Museu da Natureza irá incentivar turismo em sítio pré-histórico
O projeto com financiamento do BNDES visa melhorar a infraestrutura no Parque Nacional da Serra da Capivara, Piauí, com potencial para até 1 milhão de visitantes por ano
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Localizado no Piauí, o Parque Nacional da Serra da Capivara foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco, em 1991. O lugar abriga a maior concentração de sítios pré-históricos das Américas e foi nessa área que a arqueóloga brasileira Niède Guidon, presidente da Fumdham – Fundação Museu do Homem Americano – encontrou pinturas rupestres que comprovam a presença de seres humanos no local, há pelo menos 50 mil anos. Esse é o mais antigo registro da existência do homem no continente.
Para melhorar a infraestrutura local e incentivar as atividades de turismo, a Fumdham em parceria com a AD Arquitetura (A. Dell’Agnese Arquitetos Associados) criaram o projeto do Museu da Natureza. A iniciativa já conta com o apoio financeiro de R$ 13,7 milhões disponibilizado pelo BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento. Há, também, o projeto do Hotel & Resort Park, em fase de estudos de viabilidade e aguardando investidores para a sua construção.
O Parque Nacional da Serra da Capivara, distante 576 km da capital Teresina, poderia ter um milhão de visitantes por ano, mas só recebe em torno de 20 mil. Boa parcela é constituída por estrangeirosLuiz Ciampi
Segundo Niède, o Parque Nacional da Serra da Capivara, distante 576 km da capital Teresina, poderia ter um milhão de visitantes por ano, mas só recebe em torno de 20 mil, sendo boa parcela constituída por estrangeiros. Mesmo carente de meios de hospedagem, o número de turistas cresce em torno de 15% ao ano.
PROJETO MUSEU DA NATUREZA
Localizado em meio ao complexo de cânions, em uma área de 18 mil m², o projeto do Museu da Natureza incorpora forma orgânica baseada em uma rampa helicoidal, que representa no sentido ascendente a evolução dos eventos geológicos e paleontológicos desde as origens da região até a contemporaneidade. “A forma arquitetônica procura replicar uma das pinturas encontradas no local. Serão 4 mil m² de área construída dentro da área do parque, com visão para um dos atrativos locais, a Pedra Furada – formação rochosa com furo e, sob ela, um auditório onde a Fundham promove eventos culturais”, explica Luiz Eugenio Ciampi, diretor da AD Arquitetura, acrescentando que o edifício terá altura equivalente a quatro pavimentos.
ACESSIBILIDADE
O acesso ao museu será feito pela parte mais alta do terreno, em um platô. Nele uma construção em linhas mais retas abrigará a bilheteria, a lanchonete e os sanitários. A partir daí o visitante entra em uma rampa ascendente, um circuito de visitação na forma de um grande corredor no qual as peças serão expostas. “Projetamos para o alto da espiral um grande terraço cercando a cúpula, que oferece uma belíssima vista panorâmica para o parque e a Pedra Furada. O terraço terá a aparência de um deck e poderá ser usado também para exposição ao ar livre. Deverá contemplar bancos para que os visitantes possam sentar e admirar a paisagem”, diz Ciampi.
A forma arquitetônica procura replicar uma das pinturas encontradas no local. Serão 4 mil m² de área construída dentro da área do parque, com visão para um dos atrativos locais, a Pedra Furada – formação rochosa com furo e, sob ela, um auditório onde a Fundham promove eventos culturaisLuiz Ciampi
O acesso ao interior do prédio é feito por uma segunda rampa. Esse ambiente abrigará outro espaço expositivo dos fósseis encontrados na região, a exemplo do esqueleto da preguiça gigante encontrada na região, além da reprodução de alguns animais chamados de média fauna. “Uma grande cúpula envidraçada iluminará o núcleo do prédio. O visitante passará de um ambiente escuro e climatizado, com projeto luminotécnico da empresa Magnetoscópio –do conhecido designer e curador de exposições Marcello Dantas –, para um terraço ao ar livre com uma linda vista. Na sequência, ele voltará para o núcleo do prédio, agora, desfrutando da iluminação natural”, conta o diretor.
PROGRAMA CULTURAL
Luiz Eugenio Ciampi explica que o térreo do prédio principal deve dispor de diversos serviços como sanitários, administração do museu, acervo técnico e um pequeno auditório para 80 pessoas. Nesse auditório poderá haver a exibição de filmes que complementem exposições e seminários, como os que a Fundham realiza com cientistas e pesquisadores do mundo inteiro. “Saindo do museu há uma grande praça, com visual exuberante, e um anfiteatro para eventos culturais promovidos no dia a dia do museu, que também podem ser realizados na área externa”, relata.
