Modernização na construção civil, é preciso avançar
Atrasado em relação ao uso de equipamentos, Brasil enfrenta dificuldades para aliar produtividade e tecnologia.
Redação AECweb
Apesar do uso crescente de máquinas e equipamentos como conseqüência da modernização da construção civil, o Brasil ainda se encontra atrasado em relação a outros países. As construtoras culpam a indisponibilidade de equipamentos fundamentais como as gruas, e os altos preços pagos no aluguel do maquinário. Outro problema é a dificuldade em trazer equipamentos de outros países – mesmo aqueles que não possuem modelos similares fabricados pela indústria nacional. “O Brasil, infelizmente, é um país atrasado quanto ao uso de equipamentos - caros e indisponíveis. Lá fora, o equipamento custa o equivalente ao que pagamos pelo aluguel de seis a 12 meses”, afirma Maurício Bianchi, diretor técnico da construtora BKO e vice-presidente de Tecnologia do SindusCon-SP. Para Joaquim Evangelista, gestor de obras da Racional Engenharia, como os equipamentos ainda são caros e a mão de obra é barata no país, a construção de uma casa, por maior que seja, acaba não utilizando uma grua, por exemplo. Bianchi concorda e completa: “Na Europa e Estados Unidos, todas as obras, inclusive as residências utilizam guindastes”.
DIFICULDADE DE IMPORTAÇÃO
Equipamentos com preços mais acessíveis significariam canteiros de obras mais eficientes e seguros, e importante redução do desperdício de material. “O uso extensivo de máquinas facilita muito, pois o trabalho duro deixa de ser feito pelo homem. O custo cai, o tempo de execução diminui muito e, conseqüentemente, o produto final fica melhor”, diz Joaquim Evangelista. “A produtividade e a tecnologia caminham sempre juntas. O operário vai produzir mais e melhor, e estará menos cansado no dia seguinte, se for substituído pela máquina no transporte de cargas pesadas”, explica Maurício Bianchi.
Apesar das vantagens dos processos construtivos mecanizados, Bianchi estima que exista hoje em todo o Brasil cerca de 2 mil gruas em operação – número extremamente baixo. Como comparação, ele cita o exemplo da cidade chinesa de Shangai, onde há cerca de 15 mil gruas operando. “Há países em que você se cansa de ver guindastes em operação. É um equipamento maravilhoso, que deveria ser utilizado em abundância”, diz. Enquanto cresce o número de obras no Brasil, países como a Espanha assistem o declínio do setor, com muitos equipamentos parados. Ainda assim, o governo brasileiro impõe barreiras à importação desses equipamentos.
“Recebi empresários espanhóis, especialistas em estruturas de concreto, interessados em fazer uma obra aqui no Brasil. Eles queriam trazer seus equipamentos, que estavam parados na Espanha, mas não conseguiram. Falei com a CBIC - Câmara Brasileira da Indústria da Construção - e me confirmaram que é proibido importar determinados equipamentos, mas não souberam dizer o porquê”, explica Maurício. “Não facilitar a entrada de equipamentos que a gente não tem aqui é protecionismo. E protecionismo em excesso é retrocesso”, completa.
Diante desse cenário, o aluguel ainda é a opção mais viável para a maior parte das construtoras. “Nem sempre uma obra é igual à outra, o que leva a construtora depender de equipamentos diferentes, por isso locar costuma ser mais conveniente”, assegura Joaquim Evangelista. Normalmente os equipamentos que adquirem são aqueles usados na infraestrutura, como escavadeiras e tratores, em praticamente todo tipo de obra. “As empresas especializadas em locação fornecem também a mão de obra de operação, além da manutenção. Atendem muito bem as demandas das construtoras, o que acaba sendo um opção bem interessante”, completa.
USOS DE EQUIPAMENTOS
Quanto mais industrializada for a obra, maior o uso de equipamentos. De acordo com a BKO e a Racional, é o caso do concreto pré-moldado, fachadas cortinas e painéis de alvenaria. “O que determina a quantidade de equipamentos que será utilizado em determinada construção é o partido estrutural da obra”, explica Joaquim Evangelista, ilustrando com os galpões e shoppings que empregam largamente processos industrializados. “As peças já vem todas prontas e nós apenas montamos no local com o auxílio de guindastes”, diz Evangelista. Outra situação em que é indispensável a tecnologia das máquinas, são as obras na região central de São Paulo. “Pode ser até uma pequena obra no centro expandido, mas que exige uma quantidade de equipamentos muito maior do que uma grande na periferia. Por conta da restrição de horário, as construtoras devem utilizar meios técnicos e tecnológicos, devem inovar seus processos, para que o material seja descarregado rapidamente”.
As novas linhas de máquinas e equipamentos oferecidas ao mercado são sedutoras. Vão das argamassadeiras, específicas para se misturar argamassas, aos equipamentos para uso externo, como cadeirinhas e guinchos elétricos, mais seguros que os modelos mecânicos. “Precisa treinar muito mais o usuário de um equipamento que funciona com catraca do que o elétrico, que possui parada automática. A zona de segurança desse tipo de equipamento é muito confortável”, diz Maurício. As vantagens dessa evolução vão além: “Quando há uma estrutura industrializada, se utiliza muito menos madeira em uma obra. É uma forma de você ter uma obra mais limpa, com menos entulho, conseqüentemente, há uma vantagem ambiental”, completa Joaquim Evangelista.
Redação AECweb
COLABORARAM PARA ESTA MATÉRIA
Maurício Bianchi - Diretor Técnico da construtora BKO, especializada em edifícios residenciais. Atua, também, com vice-presidente de Tecnologia do SindusCon-SP.
Joaquim Evangelista da Costa - Gerente executivo da Racional Engenharia, construtora especializada nos segmentos industrial e comercial, e consultora de logística para grades indústrias.