Máquinas e equipamentos em franca expansão
Eurimilson João Daniel, vice-presidente da SOBRATEMA, revela conclusões de estudo realizado sobre o setor
Entrevista: Eurimilson João Daniel
Redação AECweb
O consumo de máquinas e equipamentos pela construção civil no Brasil cresce a patamares inéditos, tendo alcançado percentuais em torno de 40% anuais desde 2007. Em entrevista ao AECweb, Eurimilson João Daniel, vice-presidente da SOBRATEMA - Associação Brasileira de Tecnologia para Equipamentos e Manutenção – revela conclusões de estudo realizado pelo terceiro ano consecutivo. Entre elas, a de que se trata de um mercado de 50 mil equipamentos/ano - desse total, 15% são importados. Em contrapartida, as exportações que no passado atingiram até 70% da produção nacional, hoje não passam de 20%. Razões pelas quais, empresas estrangeiras cobiçam o potencial brasileiro “e pensam que é fácil”.
AECweb – Como vem se comportando o mercado brasileiro de máquinas e equipamentos para a construção civil?
Daniel - Realizamos pelo terceiro ano consecutivo estudo de desempenho do setor e perspectivas futuras. A intenção é que suas conclusões possam avalizar as intenções de investimentos dos empresários. O Brasil é um mercado de 50 mil equipamentos/ano. Em 2007, cresceu acima de 40%; em 2008 essa performance se repetiu. Com a crise, em 2009 houve uma queda de 24%, mas com um nível de comercialização ainda bastante interessante, graças à recuperação já registrada nos últimos meses. Para o próximo ano, a previsão é de retornar aos patamares de 2008.
AECweb – Esse volume de 50 mil equipamentos/ano inclui caminhões e linha amarela?
Daniel - Desse total, em torno de 30 mil unidades se refere a caminhões que atendem a construção civil. O restante são máquinas e equipamentos da chamada ‘linha amarela’, como escavadeiras, carregadeiras, retro-escavadeiras, compressores, gruas, guindastes e plataformas aéreas. Esses números incluem importações que representam cerca de 15% do total do consumo interno - percentual que tende a crescer pela atratividade dos preços dos equipamentos que vêm da Ásia, e que apresentam boa qualidade. Há, inclusive, movimento de algumas empresas asiáticas interessadas em produzir no Brasil. Até porque, o BNDES oferece linha de financiamento de 4% ao ano, mas somente para máquinas e equipamentos nacionais.
AECweb – O setor exporta?
Daniel - No passado, chegamos a exportar até 70% da produção nacional de máquinas e equipamentos. Mas houve uma redução significativa das exportações a partir da crise mundial iniciada em outubro de 2008 e da queda do câmbio. Hoje, não passam de 20% da produção feita no país.
AECweb – Quais os equipamentos mais vendidos?
Daniel - Os segmentos mais fortes são os de retro-escavadeira, escavadeira hidráulica e tratores de esteira. O telehander foi a única categoria a registrar números positivos em 2009, atingindo a marca de 350 equipamentos vendidos, um crescimento de 16%, com expectativa de aumento de 30% em 2010. Há dois ou três anos, ninguém no Brasil sabia o que é um telehander, apesar de consolidado no exterior. É um manipulador telescópico de multiuso, utilizado para movimentação e levantamento de carga, podendo ser adaptados a diversas ferramentas de trabalho, como caçambas, garfos (pallets), cesto de operação, entre outros.
AECweb – O estudo faz uma comparação do consumo brasileiro com o de outros países?
Daniel - O estudo conseguiu mostrar o quanto nós crescemos em relação aos demais países. Em 2004, o mercado de consumo de máquinas e equipamentos no Brasil representava 1% do PIB mundial. Hoje, o Brasil participa com 2,5% e vamos chegar a 3,5% em 2013. Crescemos, portanto, duas vezes e meia. Embora represente um crescimento acelerado em mercado interno, ainda somos muito pequenos em relação ao mundo. A China, em 2004, representava 20% e chegou a 38% em 2009. Numa projeção para 2013, ela perde um pouco de mercado e cai para 32%. Os Estados Unidos saem de 21% em 2004 e, hoje, estão com 16% - devendo ficar por aí até 2013.
AECweb – Esse crescimento deve atrair empresas estrangeiras?
Daniel - Enquanto a tendência dos mercados mundiais é de encolher um pouco, o brasileiro se expande. Com a Copa do Mundo, Olimpíadas, Pré-Sal, economia e moeda estáveis, e crescimento, o Brasil passou a freqüentar a mídia mundial e atrai empresas para cá. As pessoas chegam achando que vão encontrar um mercado fácil de entrar e de vender, mas não é assim. É um mercado de muitas oportunidades, porém está crescendo para quem está bem posicionado. Quem tem vindo prospectar não quer, necessariamente, implantar uma fábrica. Quer vender. E quer entrar nas grandes corporações como Vale do Rio Doce e Petrobras, pensando que é fácil.
AECweb – O passado da construção civil foi bem diferente, não é?
Daniel - O Brasil ficou quase 30 anos sem ter obras de grande porte. Conseguimos equilibrar nossa economia, fazer com que o país tivesse condições de investir e criar credibilidade para trazer investimentos de fora. Hoje, as hidrelétricas têm dinheiro do governo, mas com participação estrangeira; as ferrovias estão sendo retomadas; as rodovias privatizadas têm recebido investimentos. O que colocou a ‘cereja no bolo’ neste estudo que fizemos foram as obras a serem construídas para a Copa e as Olimpíadas, porque têm data de vencimento. São obras que saíram do campo político para o do compromisso.
AECweb – A SOBRATEMA e seus associados já percebem as obras do Pré-Sal?
Daniel - Sim, o Pré-Sal já está alavancando o setor. Observo, no entanto, que as ações de expansão da Petrobras sempre foram muito fortes e se acentuaram nos últimos cinco anos. Destaco os projetos das refinarias em estados como Pernambuco e Bahia; e o gasoduto em Manaus. O papel de uma grande empresa como a Petrobras tem grande peso no crescimento de nosso setor e são projetos de longo prazo.
AECweb – Há previsão de aumento nos preços das máquinas e equipamentos em 2010?
Daniel - O Brasil é um grande exportador de minério. A produção hoje é maior do que a demanda, portanto, não deveremos ter problema de fornecimento ou preços para a indústria do nosso setor. O gargalo talvez ocorra por falta de planejamento por parte das indústrias fabricantes de equipamentos que venham a fazer seus pedidos em cima da hora.
AECweb – Nesse caso, a importação será a solução?
Daniel - Temos a grande vantagem de o mundo não estar consumindo. Na pior das hipóteses, se a indústria brasileira não conseguir produzir, eu estalo os dedos e dentro de 60 a 90 dias as máquinas estão aqui, é só pedir lá fora. O que nos leva a dizer que podemos perder uma grande oportunidade de crescer. E isto pode acontecer pois ninguém até agora fez pedidos de máquinas para as obras da Copa do Mundo, já que a maioria dos projetos continua no papel. Está tudo muito atrasado. Falta planejamento também aí.
AECweb – O mercado de locação de máquinas acompanha o de vendas?
Daniel - Sim, vem crescendo bastante: hoje equivale a 25% do mercado de vendas de máquinas e, em breve, chegaremos a 30%. A locação complementa muito bem a necessidade do mercado. É um segmento que cresce com eficiência, organização e condições de atender as grandes obras - a ponto de chamar a atenção de empresas de fora.
Redação AECweb