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Novos procedimentos para inspeção de pontes, viadutos e passarelas

Norma revisada tornou mais objetiva a avaliação de obras de arte de concreto, definindo inspeções rotineiras anuais e uma inspeção especial mais apurada a cada cinco anos

Publicado em: 01/08/2017

Texto: Redação PE

A revisão da ABNT NBR 9452 em 2016 trouxe novidades para a gestão da manutenção de pontes, viadutos e passarelas de concreto. A alteração do texto procurou tornar a inspeção dessas estruturas mais objetiva. “Trata-se de uma importante ferramenta para prevenir problemas capazes de acarretar grandes transtornos para a população”, comenta o engenheiro Julio Timerman, conselheiro da Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) e coordenador da comissão à frente da atualização da norma.

A periodicidade indicada para a realização de inspeções permanece a mesma. As mudanças concentraram-se na forma de realizar os procedimentos técnicos para diagnóstico das condições da estrutura. O texto define inspeções rotineiras (visuais) anuais. Também determina uma inspeção especial mais apurada a cada cinco anos, podendo ser estendida para oito anos, dependendo da classificação da obra de arte.

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Plataforma elevatória dá acesso para inspeção em ponte de concreto (Richard Thornton/ Shutterstock.com)

NBR 9452

Entre as mudanças introduzidas pela nova norma está a classificação dos elementos pertencentes às pontes e viadutos em função de sua relevância para a segurança estrutural. “Isso permite ao gestor priorizar ações de manutenção quanto à gravidade dos problemas observados”, comenta o engenheiro Ciro José Ribeiro Villela Araujo, chefe da Seção de Engenharia de Estruturas do Centro de Tecnologia de Obras de Infraestrutura do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas).

No texto, são designados os elementos principais (aqueles que, diante de um dano, podem ocasionar o colapso parcial ou total da obra), os secundários (capazes de ocasionar a ruptura em apenas uma parte de um vão) e os complementares (cujos danos não ocasionarão comprometimento estrutural).

NOTAS PARA O ESTADO DE CONSERVAÇÃO

Para a avaliação do estado de conservação da ponte ou viaduto, a cada parâmetro analisado são atribuídas notas de classificação de 1 (crítica) a 5 (excelente). “Esse mecanismo permite uma visão qualitativa e quantitativa do estado de conservação, refletindo maior ou menor gravidade dos problemas detectados”, diz Araujo. Segundo ele, a versão anterior da norma, de 2012, não apresentava tão detalhadamente essa classificação.

Trata-se de uma importante ferramenta para prevenir problemas capazes de acarretar grandes transtornos para a população
Julio Timerman

De acordo com o pesquisador do IPT, outros avanços trazidos pela norma de inspeção foram os roteiros e modelos de fichas de inspeções mais detalhados e o fluxograma de gerenciamento de obras de arte especiais, que mostra a sequência das inspeções cadastrais, rotineiras, especiais e extraordinárias, com as respectivas ações de intervenção quando necessárias.

INSPEÇÕES COMPLICADAS

Embora a NBR 9452 estimule a cultura de inspeção em pontes e viadutos, ainda há o que avançar em relação a um programa de gestão dessas obras de arte no Brasil. Para o engenheiro Ciro Araujo, faltam procedimentos sistemáticos de inspeções ao longo de toda a vida útil da estrutura, de modo que as atividades de manutenção sejam eficazes e viáveis sob os aspectos financeiros, estruturais, funcionais e de durabilidade.

A vistoria de pontes e viadutos é um trabalho especialmente desafiador por uma série de motivos. A dificuldade de acesso aos locais a serem analisados e a dependência que se tem dessas obras são alguns complicadores. “Também há uma carência de projetos estruturais que contemplem dispositivos auxiliares nas estruturas, como plataformas para inspeção e manutenção nas regiões de juntas de dilatação e nos apoios das superestruturas”, lamenta Araujo.

Há uma carência de projetos estruturais que contemplem dispositivos auxiliares nas estruturas, como plataformas para inspeção e manutenção nas regiões de juntas de dilatação e nos apoios das superestruturas
Ciro Araujo

TECNOLOGIA EM EVOLUÇÃO

A solução habitual para inspeções em pontes e viadutos prevê o uso de caminhões patolados sobre as obras de arte, que conduzem os profissionais até os locais de vistoria por meio de braços mecânicos articulados e equipados com cestos. Tal trabalho exige a interdição de faixas de rolamento e a elaboração de um plano minucioso para execução das atividades. “Outros equipamentos podem ser utilizados, como passarelas provisórias, escadas telescópicas e treliças móveis, complementados por dispositivos de segurança do trabalho instalados sob os tabuleiros, como as redes tensionadas de proteção”, diz Araujo.

No Brasil e em outros países já são utilizados veículos aéreos não tripulados (drones) para auxiliar os trabalhos de monitoramento das estruturas de obras de arte especiais. Esse tipo de equipamento foi empregado, por exemplo, no levantamento de patologias de três pontes da BR 101, no Espírito Santo. O serviço foi necessário, nesse caso, para subsidiar o projeto de duplicação da rodovia que previa a recuperação, o alargamento e o reforço das pontes sobre os Rios Jucu, Jaboti e Benevente.

“Mesmo com o uso da tecnologia, a experiência do engenheiro vistoriador nunca poderá ser substituída”, acredita Timerman. Ele conta que a confiabilidade dos serviços está intimamente ligada à qualificação da equipe que irá realizar as inspeções. Nesse ponto, a norma que serve de referência é a ABNT NBR 16.230:2013 – Inspeção de estruturas de concreto – Qualificação e certificação de pessoal – Requisitos, que define a competência mínima dos profissionais para este tipo de atividade.

Leia também: Protensão viabiliza pontes e viadutos com grandes vãos

Colaboração técnica

Ciro José Ribeiro Villela Araujo – Engenheiro civil, mestre em engenharia civil na área de estruturas pela Unicamp e chefe da Seção de Engenharia de Estruturas do CT-Obras do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas)
Júlio Timerman – Engenheiro civil, sócio-diretor da Engeti Consultoria e Engenharia. É diretor-presidente do Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto) e membro do conselho deliberativo da Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural)