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Instalação de backbones demanda apoio de robôs submarinos

Colocação de cabos de fibra óptica no fundo do mar desafia a natureza para garantir conexão rápida via internet

Publicado em: 28/11/2016

Texto: Redação PE

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O cenário ideal é que a rede seja instalada no local mais plano possível (Rich Carey/ Shutterstock.com)

Obra de engenharia de alta complexidade, a instalação de backbones submarinos é feita sob os oceanos para transmitir dados de internet por longas distâncias, às vezes entre continentes. Essas redes compostas por cabos de fibra óptica têm importância vital para as comunicações globais e são responsáveis pelo transporte de 99% de todo tráfego internacional de dados. Calcula-se que hoje haja quase duzentos cabos deste tipo em operação ou em construção no fundo dos mares.

Para as equipes que projetam e executam esse tipo de infraestrutura, um dos desafios é garantir vida longa e estabilidade às conexões, lembrando que as redes têm centenas de quilômetros de extensão e que um cabo submarino é projetado para uma vida útil superior a 25 anos. Há, ainda, a necessidade de lidar com as imprevisibilidades do ambiente marinho, sujeito a movimentações do solo e a interferências de animais como tubarões.

Por tudo isso, o projeto de uma rede de dados submarina requer planejamento detalhado. O trabalho começa pela análise da viabilidade comercial da rota em função da demanda de tráfego de dados esperada para o trecho. “A definição do trajeto inclui também um estudo teórico e uma pesquisa in loco realizada por navios especializados em todo o trecho proposto”, explica Samuel Lauretti, engenheiro eletrônico e diretor de Vendas Internacionais da Padtec. Ele conta que há, ainda, a necessidade de obter as licenças requeridas para a instalação do cabo. Obras realizadas no leito marinho precisam, por exemplo, de autorização dos órgãos ambientais para garantir que o serviço não vá provocar danos à fauna e à flora marinha.

A definição do trajeto inclui também um estudo teórico e uma pesquisa in loco realizada por navios especializados em todo o trecho proposto
Samuel Lauretti

O cenário ideal é que a rede seja instalada no local mais plano possível, preferencialmente sem fendas, oscilações de terreno ou tremores que possam influenciar a estabilidade do sinal.

ROBÔS SUBMARINOS

A colocação dos cabos tem como primeiro passo a dragagem. O objetivo é criar uma vala de aproximadamente 1 m de profundidade onde são depositados os cabos que saem de bobinas instaladas no barco de apoio.

No fundo do mar, o serviço é realizado por robôs conectados à embarcação por um cabo umbilical que permite a comunicação bidirecional, assim como o transporte de energia para mover o veículo. Equipado com câmeras, iluminação e braços articulados, o robô é controlado via joystick por um operador que fica na embarcação. De acordo com o engenheiro especializado em redes ópticas submarinas, Francisco Junior, esse tipo de equipamento permite operar em maiores profundidades e durante um período mais prolongado do que seria possível somente com mergulhadores.

CABOS ÓPTICOS E REPETIDORES

A instalação dos cabos ocorre a cerca de 20 m de profundidade, valor medido na maré mais baixa. “Para proteção mecânica da rede, o cabo recebe uma camada de argamassa. Em trechos rochosos, ele pode ser ainda envelopado com concreto”, revela Francisco Junior. 

Os cabos utilizados no fundo do mar são fabricados para suportar as intempéries a que estarão sujeitos. Até chegar à fibra óptica, é preciso passar por uma casca de polietileno, uma película de poliéster, uma camada de policarbonato e de fios de aço trançados, além de um tubo de alumínio.

Para proteção mecânica da rede, o cabo recebe uma camada de argamassa. Em trechos rochosos, ele pode ser ainda envelopado com concreto
Francisco Junior

Além dos cabos, a rede conta com repetidores ópticos responsáveis pela amplificação do sinal ao longo da rede. Esses equipamentos, também projetados para suportar as agressividades do mar, tornam possível a transmissão de dados pelos cabos por distâncias tão longas.

Quando chega ao seu destino final (uma praia ou encosta), o cabo é finalmente conectado a uma estação de conexão. Concluída essa etapa é feito um relatório no qual constam as coordenadas geográficas e topográficas de todos os pontos de emenda e das extremidades do cabo assentado sobre trechos rochosos do leito submarino. Isso é fundamental para facilitar os serviços de manutenção.

REDES CONECTADAS

Atualmente está em desenvolvimento o projeto para construção de um cabo submarino com cerca de 390 quilômetros de extensão e oito pares de fibra óptica para ligar a cidade de Santos, em São Paulo, ao Rio de Janeiro. O backbone se interconectará com a infraestrutura do Google, que quer ampliar sua infraestrutura de transmissão de dados na América Latina. “O início da operação do sistema é previsto para o segundo semestre de 2017”, comenta Samuel Lauretti, da Padtec. A empresa irá gerenciar e executar a implantação da rede de alta velocidade.

Também está em andamento o projeto para a instalação de um cabo de fibra óptica conectando a cidade de Fortaleza, no Ceará, à Luanda, na Angola. Batizada de SACS (South Atlantic Cable System), a rede terá cerca de 6 mil quilômetros de extensão, quatro pares de fibra e deve entrar em operação também em 2017.

Colaboração técnica

Francisco Junior – engenheiro civil, gerente de redes ópticas submarinas do Governo do Estado da Bahia.
Samuel Lauretti – engenheiro eletrônico, diretor de Vendas Internacionais da Padtec.