Norma de desempenho gera demanda por contrapisos flutuantes em edificações
Sistema reduz ruídos de impacto e aéreos no entrepiso das superfícies, proporcionando isolamento acústico de 15 a 30 dB
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
O contrapiso flutuante é um sistema construtivo adotado para reduzir ruídos de impacto nas edificações, vibrações sonoras resultantes de uma ação de choque físico e atrito de elementos sólidos na superfície do piso. A solução também atenua ruídos aéreos que surgem no ar graças a conversas, músicas, aparelhos eletrônicos, entre outros; mas com menor eficiência em comparação aos ruídos de impacto.
O sistema consiste em um material resiliente colocado entre a laje e o contrapiso, fazendo com que esse último pareça flutuar em relação à estrutura; desvinculado dos elementos de vedação e de alicerce. “A principal função do contrapiso flutuante é a de dissociar a ligação direta da laje com o contrapiso, formando uma barreira à transmissão direta do ruído”, explica a arquiteta Andrea Bocci Velletri Martins, desenvolvedora de soluções na Indústria Promaflex e membro do Comitê de Pisos e Mantas elaborado pela Associação Brasileira para a Qualidade Acústica (ProAcústica).
Ruídos de impacto: ação de choque físico e atrito de elementos na superfície do piso (Saklakova/ Shutterstock.com).
Ela esclarece, ainda, que a atenuação das vibrações sonoras acontece por meio do princípio massa-mola-massa. “É preciso ter o elemento rígido (contrapiso) sobre o elemento resiliente (manta) para que o sistema tenha a função de redução do ruído que se espera”, diz.
De acordo com o engenheiro civil Davi Akkerman, sócio-diretor da Harmonia Davi Akkerman + Holtz e vice-presidente de atividades técnicas da ProAcústica, o contrapiso flutuante permite maior liberdade na especificação do piso. “Pode-se assegurar desempenhos muito eficazes aos sons de impacto, possibilitando a livre escolha do revestimento de acordo com as necessidades do projeto”, afirma.
A principal função do contrapiso flutuante é a de dissociar a ligação direta da laje com o contrapiso, formando uma barreira à transmissão direta do ruídoAndrea Bocci Velletri Martins
NOVA NORMA DE DESEMPENHO
Segundo Velletri, a entrada da Norma da Desempenho (NBR 15575-3) em 2013 tem gerado uma demanda cada vez maior por pisos flutuantes, uma vez que ela estabelece valores mínimos de isolamento acústico para o sistema de entrepisos. “Muitos construtores buscam com a composição do sistema (laje, manta acústica e contrapiso) uma receita que proporcione o conforto acústico dos moradores perto do nível superior da norma”, deduz a arquiteta.
A solução é recomendada para edificações que não atendam aos requisitos mínimos de isolamento aos sons de impacto. “Em fase de projeto, isso pode ser verificado por meio de estimativas normalizadas ou softwares específicos para estudo de desempenho acústico”, relata o engenheiro eletricista Rafael Schmitt, sócio-diretor da Scala dB Acústica e membro do conselho administrativo da ProAcústica.
Schimitt ainda aponta que, em lajes de concreto maciço com espessura mínima de 12 cm, contrapiso de 4 cm e volume do recinto receptor superior a 20 m³, não é necessária a execução do contrapiso flutuante. “Mas se for necessário desempenho superior de isolamento ao som de impacto, os contrapisos flutuantes são a melhor solução”, pontua.
Pode-se assegurar desempenhos muito eficazes aos sons de impacto, possibilitando a livre escolha do revestimento de acordo com as necessidades do projetoDavi Akkerman
MANTAS RESILIENTES
A execução do contrapiso flutuante prevê a colocação de uma manta que apresente propriedade resiliente, ou seja, capaz de retornar à sua forma original após submetida à deformação elástica. A densidade do material influencia fatores como resistência à aplicação de carga e isolamento acústico.
“Mantas mais robustas costumam proporcionar maior conforto. A especificação vai depender do resultado esperado de redução de ruído”, comenta Velletri. A escolha também deve se basear na rigidez dinâmica do material e em sua devida capacidade de amortecimento, propriedade relacionada diretamente à espessura da manta.
REDUÇÃO ESTIMADA
Diversos fatores podem influenciar na proporção de isolamento acústico do sistema de entrepisos, como tipologia construtiva, espessura da laje e do contrapiso, vedações verticais envolventes, volume dos ambientes, entre outros.
Em fase de projeto, o isolamento pode ser verificado por meio de estimativas normalizadas ou softwares específicos para estudo de desempenho acústicoRafael Schmitt
As mantas acústicas utilizadas no contrapiso flutuante reduzem, em média, de 15 a 20 dB. Materiais de polietileno podem reduzir 20 ou mais dB. “Alguns sistemas ensaiados em campo já obtiveram resultados de até 30 dB, porém são menos comuns”, notifica Akkerman.
INSTALAÇÃO REQUER CUIDADOS
A instalação do contrapiso flutuante é feita por mão de obra especializada, cujo serviço deve evitar a formação de ponte acústica e fissuras no revestimento, problemas originados por acabamento mal feito na laje e por ligações rígidas indevidas entre o contrapiso e o revestimento.
“Uma laje bem nivelada e um contrapiso armado que resista aos esforços sobre ele, feito com a mesma espessura ao longo de todo o pano da laje, certamente evitará o inconveniente de fissuras”, orienta Velletri.
A instalação também requer telas, armações ou reforços em regiões de batentes e elementos que mantenham o contrapiso separado das paredes — chamados de “rodapés acústicos” — para assegurar a função de desconexão estrutural que a manta exerce.
Tubulações passantes sobre a laje devem ser envolvidas com a manta e, em áreas impermeabilizadas, a aplicação do material deve ser feita sobre a camada de impermeabilizante.
Manual de contrapisos flutuantesA ProAcústica realizou um guia prático para padronizar informações referentes ao contrapiso flutuante, cuja versão eletrônica está disponível para download gratuito em versão PDF, sob requerimento de cadastro, no site da associação.
Devido à ausência de normas nacionais, o Manual de Recomendações Básicas para Contrapisos Flutuantes foi elaborado com base em normas internacionais pelo Comitê de Pisos e Mantas criado pela ProAcústica em 2014, que conta com a participação de 21 empresas associadas — entre elas, fabricantes e fornecedores de materiais resilientes e consultorias especializadas em projetos acústicos.
Colaboração técnica
- Andrea Bocci Velletri Martins – Arquiteta pós-graduada em Administração de Empresas, com MBA em Gestão Empresarial. Atua na área de desenvolvimento de soluções para construção civil na Indústria Promaflex. É membro do Comitê de Pisos e Mantas elaborado pela Associação Brasileira para a Qualidade Acústica (ProAcústica).
- Davi Akkerman – Engenheiro civil formado pela Universidade Mackenzie com mestrado no Institute of Sound and Vibration Research, de Southamptom (Grã-Bretanha). É sócio-diretor da empresa Harmonia Davi Akkerman + Holtz e vice-presidente de atividades técnicas da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica (ProAcústica).
- Rafael Schmitt – Engenheiro eletricista com MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). É consultor técnico no desenvolvimento de mantas acústicas para pisos, sócio-diretor da Scala dB Acústica, coordenador do Comitê Pisos e Mantas e membro do conselho administrativo da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica (ProAcústica).