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Investigações sinalizam a capacidade geotécnica para obras

No Brasil empresas ainda investem pouco nas investigações geotécnicas, ficando suscetíveis e problemas futuros

Publicado em: 23/05/2016

Texto: Redação PE

Redação PE

Investigações geotécnicas são os únicos procedimentos de engenharia capazes de fornecer informações sobre o solo. Por isso, requerem atenção e tecnologias apropriadas. As sondagens determinam o perfil do terreno e identificam os solos onde uma obra será construída e há casos em que elas são realizadas ainda antes do investidor adquirir a área do empreendimento, como nas investigações ambientais por exemplo.

“Com base nas informações coletadas no início é possível saber se há passivos ambientais no terreno, necessidades de descontaminação, entre outras situações complexas que exigem providências demoradas e podem atrasar o empreendimento”, esclarece Artur Quaresma Filho, presidente da Engesolos.

“A segunda investigação está relacionada ao projeto de fundações da construção, que vai gerar informações para o tipo de fundação a ser utilizada. Isso possibilita ao projetista a coletar dados suficientes para proceder sobre os ensaios e provas de carga no terreno”, explica Quaresma. A Engesolos importou a primeira perfuratriz com martelo automático e avanço mecano-hidráulico para sondagens no ano de 1997, embora apenas a tenha utilizado em investigações de passivos ambientais, retirando amostras de solo, gás e água.

Produtividade das perfuratrizes automatizadas

De acordo com ele, sondagens a percussão com martelo automático deverão ser muito utilizadas após a homologação da NBR 6484 da ABNT em 2016, que está sendo encaminhada para consulta pública. “Para cravar o amostrador no solo com o equipamento em sistema manual, por exemplo, deve ser erguido um peso que em seguida é solto, bate em cima de uma haste e a equipe conta a quantidade de batidas dada para penetrar um amostrador padrão. Após penetrar 45 centímetros no solo, é feito o cálculo de resistência. Já nas perfuratrizes mecanizadas com o martelo automático, o peso é suspenso por um motor hidráulico, sem a necessidade de envolver pessoas para esse trabalho. A perfuração é muito mais rápida e aumenta a produtividade”, compara Quaresma.

Uma sondagem manual com furos de 25 metros de profundidade leva em torno de dois dias para ser bem feita, sendo que pelo sistema mecanizado podem ser perfurados até 60 metros num dia. A Engesolos conta com perfuratrizes montadas sobre caminhões com capacidade de carga de 16 mil quilos, e outras menores montadas sobre esteiras de borracha que pesam até de 3 mil quilos. Nos ensaios de penetração de cone (CPT), o equipamento empurra uma ponteira que conduz um cone instrumentado para dentro do solo e mede continuamente sua resistência.

Investigação do subsolo não é custo, mas investimento

O engenheiro Jarbas Milititsky, professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), enfatiza que investigação do subsolo não é custo, mas sim investimento. “Quanto melhor se conhece o solo, mais precisa e segura é a solução a ser utilizada na obra”, observa. “Muitos investidores ou proprietários não entendem que investir em investigações geotécnicas é valorizar a segurança do empreendimento”, diz.

Jarbas acrescenta que a partir das informações decorrentes das sondagens, tudo é bem planejado. O acompanhamento é previsto em projeto e realizado antes do início da escavação. Isso garante a estabilidade geral e evita providências no decorrer da obra, como escoramentos ou reforços de fundação por exemplo.

Clóvis Salioni Júnior, diretor da Geosonda, destaca que no Brasil as empresas ainda investem pouco nas investigações geotécnicas. “Em decorrência disso pode haver situações imprevistas em que precisarão se readequarem para detectar falhas que aumentem custos da obra”, alerta.

Ele aponta que nesse sentido o país vive dois cenários: o do setor privado que é mais competitivo, em que existem problemas eventuais pelo excesso de competição, ou questões éticas, enquanto o setor público tem outros impasses. “A legislação permite que o gestor público contrate por licitação, ou seja, ele não escolhe, então fica sujeito a quem atende as especificações da licitação, que não necessariamente são as empresas mais capazes ou mais sérias para realizar o trabalho”, explana.

Quaresma, da Engesolos, observa que a cultura de ensaios no Brasil ainda é ruim e sugere que deve haver mais cuidado com a campanha de investigação. “Ainda se investe muito pouco nas sondagens, ensaios em campo e em laboratório. Quem não investe o necessário e acha que economiza, acaba arcando com custos em reparações futuras ou projetos menos otimizados, por isso investir nas investigações significa evitar problemas adiante e fazer economia no cômputo geral da obra”, alerta.

A falta de investimentos em investigações geotécnicas também desencadeia acidentes graves como o ocorrido em 2007 na construção da linha 4 do metrô de São Paulo, onde uma cratera se abriu no canteiro de obras da estação Pinheiros. Um laudo do instituto de pesquisas tecnológicas sobre o caso apontou que o acidente foi fruto de uma falha na análise de sondagens do terreno.

 

 

Colaboraram para esta matéria

Artur Quaresma Filho - Presidente da Engesolos

Clóvis Salioni Júnior - Diretor da Geosonda

Jarbas Milititsky - Professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)