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Locadoras de máquinas e equipamentos de obra enfrentam crise

Cerca de 20% das empresas encerraram as atividades no mercado da construção por causa de escassez de trabalho, queda dos preços de locação, inadimplência e mais

Publicado em: 19/11/2015Atualizado em: 29/01/2020

Texto: Redação PE

A difícil fase enfrentada no setor da construção pesada tem motivado locadores a repensarem seus negócios. De acordo com o diretor da Escad Rental, Eurimilson Daniel, das 10 mil empresas que hoje compõem o mercado de aluguel de equipamentos, cerca de 20% já deixaram o mercado e 30% estão com sérias dificuldades para continuar. A escassez de trabalho e a queda dos preços de locação agravam o desempenho econômico dessas empresas, diante de outros problemas como inadimplência dos contratantes e custos operacionais que não param de subir.

“Os outros 50% do mercado estão enfrentando dificuldade, mas persistem debatendo e se esforçando para melhorar o desempenho no mercado”, conjectura Daniel. “Se não forem tomadas medidas adequadas para a gestão interna, a quantidade de empresas a deixar o mercado pode aumentar, porque o ano de 2016 vai continuar difícil, com menos dinheiro e menos espaço, o que deve provocar maior disputa no mercado de locação”, alerta.

Ele adverte que mesmo com alta competitividade para pegar trabalhos com baixa remuneração, é preciso evitar brigas pois todos os concorrentes saem perdendo. “O locador pode até se propor a ganhar o mínimo, desde que sua frota rode menos. Se aceitar a rodar muito e com pouco ganho, a matemática não terá piedade dos prejuízos e empresas quebrarão mais depressa”, prevê.

Além disso, inadimplência é um problema sério e persistente. Historicamente, ela começa de baixo para cima, iniciada pelo desemprego. Mas nessa crise atual, esse fenômeno ocorre de cima para baixo. Cerca de 20% das empresas que entraram com recuperação judicial são da construção civil, clientes dos locadores. “Isso está afetando muito nossos negócios”, revela Daniel.

Locadoras devem readequar estruturas

Para Daniel, proprietários de empresas locadoras precisam analisar se hoje estão com estrutura superdimensionada para negócios. Reduzir quantidade de filiais, de oficinas, de equipamentos, enfim, é preciso fazer uma análise se o tamanho da empresa é ideal para a atual situação do mercado. “Se a folha de pagamento, por exemplo, exceder a 25% do faturamento da empresa, ficará inviável efetuar o pagamento dos salários”, observa Daniel.

Para o diretor da Luna Transportes e Locações, José Antonio Spinassé, o que mais prejudica o locador são despesas, realizadas há alguns anos, para financiar equipamentos. “A melhor opção é fazer um realinhamento das dívidas com os bancos”, aconselha Spinassé. “As locadoras acometidas nessa situação e sem receita para pagar esses financiamentos devem procurar bancos e renegociar as taxas de juros, antes de ficarem inadimplentes e do aumento dessas taxas, dificultando a situação”, orienta o diretor da Luna.

Daniel, da Escad, concorda e complementa: “Mesmo aqueles que tiverem uma dívida de BNDES de 6%, se conseguirem renegociar a 20%, 25% ou 30% é uma forma de salvar a empresa”.

A partir de uma nova realidade, será preciso estimar quanto uma empresa terá condições de faturar nos próximos meses, embora o locador ainda possa ficar deficitário durante esse período de mercado em recessão. Daniel e Spinassé concordam que é melhor vender algum ativo (equipamento) em vez de buscar dinheiro em banco.

“Antes os ativos serviam para contribuir com acionistas de uma empresa. Houve uma época que o investidor vendia uma máquina usada e fazia aplicações financeiras. Numa segunda fase, passou a vender uma usada e comprar uma nova. Hoje o caminho está sendo vender máquinas usadas para gerar fluxo de caixa e manter o giro”, diz Daniel.

Locação é termômetro de mercado

O segmento de locação é geralmente o primeiro a ter o desempenho afetado pela crise, mas também o primeiro a sentir reflexos da retomada econômica, por isso é considerado termômetro no mercado da construção.

“Hoje, com esse cenário difícil, clientes são os que ditam preços e condições de negociação, sem pedir propostas para locadores”, conta Spinassé, da Luna. “O empresário locador não está conseguindo se impor como deveria, porque o trabalho está escasso e a concorrência acirrada. Ou você aceita, ou não trabalha”, diz.

O desalinhamento da estrutura das locadoras faz essas empresas rodarem com preços praticados abaixo do custo, entrando num espiral cada vez mais negativo. As quedas na operação de mercado têm sido cruéis: 20% de 2013 para 2014 e 40% de 2014 para 2015. A receita também despencou 40%. “Os preços também caíram de 15% a 20%, e quando isso acontece, a margem desaba de 79% a 80%, já que os descontos são sacrificados da própria margem do locador, ou seja, custos com combustível, banco, mão de obra permanecem fixos”, calcula Daniel, acrescentando que hoje locadores trabalham sem margem operacional.

Para o diretor da Escad, esse cenário não vai perdurar por muito tempo, em breve precisará ser revertido, o que faz o executivo ainda acreditar nesse segmento. Primeiro, porque locadoras são o elo mais fraco na prestação de serviços da construção; depois porque as máquinas uma hora vão precisar ser trocadas, ninguém compra um equipamento hoje para ficar trabalhando no prejuízo, o que realinhará o setor em nova curva de crescimento sustentável.

Colaboraram para esta matéria


Eurimilson Daniel - Diretor da Escad Rental
 
José Antônio Spinassé - Diretor da Luna Transportes e Locações