Lubrificação revitaliza as articulações mecânicas
Despesas com esse serviço representam em média 20% dos custos com manutenção
Redação PE
Programas de lubrificação de frota são muitas vezes vistos como estratégicos para manter clientes reféns do pós-venda da concessionária. Mas é preciso distinguir o teor comercial do suporte ao produto da necessidade iminente de lubrificação dos equipamentos, tarefa que exige disciplina e periodicidade, sob risco de colocar em xeque o bom funcionamento, a garantia e a disponibilidade das máquinas.
As consequências do descaso com lubrificação agem silenciosamente e são danosas, de forma similar ao de uma doença hepática ou do sistema linfático humano, causando desgaste acelerado de peças, elevação dos custos de manutenção, queda na produtividade, redução da vida útil ou “envelhecimento precoce” da frota.
As falhas no armazenamento dos lubrificantes, a negligência nas operações de lubrificação e o prolongamento do período de troca para além do que é recomendado pelos fabricantes são exemplos típicos de descuido, pois independente dos interesses comerciais, fabricantes e dealers são os que melhor conhecem a necessidade de manutenção dos equipamentos que fornecem.
“Neste campo, não há espaço para improvisações tampouco amadorismos”, alerta o diretor comercial da Rekom, Angelino Carvalho. Segundo ele, gastos com lubrificantes incluindo aquisição, estocagem e mão-de-obra representam cerca de 20% dos custos com manutenção. Em contrapartida, a boa lubrificação proporciona um ganho de 50% na redução de reposição de peças das máquinas.
Lubrificação não pode ficar para segundo plano
Locadores geralmente investem na manutenção dos equipamentos em função do aquecimento de mercado e da previsão de novos contratos. Quando estão em fase de muitas obras, realizam manutenção com mais frequência para manter disponibilidade, mas em épocas de “baixa safra”, a manutenção fica para segundo plano.
De acordo com a avaliação de Angelino, em épocas de poucas obras locadores tendem a baixar o custo horário da locação, as margens ficam reduzidas e não sobra dinheiro para investimentos num programa de manutenção preventiva. “Isso é um problema porque, independente de contratar um programa de manutenção com dealers, o locador deve estar ciente do custo/ benefício no cuidado com o equipamento. As revisões de sistema hidráulico e material rodante devem ser feitas a cada 40 dias, com troca de óleo, filtros, lubrificação e aperto de parafusos da máquina”, diz.
O diretor da Impacto Implementos Rodoviários, Júlio César Bachiega de Oliveira, acrescenta que quando a lubrificação é efetuada com correção, ela proporciona acréscimo de 6% no rendimento dos equipamentos; aumento de 30% de sua vida útil e diminuição em 56% na manutenção. “Esses números comprovam que a lubrificação não pode ser considerada um simples detalhe”, afirma.
Ele diz que a correta lubrificação é tão importante que muitas empresas incorporaram à rotina de cuidados com a frota à gestão de fluidos, um conjunto de procedimentos de controle focado na lubrificação que inclui até a análise periódica dos lubrificantes por laboratórios especializados.
O primeiro ponto a ser considerado nessa gestão é o tipo de lubrificante. Nesse caso, não há negociação. Utilize sempre as especificações recomendadas pelos fabricantes. Elas obedecem a normas internacionais requeridas. As principais são: SAE (Sociedade dos Engenheiros Automotivos), API (Instituto Americano do Petróleo), ACEA (Associação dos Construtores Europeus de Automóveis) INGL (Instituto Nacional de Graxas Lubrificantes). Na hora da escolha opte sempre por marcas consagradas. Ainda que soe óbvio, esse é dos aspectos menos observados. Em nome de uma duvidosa economia, não raro, o preço fala mais alto que a qualidade. O resultado final se fará sentir no bolso.
Principais contaminantes e armazenamento correto
Proteger lubrificantes dos agentes contaminantes é outro cuidado crucial. Os principais contaminantes são: a água, a poeira, a fuligem e as partículas metálicas resultantes do atrito entre os componentes da máquina. A contaminação do lubrificante pode causar o entupimento de mangueiras, ressecamento dos selos e anéis, formar borras, além de tornar o óleo impróprio para sua principal função, pois ele perde algumas características fundamentais para lubrificação.
O inspetor técnico Rodolfo Cafer, do departamento de vendas e after marketing da Mahle Metal Leve, ressalta que, no caso de contaminação do lubrificante, a troca do filtro do sistema é essencial, mesmo que não tenha atingido seu tempo de vida útil, pois nele é armazenado uma quantidade considerável de óleo. “Se não for substituído, contaminará o lubrificante novamente”.
As formas mais eficazes de evitar a contaminação dos lubrificantes são seu correto armazenamento e manuseio. Normalmente são acondicionados em tambores metálicos. O ideal é que fiquem em local coberto, protegido da umidade e do calor já que a variação de temperatura pode alterar a viscosidade do óleo. “Além do risco de corrosão da tampa do tambor, a umidade, caso passe para o interior do tambor, poderá contaminar o lubrificante. Nos óleos que contêm aditivos, a água provoca precipitação ou ainda deterioração desses agentes”, explica Rodolfo.
Júlio César, da Impacto, orienta que se forem armazenados na posição horizontal, os tambores não devem ficar em contato direto com o solo, a fim de minimizar riscos de corrosão. “O empilhamento máximo é de três tambores. O ideal é acomodá-los sobre paletes ou ripas de madeira, cuidando para que nas extremidades, os tambores fiquem firmemente escorados por calços. Eles devem sempre ficar em linha horizontal e ser constantemente inspecionados para verificação de vazamentos”.
Se ficarem na vertical, é recomendável colocar um calço de madeira sob os tambores, deixando-os ligeiramente inclinados a fim de evitar o acúmulo de água na parte superior. Os tambores possuem duas aberturas. A maior, pela qual o conteúdo é retirado, e o respiro. Ambas devem estar sempre limpas e protegidas contra a possível entrada de água, poeira e corrosão. Eles devem ser movimentados com cuidado, evitando-se quedas ou batidas. “Impactos rompem a camada interna de proteção dos tambores, fazendo com que o lubrificante fique em contato direto com o metal”, explica Júlio.
Todo o cuidado no manuseio dos lubrificantes é pouco. Quanto menos transferência (latas, funis, baldes) intermediar a operação, menor será o risco de contaminação. As bombas para transferência, assim como a tampa do tambor devem ser limpas antes e depois da operação com um pano de algodão, em que as bordas devem estar costuradas, formando uma bainha a fim que soltem fiapos. “Estopa? Nem pensar.”, repreende Júlio.
Colaboraram para esta matéria
Angelino Carvalho - Diretor comercial da Rekom
Júlio César Bachiega de Oliveira - Diretor da Impacto Implementos Rodoviários