Logística reversa ajuda a reduzir resíduos nos canteiros de obras
Necessidade de diminuir volume de materiais destinados a aterros e a preocupação com os impactos ambientais unem construtores e fornecedores de materiais
A logística reversa ajuda a reduzir a quantidade de materiais encaminhada para os aterros (Foto: ungvar/Shutterstock)
A construção civil é uma das atividades industriais que mais produz resíduos no Brasil. Segundo cálculos do CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável), são cerca de 80 milhões de toneladas/ano destinados, principalmente, para aterros sanitários. Essa situação exige ações urgentes e políticas rigorosas para reduzir e encontrar uma melhor destinação para estes materiais.
Entre as soluções exploradas pelas empresas da cadeia da construção, uma das que começa a se destacar é a logística reversa. Trata-se de um conjunto de ações, procedimentos e meios para viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos para a indústria, seja para reaproveitamento em seu ciclo produtivo, seja para outra destinação ambientalmente adequada.
A utilização deste mecanismo vem sendo debatida há muitos anos, pelo menos desde a publicação da Lei n.º 12.305, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos em 2010. Nessa oportunidade ficou estabelecido que fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes deveriam promover acordos setoriais para a implantação de uma responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.
ECONOMIA CIRCULAR
Em alguns setores industriais como os segmentos de pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes e pneus, a logística reversa é compulsória. Já nos canteiros de obras, as empresas vêm se mobilizando gradativamente para viabilizar, ainda que parcialmente, o conceito de economia circular.
Também praticamos a reinserção do entulho que geramos em nossas obras, através da utilização de agregado reciclado em algumas atividadesVictor Dias
Nas obras da Trisul, por exemplo, a logística reversa é um dos critérios para a classificação de fornecedores. “O objetivo é induzir outros parceiros a se adequarem a essa nova demanda do mercado”, explica o coordenador de sustentabilidade, Victor Dias. Em seus canteiros, a construtora implantou o retorno de materiais diversos, como sacarias e plásticos, placas de drywall, embalagens de madeira e paletes, resíduos cinzas (bloco de concreto), latas de tinta e fitilhos de amarração de blocos. “Também praticamos a reinserção do entulho que geramos em nossas obras, através da utilização de agregado reciclado em algumas atividades”, conta Dias.
No caso do drywall, os resíduos que restam das instalações são coletados e armazenados em caçamba específica, separados de outros materiais, e devolvidos para a fábrica da Placo (Saint-Gobain). Uma vez na indústria, os materiais são submetidos a um processo de trituração e remoção do papel para, só então, serem reintroduzidos na linha de produção das chapas.
A construtora também mantém uma parceria com a Prolata Reciclagem, uma instituição sem fins lucrativos, formada por empresas do setor de embalagens de aço, com o apoio da Abeaço (Associação Brasileira de Embalagem de Aço) e da Abrafati (Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas). O grupo visa estimular a coleta e a reciclagem de latas de aço pós-consumo para reintrodução em linhas de produção da Gerdau.
Na visão do coordenador de sustentabilidade da Trisul, o futuro próximo aponta para uma ampliação cada vez mais significativa da logística reversa. “Já notamos uma movimentação por parte dos fabricantes. A expectativa é a de que eles se estruturem a curto e médio prazo, seja para atender empresas conscientes e alinhadas com princípios de sustentabilidade, seja por uma exigência da sociedade”, comenta ele.
ESTRATÉGIAS PARA REDUZIR RESÍDUOS
Uma obra gerida com foco em sustentabilidade consegue reduzir para até 5% os resíduos destinados a aterros. Tal desempenho é factível com a combinação de ações que começam com o treinamento dos funcionários para o manejo de resíduos, e incluem a implantação de baias sinalizadas para segregação dos materiais.
Além da logística reversa, outras estratégias têm colaborado para diminuir a quantidade de sobras. Entre elas destacam-se o planejamento da obra com foco em redução de desperdícios e a realização de um projeto de canteiro que priorize a minimização de perdas na movimentação, transporte e armazenamento dos materiais.
Mas a solução que traz mais impactos para os canteiros é a industrialização dos sistemas construtivosVictor Dias
Substituir equipamentos e sistemas descartáveis por equivalente de maior durabilidade é outra prática recomendada. “Mas a solução que traz mais impactos para os canteiros é a industrialização dos sistemas construtivos”, afirma Victor Dias. Ele explica que quando uma construtora passa a receber componentes engenheirados e pré-fabricados — como kits elétricos e hidráulicos — é possível elevar a eficiência, diminuindo drasticamente a demanda por mão de obra e a geração de resíduos.
Leia também:
Construção modular induz produtividade e sustentabilidade
Fim do lixo: criar com sustentabilidade pode ser a solução
Colaboração técnica
- Victor Dias — Graduado em gestão ambiental com MBA em engenharia do meio ambiente e sustentabilidade. É coordenador de sustentabilidade Trisul.