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O primeiro LEED do sertão

Conjunto de prédios da Energisa – distribuidora de energia da Paraíba – construído em Patos conquista a certificação LEED® - NC.

Publicado em: 08/03/2012Atualizado em: 31/01/2024

Texto: Hosana Pedroso



Redação AECweb

O primeiro LEED do sertão

Com projeto do arquiteto Arthur Marcel Brasileiro e consultoria da OTEC, a Energisa construiu no município de Patos, sertão da Paraíba, seu Núcleo Regional Oeste, de acordo com padrões internacionais de sustentabilidade. Os desafios eram as altas temperaturas, o baixo índice pluviométrico e a escassez de recursos. O resultado, por sua vez, foi sentido no dia a dia pelos funcionários, que ganharam ambientes com maior conforto térmico e praticidade nos deslocamentos.

O impacto ambiental da obra foi mitigado na fase de construção e, agora, com a entrada dos prédios em operação. A conquista do LEED Prata – o primeiro para um projeto no sertão brasileiro – foi o reconhecimento desse esforço.

O complexo da Energisa, localizado há 300 km da capital João Pessoa, concentra as áreas operacionais da distribuidora de energia na região. Abriga, também, uma Galeria de Arte para exposições de artistas paraibanos. “Precisávamos construir novas instalações para o nosso Núcleo Regional de Patos e optamos por um projeto sustentável no sertão da Paraíba – um verdadeiro desafio assumido por considerarmos a preocupação com o meio ambiente fundamental”, diz Marcelo Silveira da Rocha, diretor-presidente da Energisa Paraíba, que continua: “Com esse prédio, procuramos conscientizar nossos colaboradores e dar bom exemplo à comunidade e aos nossos clientes, tendo como principal preocupação proporcionar uma vida sustentável para as gerações futuras”.

O primeiro LEED do sertão

NORDESTE EMERGENTE

David Douek, diretor da OTEC, lembra que a imagem caricata do sertão nordestino é, ainda hoje, associada a chapéu de couro, terra seca e cactos. “Nessa região, assim como em todo o nordeste brasileiro por onde tenho tido o prazer de circular, os tempos são de desenvolvimento. Incorporadoras e empresas desenvolvem novos empreendimentos, disseminando-os por vários estados”, afirma. Segundo ele, a certificação do edifício da Energisa desafia um compreensível preconceito de que as certificações LEED são feitas para edifícios em grandes centros urbanos. “A ideia se dissolve ao percebermos que buscam a certificação obras de estádios, indústrias, centros de distribuição, hospitais e estações de trem, tanto para novos edifícios como para os existentes. Embora todas as condicionantes sugerissem a impossibilidade de certificação de um edifício localizado em uma região de clima tão pouco hospitaleiro e de infraestrutura reduzida, o que se testemunhou foram fortes razões para buscar a sustentabilidade e a eficiência do empreendimento”, ressalta.

De acordo com o consultor, a escassez de recursos da região, o clima semiárido e a preocupação com a qualidade de vida dos usuários foram, na prática, a pedra fundamental para a busca pela excelência no desenvolvimento do projeto e na execução da obra. A título de exemplo:

ü  As condições climáticas impõem, sem restrições, o uso do ar-condicionado. A eficiência energética do sistema é, portanto, condição básica para um edifício na região.


ü  O baixo índice pluviométrico torna a gestão de águas pluviais, que não descartou a captação e o reuso das águas de chuva, ainda mais responsável.


ü  A integração com o meio externo foi parâmetro básico de desenvolvimento do projeto, que faz questão de proporcionar a visualização do meio externo aos seus usuários.

“Estas e outras propriedades fazem do projeto da Energisa um exemplo a ser seguido”, comenta Douek.

A OBRA

O terreno de 10 mil m² recebeu um conjunto de prédios com 1.902 m² de área construída, erguidos com materiais renováveis, reutilizáveis e recicláveis, e com a maioria dos fornecedores localizados num raio de 800 km da obra. O engenheiro José Aurélio Ribeiro Costa, assessor de Obras Civis e Apoio da Energisa Paraíba, responsável pela coordenação do projeto, destaca entre os elementos e ações adotados para a preservação do meio ambiente os processos para redução do lixo produzido e coleta seletiva; o uso de madeira com certificação de reflorestamento; vidros laminados, com baixo fator solar; elementos de sombreamento (brise-soleil); tijolos cerâmico-prensados maciços; e cercas de divisas com metal reciclado.

Foram incorporados, ainda, recursos como telhas de alumínio com preenchimento de poliuretano para proteção térmica e acústica do ambiente; instalações com sistema de captação de água de chuva, filtragem e armazenamento para uso em instalações sanitárias, bem como irrigação de jardins; torneiras com fechamento automático e válvulas de descarga com duplo acionamento para maior economia de água; uso de tintas à base de água, vernizes e resinas vegetais com baixo índice de COV (Composto Orgânico Volátil); sensores infravermelhos de presença e lâmpadas PL com economia de até 22% de energia em comparação com lâmpadas comuns; piso-grama nas áreas externas, e piso intertravado para que a água infiltre no solo, evitando a impermeabilização do terreno.

DETALHAMENTO


Telhados – A cobertura da nova sede da Energisa Paraíba foi planejada e projetada de maneira a reduzir o impacto do microclima no conforto térmico do ambiente. Foram utilizadas telhas termoacústicas na cor branca, com alto índice de reflexão solar.


Reuso da água – A água da chuva é captada por calhas colocadas no telhado. A água passa por filtros, para retirar as impurezas, e é armazenada em uma cisterna. Depois, é bombeada para uma caixa dágua, separada da caixa de água potável. A água é utilizada na irrigação de canteiros e jardins, limpeza de pisos, além de descarga de banheiros e de mictórios.

Brise-soleil e vidro de baixo fator solar – Nas fachadas, foram utilizados elementos de sombreamento, como o brise-soleil (quebra-sol) metálico que barra parte da incidência solar. A técnica reduz a intensidade de calor projetada nas paredes durante o dia e, por consequência, a temperatura dos ambientes, reduzindo também o uso do ar-condicionado. Outro elemento utilizado foi o vidro laminado com baixo fator solar (27%), que deixa passar a luminosidade natural e impede a transferência de calor do lado externo para o interno.

Piso-grama e piso intertravado – Ao pavimentar as áreas externas, optou-se pelo piso-grama e pelo piso intertravado, que permitem a infiltração da água no solo e evitam a impermeabilização do terreno.

Vagas solidárias – No estacionamento dos veículos dos colaboradores, há vagas reservadas para os motoristas que promovem o transporte solidário. A intenção é incentivar a prática da carona que, além de reduzir o número de veículos em circulação, minimiza as emissões de CO².

Divisas – A cerca que delimita o terreno da nova sede da Energisa Paraíba foi produzida com material reciclado. É um exemplo da preocupação com o tipo de material empregado na obra. Adotou-se como critério de escolha a proporção de materiais reciclados pós-consumo x pré-consumo.

Redação AECweb