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Materiais de limpeza sustentáveis para edifícios são minoria

Mercado nacional carece de opções para limpeza verde. Isso prejudica empreendimentos que buscam a certificação LEED EB O&M, do USGBC, para operação e manutenção

Publicado em: 28/02/2013Atualizado em: 01/04/2021

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

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A falta de produtos sem o selo Green Seal no mercado Brasileiro prejudica os empreendimentos candidatos à certificação LEED EB O&M, concedida pelo USGBC (foto: FrameAngel/shutterstock)

Quem pretende manter uma edificação limpa sem ‘sujar’ o planeta, encontra dificuldades no momento de localizar produtos com baixo impacto ambiental. Isso porque, no Brasil, esse mercado conta com raras opções disponíveis. Cenário oposto ao que ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos, onde já existem muitos artigos para limpeza certificados com o selo Green Seal, que avalia se os produtos respeitam critérios de sustentabilidade durante toda sua vida útil, desde a extração até o descarte.

Essa carência prejudica os empreendimentos candidatos à certificação LEED EB O&M, concedida pelo USGBC - Green Building Coucil – para operação e manutenção, já que um dos requisitos é a política de limpeza ‘verde’, que deve ser implantada e será seguida por seus ocupantes. A utilização de materiais acreditados deve fazer parte deste plano, como explica a arquiteta Monique Evelyn Godoi, consultora em certificação LEED EB O&M da OTEC. “Para ser aceito pelo LEED, os produtos de limpeza devem ter o selo Green Seal ou o Environmental Choice. Eles ainda podem apresentar um eco selo tipo 1, de acordo com a ISO 14024:1999”, diz. A prática de uma limpeza de baixo impacto ambiental permite pleitear até cinco pontos no LEED.

Como no Brasil só há um produto multiuso certificado pelo Green Seal, caso ele não se enquadre nas características do projeto, a única opção é importar. “O custo para importação não é tão alto, mas causa um aumento no preço que torna os artigos ecológicos mais caros do que aqueles mais procurados pelo público brasileiro. Outra problemática é a emissão de gases nocivos ao meio ambiente gerados durante o transporte, o que contraria a busca pelo baixo impacto ambiental e inviabiliza a sustentabilidade do processo”, fala Monique.

A falta de novas alternativas no mercado nacional também pode ser explicada pelo fato do Green Seal ser uma entidade estrangeira. “Como o selo exigido pelo LEED é norte-americano, é mais fácil acreditar os materiais produzidos nos Estados Unidos, motivo pelo qual o país tem vários artigos certificados. Isso não inviabiliza que novos produtos brasileiros venham a obter o selo Green Seal. Contudo, como o mercado não demanda esse tipo de solução, os fabricantes não se empenham, pois a certificação exige esforço e o aumento no custo final do produto”, afirma Monique, que completa: “Como o público ainda não tem o costume de optar por itens ‘verdes’, provavelmente não pagaria pelo aumento do preço”.

Segundo a arquiteta, o consumidor não tem ciência da importância do uso de soluções sustentáveis, porque desconhece os malefícios que o uso dos produtos convencionais causa à natureza, às pessoas que efetuam a manutenção do local e também aos usuários que ocupam e transitam pelo ambiente. “Entre os problemas causados pelos materiais de limpeza mais utilizados está a emissão de compostos orgânicos voláteis (COV) que são agentes prejudiciais à saúde dos seres vivos e ao meio ambiente. O processo de fabricação desses produtos também pode ser muito negativo, seja pela grande quantidade de poluentes emitidos ou a utilização dos recursos naturais de maneira ineficiente”, alerta.

Em alguns casos, o mesmo produto que é vendido nos Estados Unidos como certificado, também é comercializado no Brasil, porém com uma fórmula diferente. Isso ocorre porque a Anvisa determina limites para os componentes químicos diferentes daqueles definidos pelas normas americanas. “Quando isso acontece, é necessário recertificar o produto, com a composição seguindo as normas brasileiras. A adoção desta prática depende do esclarecimento e da cobrança do mercado consumidor junto aos fornecedores”, explica a arquiteta, que completa: “Este é um investimento de longo prazo. A problemática atual é que o mercado ainda não visualiza a importância de adquirir produtos mais sustentáveis, ou seja, falta informação e divulgação”.

Também existem as empresas que anunciam seus produtos como ecológicos, quando, na verdade, eles nada mais são do que produtos convencionais com poucas alterações e que não trazem muitos benefícios do ponto de vista da sustentabilidade. “Há fabricantes que utilizam esse argumento apenas para fazer marketing. Entretanto, também há aquelas que fabricam produtos de menor impacto ambiental, mas não possuem nenhum dos selos de sustentabilidade aceitos pelo LEED. É fundamental que as certificações que garantem desempenho ambiental sejam atribuídas por uma terceira parte isenta, o que confere confiabilidade aos critérios adotados para sua classificação. Infelizmente, isso não acontece com frequência no mercado brasileiro e, muitas vezes, induz o consumidor à compra de um produto erroneamente classificado como ‘de impacto ambiental reduzido’”, diz Monique.

O fato de um fabricante não atestar a sustentabilidade de seus produtos por meio de um selo homologado pela certificação LEED pode incluir situações nas quais, por exemplo, o produto final é de baixo impacto. Porém, o processo de fabricação gera uma grande quantidade de poluentes ou não utiliza os recursos naturais de maneira eficiente. “Devido a situações como esta, a certificação LEED EB O&M restringe o aceite dos selos ambientais de produtos, de modo a garantir confiabilidade de que, além de o material ter impacto ambiental reduzido, o fabricante trabalha com um processo produtivo eficiente e de baixo impacto ambiental”, finaliza a arquiteta.

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Colaboração técnica

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Monique Evelyn Godoi – É arquiteta urbanista formada pela Universidade Federal de Mato Grosso. É pós-graduanda em Construção Sustentável. Atua como coordenadora de projetos LEED EB O&M na OTEC. Presta consultoria a gerentes de site, assim como administradores e facilities, a fim de auxiliá-los na implantação e aprimoramento de operações e manutenções sustentáveis, colaborando com a criação e adaptação de técnicas que sejam eficientes, econômicas, otimizem o consumo de energia e ambientalmente responsáveis. Também tem experiência em desenvolvimento de projetos de arquitetura, urbanismo e de interiores, assim como em acompanhar a execução de obras.