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Nasce o primeiro ZEB da América Latina

Projeto de edifício Zero Energy Building pode marcar o Brasil como pioneiro no assunto

Publicado em: 03/02/2010

Texto: Redação AECweb



Nasce o primeiro ZEB da América Latina

Redação AECweb

O mercado vai conhecendo aos poucos, em apresentações como a ocorrida no auditório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, o projeto do primeiro edifício ZEB – Zero Energy Building – da América Latina. Com o início das obras previsto para 2010, no campus da universidade, o CECAS - Centro de Estudos de Clima e Ambientes Sustentáveis – terá 8 mil m2 de área construída e deverá adotar sistemas e tecnologias que garantam sua autonomia energética.

Por sua complexidade, o projeto reúne equipes multidisciplinares da própria FAU, da Escola Politécnica e do Instituto de Engenharia e Eletrotécnica, coordenadas pelo professor Marcelo Romero, vice-diretor da FAU. Ele e os demais profissionais envolvidos buscam o apoio financeiro da iniciativa privada, especialmente na forma de doações de produtos e serviços.


“O projeto está orçado em cerca de R$ 20 milhões, sendo que o poder público arcará com R$ 5,7 milhões e os R$ 14,3 milhões virão do setor da construção civil”, afirma Romero, que assina o projeto arquitetônico junto com o arquiteto Eduardo Rodrigues. Segundo ele, não há patrocinadores para a maioria dos itens, mas estão sendo negociadas parcerias junto a empresas nacionais e internacionais. Até mesmo a execução da obra poderá surgir entre “potenciais candidatos do mercado”. Afinal, a expectativa é de que o CECAS venha a alcançar grande visibilidade, no país e no exterior.

“Acreditamos que esta seja a primeira edificação com o conceito de ZEB a ser construída na América Latina e, portanto, seu impacto será muito grande. Esta edificação servirá como ponto de partida para outras iniciativas semelhantes no Brasil e nos países vizinhos”, prevê o professor Alberto Hernandez, da POLI/USP, pesquisador responsável pela climatização do prédio. Ele comenta que os membros do parlamento europeu já discutem legislação que obrigará as novas construções do continente a produzir sua própria energia a partir de 2019, devendo alcançar um percentual mínimo de edificações energia-zero até 2020. “Isto mostra que este conceito de edificação se tornará cada vez mais frequente e o Brasil terá um papel marcante como pioneiro neste sentido com a construção desta edificação”, diz.

O EDIFÍCIO
O CECAS será construído em terreno situado ao lado do atual prédio do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas. Abrigará um laboratório de Ciências Climáticas, a Rede de Pesquisas Climáticas e o Laboratório de Sustentabilidade e Eficiência Energética. “O corpo docente e de pesquisadores entendeu que a USP teria condições de projetar um edifício exemplo de baixo consumo, e que englobaria diversas tecnologias de ponta, de forma a promover os conceitos de eficiência energética e sustentabilidade”, explica Romero. O passo seguinte foi reunir as equipes, divididas em função dos diversos aspectos e sistemas que envolvem o projeto de um ZEB. “Os pesquisadores e docentes atuam, muitas vezes, em mais de uma equipe”, observa Hernandez que cita as seis principais áreas: Geração de energia solar; Climatização e ventilação; Materiais e proteção da envoltória; Uso racional de água; Reciclagem; Geração de energia por biomassa e célula combustível.


“Há vários níveis de Zero Energy Building. Escolhemos manter o prédio conectado à rede elétrica, sabendo que haverá momentos em que ele doará energia e, em outros, consumirá aquela oferecida pela distribuidora. Na média anual, nossa meta é que ele seja superavitário, ou seja, produza mais energia do que vai consumir”, enfatiza o professor Hernandez. São cerca de 72 sistemas, parte deles já existentes no Brasil. Outras tecnologias deverão ser importadas, como o sistema de climatização solar, células fotovoltaicas e células combustível. Um edifício ZEB utiliza tecnologias passivas, ativas e pró-ativas, e a especificação está em fase de detalhamento.


Em princípio, estão sendo analisadas as seguintes tecnologias:
- Uso da inércia térmica das paredes para redução do ganho de calor;
- Orientação da edificação e posicionamento das aberturas para fazer uso da ventilação natural;
- Proteção exterior para sombreamento das áreas envidraçadas para redução da entrada de calor;
- Uso de sistemas de resfriamento do ar, por meio de geotermia com trocadores de calor posicionados no solo próximos a edificação;
-Isolamento das envolventes opacas nos ambientes condicionados para minimizar a carga térmica, a ser retirada pelo sistema de climatização;
- Controle automático de persianas para aproveitamento da iluminação natural, com redução do consumo do sistema de iluminação artificial;

- Sistema de gerenciamento do consumo dos diversos usos finais e medição da energia consumida e gerada na edificação;
- Uso de sistemas com células fotovoltaicas para geração de energia;
- Uso de sistema de climatização por absorção, utilizando coletores solares e geração de calor com biomassa;
- Uso de coletores solares para fornecimento de água quente para a edificação;
- Geração de energia elétrica por meio de células a combustível;
-Uso de biodigestor com biomassa gerada no campus da USP para produção de metano, que será utilizado na iluminação externa da edificação.

Para ser um edifício sustentável, não adianta apenas ser ZEB. Daí que o CECAS está sendo planejado para incorporar os conceitos de sustentabilidade. “O objetivo é reunir todas as boas práticas de projeto, construção e operação que servirá de laboratório e referência dos conceitos de eficiência energética e sustentabilidade”, destaca o engenheiro. Segundo Marcelo Romero, inicialmente serão buscadas as certificações LEED-NC V.2.2 e a etiquetagem proposta pela ELETROBRAS dentro do programa PROCEL-Edifica. Está sendo negociada, também, a certificação com o selo energético proposto pelo IPT.

Nasce o primeiro ZEB da América Latina

Carregando tanta e tão diversa tecnologia, a operação do prédio promete ser complexa. “Até porque, todos os sistemas deverão operar de forma otimizada e responder às mudanças climáticas a que a edificação está sujeita. Para tanto, será projetado um sistema específico de gerenciamento que deverá conter, na sua estrutura, a hierarquia de estratégias a serem utilizadas. O objetivo é que não haja excessos de consumo e, também, possa ser feita a monitoração do consumo da edificação e da energia por ela produzida. Este é um dos grandes desafios deste projeto e servirá de base para diversas análises referentes à operação racional de edificações sustentáveis”, conclui.

Redação AECweb