveu, em 2015, o projeto ANTS, acrônimo que faz referência aos modelos mundiais de tratores Valtra e também é o plural de ant (formiga em inglês), que caracteriza o design do trator futurista. “A máquina foi constituída de dois ou mais módulos independentes que trabalham de forma integrada em atividades distintas. Com motores elétricos que podem ser recarregados por painéis solares instalados em cada módulo, o protótipo prevê espaço para um operador na cabine e segue os conceitos de operar em menor tempo, com melhor desempenho e ampliação da capacidade produtiva e sustentável”, declara Toledo.
Em 2017, a Fendt apresentou um protótipo de trator totalmente elétrico na Alemanha, o modelo e100 Vario, capaz de operar por cinco horas ininterruptas. Mas segundo o professor Molin, o projeto ainda está aquém do esperado, pois deveria funcionar de 16 h a 18 h. “São poucas as unidades existentes no mundo que operam, na prática, como tratores elétricos. O que mais se assemelha é um modelo de médio porte originário dos Alpes austríacos. Os tratores que vemos hoje no mercado são de pequeno porte e adaptados de carros ou caminhões elétricos”, destaca.
A limitação [dos tratores elétricos] está relacionada aos recursos restritos da bateria de lítio. Hoje, não há tecnologia de armazenamento de energia compatível com a carga de trabalho exigida de um tratorAlberto Toledo
LANÇAMENTOS
Na última Agrishow – Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação, realizada em junho de 2018 –, mais de 800 marcas brasileiras e estrangeiras apresentaram suas recentes descobertas. Em seis dias, as empresas do setor movimentaram R$ 2,7 bilhões de reais em máquinas e tratores agrícolas, mais de 20% de crescimento em relação à edição anterior.
LS Tractor
A empresa apostou na ampliação da potência do trator H 145. E para trabalhos indoor, em pequenos espaços, a LS apresentou o MT25 com 25 cv, ideal para aviários, horticultura de estufa, micropropriedades rurais e chácaras, com economia de combustível de até 15%.
Mahindra
O trator 6060, com 57 cv de potência, ganhou destaque este ano. O diferencial é o capô de abertura integral que agiliza a manutenção e inspeções de rotina. Já seu sistema de levante é hidráulico e tem capacidade para 2.200 kg.
Massey Ferguson
A companhia destacou a série de tratores versáteis, os modelos MF 4700 e MF 5700. A linha MF 4700, que pode ter 75 cv, 85 cv ou 95 cv, foi projetada para aumentar o rendimento das atividades no campo, além das capacidades de levante e vazão.
Prinoth
A fabricante apostou no modelo para movimentação de biomassa. Trata-se do trator de esteira BM430, que é uma solução inovadora para movimentação de biomassa (bagaço de cana), palha de cana e cavacos de madeira.
Valtra
A empresa lançou o trator BH184. O novo modelo faz parte da Linha BH Geração 4 e vem equipado com quatro cilindros, que diminuem o consumo de combustível e o custo com manutenção.
PRODUÇÃO NO BRASILEstima-se que estejam em operação no Brasil cerca de 1,5 milhão de tratores. O auge do crescimento da utilização desse tipo de máquina no país foi em 2013, período antecedente à crise econômica. Em ritmo de retomada, o mês de maio de 2018 registrou aumento de 3,4% no consumo de máquinas e equipamentos em relação ao mês anterior, e crescimento de 15% sobre o mesmo período de 2017, segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Com esse resultado, os investimentos acumulados em 2018 subiram 5,9% e ficaram em torno de R$ 8,4 bilhões mensais, abaixo do auge econômico, quando eram R$ 15 bilhões mensais.
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Colaboração técnica
- André Rorato – Diretor comercial da LS Tractor no Brasil
- Alberto Toledo – coordenador de marketing de produto tratores da Valtra
- José Paulo Molin – professor do departamento de Engenharia de Biossistemas – Área de Mecânica e Máquinas Agrícolas da Universidade de São Paulo (USP). Graduado em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Pelotas (1983), com mestrado em Engenharia Agrícola pela Universidade Estadual de Campinas (1991) e PhD em Engenharia Agrícola pela University of Nebraska (1996).