Megaguindaste da Arena Corinthians altera configuração do espaço aéreo
O equipamento estaria a 100 metros da altura informada e mobilizou a Associação Brasileira de Pilotos de Helicópteros – Abraphe, que pediu atenção redobrada aos pilotos que sobrevoavam a região
Levantar os gigantescos módulos da cobertura da Arena Corinthians, na Zona Leste de São Paulo, foi sem dúvida um desafio de engenharia que exigiu a utilização de um dos maiores guindastes sobre esteiras em operação no Brasil. O equipamento da marca Liebherr (LR 11350) de 1,5 toneladas e 114 metros, o equivalente a um edifício de 40 andares, foi o único capaz de levantar o módulo principal de estrutura metálica, com 150 toneladas e 77 m que cobre o estádio.
A operação, de segurança máxima, mobilizou 50 funcionários, muitas horas de estudos e avaliações e cálculos, e uma tensa mobilização em que milímetros de desvio ou erro de cálculo poderiam significar danos, paralisações e acidentes graves. Medidas extremas foram tomadas para o içamento e parte da obra da Arena teve que ser paralisada.
O que ninguém contava, no entanto, é que o megaguindaste entrasse na rota dos aviões que pousam no Aeroporto Internacional de São Paulo e também na rota dos helicópteros que sobrevoam a região. O processo de cobertura da Arena, além da sua própria complexidade, acabou gerando uma grande polêmica que provocou alterações na altura dos vôos.
Embora nenhuma companhia aérea tenha feito a reclamação formalmente, o Serviço de Proteção ao Vôo de São Paulo (SRVP-SP) e a Aeronáutica constataram que o equipamento realmente estava na rota. A Aeronáutica expediu um alerta para informar oficialmente os pilotos e para que as empresas estabelecessem seus procedimentos.
O uso de equipamentos com altura elevada requer autorização prévia do Comando Aeronáutico e a devida sinalização para que não haja conflito com as operações no espaço aéreo, preservando a segurança de vôo e a tranquilidade em solo.
A Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero – Abraphe explica que a altitude utilizada pelos helicópteros pode variar entre as capitais e demais municípios pelo país, por isso, é imprescindível que o empreendedor tenha conhecimento da altitude regulamentar para as aeronaves na região onde estabelecerá o empreendimento para que a regulamentação seja cumprida devidamente durante todo o período de uso do equipamento de elevação.
Considerada a maior associação de pilotos civis de helicóptero do mundo, a Abraphe se mantém atenta a qualquer indicação de seus associados e pilotos em operação sobre empreendimentos que possam colocar em risco o espaço aéreo na capital ou em qualquer outra localidade. A qualquer ocorrência, a entidade se mobiliza em informar o órgão regulador e os pilotos em operação na área para prevenir acidentes e garantir a segurança de vôo.
Segundo a Abraphe, existem outras obras em São Paulo cujos guindastes são obstáculos no espaço aéreo. Na Zona Sul, alguns guindastes ficam sobre prédios e também interferem nos vôos. Alguns guindastes são bem iluminados e têm nota expedida pelos responsáveis pela fiscalização do espaço aéreo, mas outros ficam apagados, prejudicando a visualização durante a noite.
Autorizações
A autorização do Comando Aeronáutico e a devida sinalização antes de começar a operar são ações imprescindíveis. A comunicação entre pilotos e usuários do espaço aéreo, previnem ocorrências indesejáveis e arriscadas.
Para transportar o guindaste deste porte ou similar até o local é necessário cópia dos certificados de registro e licenciamento de veículos. A circulação de guindastes dotados de seis ou mais eixos, com peso por eixo igual ou superior a 12 toneladas, em rodovias de pista simples (uma faixa por sentido) exige a realização de estudo prévio do itinerário.
As solicitações são acompanhadas de documento para comprovação de peso tais como catálogos, declaração em papel timbrado do fabricante, importador ou implementador do mecanismo operacional, ou ainda de laudos técnicos realizados por entidades/órgãos competentes.
Helicópteros voando mais alto em São Paulo
A cidade de São Paulo tem 23 Rotas Especiais de Helicópteros (REH). O Serviço Regional de Proteção ao Voo (SRPV-SP) subiu 200 pés (cerca de 60 metros) a altitude dos veículos que sobrevoam a cidade. A medida que passou a valer desde de 13 de dezembro de 2012 afeta todas as rotas e minimiza o ruído em bairros residenciais como Lapa, Butantã e Pinheiros, na Zona Oeste, que concentram as reclamações.
Em alguns corredores da Lapa, os helicópteros que voavam a 914 metros, desde dezembro do ano passado, passaram a voar em 975 metros. Na Marginal Pinheiros, os helicópteros passam a voar com altitude acima de 1 km, ganho até maior do que os 60 metros.
Existe um plano da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) para diminuir ruídos e elevar o nível dos corredores. Entre aviões e helicópteros são cerca de 5 mil veículos diários circulando pelos céus da capital paulista. Especialistas dizem que os helicópteros em São Paulo voam mais baixo que no Rio, em Londres ou Nova York.
Sobre o megaguindaste
O guindaste sobre esteiras de 11,5 toneladas tem elevada dimensão de trabalho além da capacidade de carga ao longo de toda faixa operacional. Sua estrutura, embora pesada, possibilita um transporte simples dos componentes e rápidos tempos de montagem pela equipe de trabalho. O motor diesel, a hidráulica, a elétrica e a cabina são transportados como unidade completa. Com diversos sistemas de lança, o LR 11350 também é utilizável de forma flexível. Elevados padrões de segurança e conforto de operação complementam o leque de capacidades.
Esse é o mesmo modelo utilizado em Londres, antes da realização dos Jogos Olímpicos, para erguer a última e maior das pilastras para a montagem do sistema que conectou, por meio de um teleférico sobre o rio Tâmisa, duas instalações esportivas na região Leste da cidade.
Fontes: Abraphe, Odebrecht, Departamento de Controle do Espaço Aéreo, ANAC, SRPV-SP