Moderno e sustentável
Estádio do Corinthians adota conceitos sustentáveis desde o canteiro de obras e pretende ser o melhor do mundo em gramado e iluminação
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Redação AECweb / e-Construmarket
A Arena Corinthians, que transforma em realidade o sonho centenário da torcida corintiana de ter seu próprio estádio, está sendo construída observando conceitos sustentáveis e, a exemplo dos demais estádios da Copa do Mundo de 2014, pleiteia receber a certificação LEED. “Nosso objetivo sempre foi construir uma obra sustentável, independente de certificação”, afirma Glenan Pires Torres Júnior, engenheiro eletricista da Odebrecht Infraestrutura, ao comentar que serão implantados, entre outros, sistemas que viabilizam o consumo reduzido de água e eficiência energética.
O diretor do projeto, arquiteto Anibal Coutinho, do escritório CDCA – Coutinho, Diegues, Cordeiro Arquitetos – informa que os vidros das fachadas são translúcidos, quase opacos e que propiciam mais conforto aos usuários. “Os vidros importados da Bélgica foram serigrafados na Itália, com desenhos de bolas brancas que vão de 50% a 90% de opacidade”.
CLASSIFICAÇÃO
De acordo com Coutinho não há preocupação com a classificação ambiental – ouro, prata ou platina – do empreendimento. “Estamos preocupados com soluções que darão ganho efetivo e ofereçam maior vida útil para o prédio”, afirma ao explicar que o estádio foi projetado pelos escritórios de arquitetura CDCA/DDG, do Rio de Janeiro.
O empreendimento, diz o engenheiro Torres Júnior, terá reuso de água e utilização da água de chuva para atender os pontos de consumo não potáveis como sanitários, limpeza de pisos, garagens e jardinagem. “Os equipamentos de descargas sanitárias e metais terão sensores, garantindo consumo reduzido por usuário”, acrescenta. A instalação da energia terá proteções microprocessadas e multimedidores que propiciam as leituras das grandezas elétricas para monitoramento do consumo e registro de histórico.
Isto possibilita avaliar o perfil de consumo para melhor ajuste das condições de operação. O complexo terá controle de uso de energia comparativo em relação ao contratado junto à concessionária, de maneira a evitar a ultrapassagem dos limites sujeitos a multas.
Para garantir a temperatura ambiente adequada, o sistema de ar-condicionado será automatizado. “Os sensores inteligentes vão possibilitar o controle de temperatura setorizado dentro do estádio, de maneira a manter temperatura de conforto aos torcedores e consumo de energia eficiente, de acordo com a ocupação do estádio”, diz.
GERAÇÃO PRÓPRIA
O engenheiro Torres Júnior informa que o estádio será equipado com placas de geração de energia solar fotovoltaica na parte translúcida da cobertura: “O projeto da Odebrecht Energia prevê que o sistema de geração própria da arena tenha potência de 1 MW e será ligado à rede de distribuição da concessionária, que receberá a energia gerada e não consumida”. O arquiteto Coutinho comenta que o estádio receberá uma lâmina plástica de 4,5 mil m² com células fotovoltaicas. “Na estrutura metálica, será instalado moderno sistema de geração de energia solar fotovoltaica. Em cada ponta terá 15 m de vidro com os layers fotovoltaicos, sendo o único processo que possibilitará ao usuário ver os equipamentos, mesmo estando sob a cobertura”.
Coutinho conta que o estádio terá também um equipamento de geração de energia eólica. “Vamos instalar uma turbina eólica mais moderna, de eixo vertical, que vai gerar pouca energia, pois tem caráter mais educativo. Esse sistema não tem pás, como os tradicionais. Ele gira em torno do próprio eixo, gerando energia”.
GRAMADO
Além de gerar energia eólica, o vento será aproveitado para refrescar o ambiente. Coutinho explica que foram projetados dois sistemas de ventilação natural no estádio, visando conforto para os torcedores e aeração do gramado. A cobertura terá curvaturas que empurram o ar para a arquibancada. “A tendência seria o vento passar por cima do estádio, mas fizemos um turbinamento que possibilita jogar o ar para baixo e para vários ângulos. Outro sistema refrigera o gramado, permitindo a aeração das raízes e garantindo o uso da grama o ano todo”, afirma ao assegurar que o estádio do Corinthians será considerado o melhor do mundo em, pelo menos, dois aspectos: gramado e iluminação. “O campo, além da boa ventilação, terá drenagem a vácuo, secando a água em vez de armazená-la”, diz. O engenheiro Torres Júnior complementa que as fachadas norte e sul do estádio serão abertas, sem arquibancada superior, facilitando a circulação do ar.
O sistema de iluminação foi projetado para permitir transmissões de televisão em três dimensões (3D) e 360 graus. Como a luz do campo de futebol será muito forte, o que poderia incomodar os moradores da vizinhança e os usuários da Radial Leste, o projeto foi concebido para que não ofusque os torcedores e nem tenha vazão externa, garantindo conforto dentro e fora do campo.
