Novas tecnologias podem produzir pavimentos capazes de durar até 100 anos
Pavimentos rodoviários podem ter vida útil prolongada e exigir pouca manutenção. Mas para isso é fundamental haver projeto e execução de qualidade
Segundo o CNT, 61,8% das vias pesquisadas apresentam algum tipo de problema (Foto: Maksim Safaniuk/Shutterstock)
A durabilidade e a possibilidade de reduzir intervenções para a realização de manutenções são dois vetores de desenvolvimentos na área de pavimentos rodoviários. Isso se dá tanto para os pavimentos com camada de rolamento asfáltico, quanto para os pavimentos rígidos, com camada de rolamento em concreto. As soluções buscam, também, oferecer uma resposta a um fenômeno que afeta diretamente a vida útil das vias: o aumento do tráfego de veículos.
A necessidade de inovações e transformações é importante. Afinal, segundo dados da Confederação Nacional de Transporte (CNT), que avalia toda a malha federal e os principais trechos estaduais pavimentados, 61,8% das vias pesquisadas apresentam algum tipo de problema sendo classificadas como regular, ruim ou péssima.
TECNOLOGIAS COM FOCO EM DURABILIDADE
No caso dos pavimentos rígidos, uma das soluções que ganham espaço no meio técnico nacional é o PCCA (Pavimento de Concreto Continuamente Armado), utilizado há muitos anos nas rodovias norte-americanas. A solução, indicada para estradas com alto tráfego, se caracteriza por apresentar ausência de juntas e menor ocorrência de fissuras, em comparação ao pavimento rígido convencional que utiliza juntas de dilatação e barras de transferência.
“A escolha do pavimento ideal para cada projeto depende da análise de fatores como tráfego, propriedades geotécnicas do local, investimento disponível, oferta de materiais no mercado e maquinários para execução dos sistemasRubens Vieira
Entre os pavimentos asfálticos também há alternativas para elevar a durabilidade. Entre elas, estão as misturas asfálticas que possuem módulo de deformação mais elevado. Esta solução é bastante recorrente na França, para camadas estruturais de pavimentos submetidos a tráfego pesado por apresentar bom comportamento à fadiga.
Há, ainda, o pavimento asfáltico perpétuo, que possui todas as camadas com material asfáltico, desde o revestimento até a sub-base. De custo mais elevado, essa solução pode ser dimensionada para durar entre 50 e 100 anos, sem grandes reabilitações ou reconstruções estruturais.
Ainda no campo dos pavimentos flexíveis, que representam a maioria dos pavimentos construídos no Brasil, outros desenvolvimentos importantes são os ligantes asfálticos, como os modificados por polímeros, e os agentes de misturas mornas, que permitem a usinagem das misturas asfálticas em temperaturas menos agressivas aos trabalhadores e ao próprio asfalto.
PROJETO, MATERIAIS E CONTROLE TECNOLÓGICO
Entre as diversas razões que induzem o desgaste precoce dos pavimentos rodoviários destacam-se as mudanças nas condições de uso, falhas de projeto, erros de execução, uso de materiais com qualidade insatisfatória para atender as especificações e deficiências do sistema de drenagem.
“A escolha do pavimento ideal para cada projeto depende da análise de fatores como tráfego, propriedades geotécnicas do local, investimento disponível, oferta de materiais no mercado e maquinários para execução dos sistemas. Não há uma tecnologia melhor que a outra”, afirma Rubens Vieira, pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT).
“Um pavimento pode ser concebido para ter uma vida útil maior ou menor, a depender da exigência do contratanteRubens Vieira
O especialista em engenharia de transportes alerta, contudo, para a especificação criteriosa de materiais e tecnologias adequadas à realidade de cada região. “No Brasil, temos condições climáticas e de solo específicas. Por isso mesmo, uma solução bem-sucedida em uma rodovia na Europa pode não dar certo por aqui se não houver adaptações”, salienta Vieira.
A durabilidade, segundo ele, depende de bons projetos, materiais de qualidade, execução restrita aos parâmetros pré-definidos, assim como de controles tecnológicos adequados e manutenções periódicas. “Um pavimento pode ser concebido para ter uma vida útil maior ou menor, a depender da exigência do contratante. Mas em todos os casos, a realização de manutenção preventiva e corretiva periódica é determinante para garantir o desempenho ao longo do tempo”, comenta o pesquisador do IPT.
Para otimizar os programas de manutenção e reduzir custos, o pesquisador reforça, ainda, a importância de haver a gerência de pavimento. Trata-se de um conjunto de ações e metodologias para controlar a vida útil do pavimento por meio de inspeções e ensaios de campo periódicos.
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Colaboração técnica
- Rubens Vieira — Tecnólogo civil pelo Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, é pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Atua na área de Engenharia de Transportes, com ênfase em materiais.