Movimentação de pré-fabricados de grande porte requer logística sofisticada
Transporte urbano começa a ser planejado antes mesmo da produção das peças, ainda na etapa de projeto
Elementos pré-fabricados de concreto são comumente utilizados em obras de grande porte como estratégia para adicionar racionalidade, industrializar o processo construtivo e abreviar o tempo de execução das obras. Mas por causa da dimensão das peças, a logística por trás dessa solução construtiva é complexa, tanto no trajeto entre a fábrica e o local da obra, quanto dentro do canteiro. “Para se ter uma ideia, várias obras deixam de ser contratadas por falta de condições de acesso ao local da edificação”, comenta o engenheiro Vitor Almeida, diretor da T&A. “Vigas para pontes com 40 m de comprimento não conseguem fazer a maioria dos retornos rodoviários”, exemplifica.
O problema torna-se ainda mais crítico em grandes centros urbanos, em obras realizadas em terreno pequeno e em ruas muito movimentadas, perto de fios de alta tensão. “As grandes cidades impõem como desafio não somente o tráfego complicado, mas também terrenos complexos para a movimentação de guindastes. Tudo isso demanda um estudo detalhado para definição do sistema e para a montagem da estrutura”, comenta a engenheira Íria Lícia Oliva Doniak, presidente-executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (ABCIC).
Guindaste movimenta viga pré-fabricada de concreto (Roman023_photography/ Shutterstock.com)
PLANO LOGÍSTICO
Em obras com pré-fabricados é fundamental definir previamente todo o trajeto a ser percorrido da fábrica ao canteiro, os acessos à obra, bem como a especificação dos equipamentos adequados para a movimentação, que vão de muncks a guindastes e gruas, passando também por dispositivos de içamento.
O ideal é que o planejamento logístico seja feito paralelamente ao projeto da estrutura. “Nessa etapa, a definição do módulo deve ser levada em consideração, pois define não somente as tecnologias adotadas na produção dos elementos, como também o tamanho das peças, dimensão e peso”, explica Doniak.
TRANSPORTE DE PRÉ-FABRICADOS
A escolha do sistema de transporte das peças pré-fabricadas deve tomar como base as quantidades transportadas e as características dos equipamentos disponíveis quanto à capacidade, velocidade, confiabilidade e custo. O tempo de transporte, uma das variáveis na escolha do sistema pré-fabricado, é sensivelmente impactado pela eficiência da mão de obra e da velocidade e capacidade dos equipamentos empregados.
O transporte pode ser feito pelo próprio fabricante ou por empresa transportadora ou montadora. O fundamental é que a empresa tenha competência nesse tipo de operação.
O caminhão ou balsa deve ser o menor possível desde que suporte o total da carga prevista. “Não se deve enviar peças pequenas em carretas grandes, mesmo que isso seja melhor do ponto de vista financeiro”, alerta Almeida. O frete deve atender às exigências das rodovias locais. Em caso de peças muito grandes e mais complexas, transportes especiais e batedores poderão ser requeridos.
Visando minimizar riscos e elevar a velocidade da operação, o transporte pode ser planejado para acontecer em horários alternativos, como de madrugada. O posicionamento das peças no caminhão deve ser cuidadoso para evitar que elas se movimentem excessivamente ou se quebrem antes mesmo de chegarem ao seu destino.
De acordo com ABNT NBR 9062/2006, norma técnica que trata do projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado, se os elementos de concreto precisarem ser empilhados, eles devem ser intercalados com dispositivos de apoio, como cavaletes, caibros ou vigotas, constituídos ou revestidos de material macio. Isso evita o atrito entre as peças e garante a estabilidade, impedindo tombamentos e deslizamentos durante o trajeto.
Para o descarregamento, os elementos pré-fabricados são suspensos e movimentados por máquinas, equipamentos e acessórios dispostos em pontos de suspensão nas peças de concreto.
A movimentação das peças pré-fabricadas de concreto exige a presença de equipamentos de movimentação de grande capacidade no canteiro. “Para obras de grande porte, recomenda-se a utilização de grua. Para construções pequenas, uma boa opção são os guindastes RT, que movimentam as quatro rodas”, afirma o engenheiro Vitor Almeida.
ESTRATÉGIAS LOGÍSTICAS
Sempre que possível, o transporte de peças demasiadamente grandes deve ser evitado com a divisão das peças. Nesses casos, é importante estudar no projeto o funcionamento das ligações (conexões entre os elementos), aspecto que, juntamente com a modularidade, é essencial no estudo de viabilidade de um determinado empreendimento.
Uma alternativa é produzir uma parte dos elementos na fábrica e outra parte no canteiro de obras, a exemplo do que foi feito na construção da Arena Corinthians, em São Paulo. Nessa obra, as vigas Jacaré que apoiam as arquibancadas do estádio foram produzidas numa planta móvel instalada no próprio canteiro. Já as peças menores e as lajes alveolares foram produzidas na indústria e conduzidas ao local de montagem por caminhões.
Colaboração técnica
- Íria Lícia Oliva Doniak – engenheira civil formada pela PUC-PR, presidente-executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (ABCIC)..
- Vitor Almeida – engenheiro civil, diretor da T&A Pré-Fabricados.