Coutinho explica que os projetores que serão utilizados no campo possuem nível de iluminação 50% acima dos padrões exigidos pela Fifa, com facho de luz controlado para evitar o ofuscamento no público presente. A parte interna será iluminada com lâmpadas fluorescentes e luminárias de LED e a parte externa da fachada contará com o maior painel de LED já aplicado em estádios. O nível de uniformidade horizontal irá proporcionar melhor iluminação, tanto para o público presente, quanto para a transmissão de TV em alta definição.
ACESSO
O arquiteto afirma que para beneficiar o espectador foi planejado um empreendimento totalmente acessível. “Em vez de escada, a locomoção será feita por elevadores e plataformas. Projetamos uma arena com acessibilidade universal. O estádio terá elevador exclusivo para cadeirantes ou portadores de qualquer outro tipo de deficiência. Todos os lugares para quem tem dificuldades motoras estão localizados no térreo e oferecem a mesma visibilidade das cadeiras especiais do Pacaembu”, diz.
Além do estádio, o empreendimento conta com centro de convenções, centro de eventos, centro cívico, bares, restaurantes, lojas e museu. “Do lado de fora do estádio teremos jardins públicos e áreas de convivência. A ideia é tratar o estádio como uma estrutura viva e próxima das pessoas,” explica Coutinho, ao comentar que o Corinthians planeja levar 2 milhões de pessoas por ano ao estádio para seus eventos e visitas ao museu do clube, o que deve provocar grande impacto na região.
Para ele, o estádio é privilegiado em termos de mobilidade urbana. O palco da abertura da Copa do Mundo de 2014 está situado ao lado da estação de trem Itaquera da CPTM, das estações do Metrô Corinthians-Itaquera e Artur Alvim, de um terminal de ônibus e da futura rodoviária de Itaquera. Quem for ao estádio com veículo próprio terá 2,5 mil vagas no estacionamento (930 cobertas) à disposição.
CAPACIDADE
Sobre a capacidade de 48 mil lugares, Aníbal Coutinho afirma que o projeto respeitou a análise de demanda, uma vez que o público médio do Corinthians é de 19 mil espectadores. Mas para o jogo de abertura da Copa de 2014 serão instalados 20 mil assentos removíveis, que serão montados atrás de cada gol, formando anéis superiores temporários, ampliando a capacidade do estádio para 68 mil lugares. As estimativas são de que na saída dos jogos os espectadores devam precisar de apenas oito minutos para deixar o estádio.
CANTEIRO DE OBRAS
O engenheiro Torres Júnior afirma que o trabalho de construção da Arena Corinthians tem sido conduzido conforme as recomendações legais. O principal foco nessa fase, diz, é a gestão de todo o resíduo gerado, que, por meio da segregação em caçambas e baias identificadas, é destinado a um receptor devidamente licenciado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB).
Com a exceção do lixo comum, que é destinado ao aterro sanitário, os demais resíduos são reciclados, a exemplo do papel e papelão das embalagens, juntamente com os plásticos, que são destinados a empresas de reciclagem. “A parceria com o Projeto Recicle, em fase de implantação, destina parte do resíduo de plástico gerado pelos copos descartáveis e embalagens para produção de materiais como canetas e baldes”. Outro material que passa pelo processo de reciclagem e retorna aos canteiros de obras é a sucata de metal. “Após ser recolhida em caixas apropriadas, retorna à siderúrgica onde será utilizada na produção de barras de aço”, diz.
O entulho, resíduo produzido em maior quantidade, é reaproveitado. Restos de concreto, tijolos e blocos, são triturados e utilizados para o recobrimento de aterros e acessos viários do canteiro. A sucata de madeira, depois de passar por um processo de corte e moagem, é coprocessada e usada para fabricação de placas divisórias e madeirites.
Segundo o engenheiro, os dejetos perigosos, como o óleo lubrificante queimado e os resíduos ambulatoriais também têm destinos ambientalmente corretos, por meio do re-refino do óleo e da incineração controlada do resíduo ambulatorial. “As ações de coleta seletiva e destinação correta só são válidas devido ao alinhamento entre as equipes, através da educação ambiental realizada por meio de treinamento diário no canteiro de obras”, diz.
Produtos como madeira, areia e brita são comprados apenas de fornecedores devidamente licenciados junto ao órgão ambiental. “Toda madeira utilizada na obra possui o registro DOF no IBAMA, que comprova sua origem de manejos registrados e certificados”, diz Torres Júnior. A usina de concreto instalada no canteiro faz o reuso do efluente gerado, que, após a sua decantação volta para o processo construtivo, e parte é utilizada para molhar o piso das vias, visando a redução de materiais particulados no ar.
COLABORARAM PARA ESTA MATÉRIA
Glenan Pires Torres Júnior, engenheiro eletricista, formado pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, trabalhou em diversas obras industriais e prediais, como por exemplo o Centro Administrativo de Minas Gerais e o Programa Luz para Todos, também naquele Estado. Está na Odebrecht desde 2005. Na obra da nova Arena do Corinthians é responsável por instalações de sistemas especiais, como ar- condicionado, sistema elétrico e hidrossanitário.
Aníbal Coutinho é arquiteto, sócio do escritório CDCA Arquitetos - Coutinho, Diegues e Cordeiro, e diretor de projeto da Arena Corinthians. Formado em arquitetura e urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1978, no ano 2000 presidiu a Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (Asbea) do Rio de Janeiro.