Segundo Ciampi, esses acontecimentos favorecem, principalmente, a população carente, que participa ativamente de todos os eventos promovidos. “A população tem sede de cultura e deverá comparecer ativamente aos eventos realizados por lá”, supõe. Nessa área térrea, haverá também uma loja da Fundham com produtos como a cerâmica à venda, sendo uma oportunidade de divulgar os trabalhos realizados pela fundação.
SISTEMA CONSTRUTIVO
De acordo com o diretor, o sistema construtivo do Museu da Natureza será todo metálico. O terreno é arenoso, o que dificulta o projeto de fundações de concreto. Dentro da área de 18 mil m² há uma erosão muito grande, uma espécie de buraco no terreno que exigirá a realização de ajustes no solo. O clima semi-árido da região garante um terreno bastante estável.
“Um dos motivos para a especificação das estruturas metálicas na construção do museu foi a inexistência de obra qualificada para concreto na região, além da grande distância em relação às capitais. Em termos logísticos, a estrutura metálica chega pronta, em pedaços, o que facilita a construção. Será preciso somente levar montadores da capital para acompanhar a montagem”, explica Luiz Eugenio Ciampi. Ele também comenta que no Brasil não há outro edifício circular e em espiral construído com estrutura metálica. “Somente no exterior há alguns exemplos”.
Um dos motivos para a especificação das estruturas metálicas na construção do museu foi a inexistência de obra qualificada para concreto na região, além da grande distância em relação às capitais. Em termos logísticos, a estrutura metálica chega pronta, em pedaços, o que facilita a construçãoLuiz Ciampi
Ciampi relata que os fechamentos das estruturas metálicas serão feitos com placas cimentícias que deixam o local pronto para pintura ou para a instalação de qualquer outro revestimento. “Elas podem ser curvadas e, mediante uma estrutura auxiliar, são aparafusadas, conferindo o formato circular ao edifício”, conta. As cores dos acabamentos devem atender a aspectos regionais, com destaque para os tons das rochas e da terra avermelhada. “A ideia é criar tonalidades que remetam à natureza local e, ao mesmo tempo, se destaquem para que o museu fique evidente na paisagem”, arremata.
FÁCIL MANUTENÇÃO
“Surpreendentemente, o prédio com sistema estrutural arrojado, em função da logística, é simples e com fácil manutenção. Essas foram as premissas usadas no projeto”, expõe Luiz Eugenio Ciampi. A explicação é simples: a Fumdham, entidade sem fins lucrativos que depende de patrocínio, vai operar e fará toda a manutenção necessária no museu. “Embora não seja o caso da utilização de sistemas ultramodernos que onerem a manutenção”, comenta e exemplifica: “Não haverá elevador no edifício para evitar que, se quebrar uma peça, ele fique um longo período desativado”.
Mesmo sem buscar a certificação, todos os sistemas de instalações elétricas, hidráulicas e ar condicionado atendem as boas práticas de projeto para a sustentabilidade do edifício. “Está previsto o reúso da água de chuva com a construção de um tanque de retenção e uma pequena ETE – Estação de Tratamento de Esgoto –, já que não há rede pública local”, revela Luiz Eugenio.
HOTEL & RESORT
O projeto do Hotel & Resort Park será implantado em um platô elevado e terá 29,1 mil m² de área construída. “Além de vista única para o complexo de cânions, o hotel atenderá a demanda do mercado por hospedagem. Será a infraestrutura hoteleira e de lazer pioneira na região, polo das operações turísticas e ecoculturais para o futuro. Em sua planta estão previstos 128 apartamentos standard com 26 m² cada, além de 32 suítes especiais de 52 m²”, finaliza o arquiteto. Tanto a Fumdham como a AD Arquitetura buscam investidores para o empreendimento hoteleiro.
Veja também o projeto do MAR – Museu de Arte do Rio, de Bernardes + Jacobsen Arquitetura, e do Museu da Memória, do Estúdio América, na Galeria da Arquitetura.
Colaborou para esta matéria
- Luiz Eugenio Ciampi – Graduado em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Católica de Santos, é especializado em criar soluções eficientes para os segmentos de projetos relacionados à Indústria e Logística, também com vasta experiência nos segmentos esportivos e corporativos. Participou de diversos projetos de arquitetura e planejamento urbano em Santos, com cinco anos de experiência em obras públicas na cidade portuária, estendendo sua participação como profissional na AD Arquitetura há mais de dez anos, com obras em todo o país. Tem especializações na área de Indústria e Logística.