O projeto define a qualidade
Joel Carlos Ferreira de Souza define características técnicas e de mercado das esquadrias de todos os materiais
Entrevista: Joel Carlos Ferreira de Souza
Em moradias populares, o caixilho figura como o item mais caro, respondendo por até 10% do custo total da obra. Portanto, merece cuidados desde a especificação e produção à instalação. O desempenho dos caixilhos depende de um bom projeto, seguindo à risca os critérios das normas técnicas, independente do material com que é produzido – aço, alumínio, madeira ou PVC. Nesta entrevista ao AECweb, o consultor Joel Carlos Ferreira de Souza, da SSG Consultores, define as características técnicas e de mercado das esquadrias de todos os tipos de materiais. E ressalta que o projeto é ferramenta importante para equalizar a cotação.
AECweb – Em que consiste o projeto da esquadria?
Joel - Normalmente, o arquiteto faz o desenho da esquadria que pretende para o edifício e o consultor, independente do material especificado, vai viabilizar o projeto tecnicamente. O projeto é importante quando se está utilizando um caixilho produzido sob encomenda. Já no caso do produto padronizado, o projeto vai detalhar aspectos como os sistemas construtivo, de execução do vão e de instalação.
AECweb – A instalação é etapa importante, portanto?
Joel - Sim, a ponto de a CDHU – Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo, através de seu Departamento de Arquitetura, estudou a reformulação dos sistemas construtivos da janela padronizada. A meta desse projeto, com o qual colaborei, foi chegar a um sistema de instalação diferente do que usavam, que comprometia o desempenho do caixilho – instalavam as janelas com grapa e cobriam com chapisco de massa grossa e fina. Estava claro que, se entrasse água e vento, o defeito seria do produto e não do sistema de instalação. Chegamos ao atual sistema que emprega parafuso e bucha, com rebaixo de peitoril. A solução foi importante porque, nos conjuntos habitacionais, o caixilho é o item mais caro da obra, chegando a mais de 10% do seu custo total.
Joel - O projeto vai garantir um produto com a melhor característica técnica possível, orçado por várias empresas a partir de um mesmo desenho. Quando os fabricantes têm como base somente o desenho do arquiteto, cada um assume a especificação que considera melhor. O projeto da esquadria restringe, o que está projetado tem que ser executado. Portanto, a qualidade pode variar, mas o projeto é exatamente o mesmo. O desenho garante, também, o máximo em atendimento às normas técnicas, ao dimensionamento, às vedações, aos requintes de acabamento.
AECweb – É comum o consultor atuar em obras de edifícios corporativos e comerciais. E nos residenciais?
Joel - Na medida em que o consumidor ficou mais exigente, a construtora passou a ser cobrada pelos condôminos, inclusive dos edifícios residenciais. Chamar um consultor significa ter um produto de boa qualidade. Até mesmo proprietários de residências unifamiliares têm contratado consultores. Foi o caso de uma reforma, no Alto de Pinheiros, em que o dono desejava equalizar a cotação e obter uma solução técnica, pois queria substituir antigos caixilhos de alumínio por outros, acústicos, de PVC e madeira - solução que os fabricantes não encontrariam e o projeto viabilizou.
AECweb - Dos quatro materiais, qual é o mais comum para cada segmento de obra?
Joel - Nos edifícios corporativos, comerciais e residenciais, o alumínio lidera. Nessas obras verticais, apenas 2% adotam caixilhos de aço, sempre como decorrência do desejo do arquiteto. É o caso de um prédio corporativo de oito pavimentos que está sendo erguido na região da Vila Madalena, em São Paulo, onde a fachada cortina é em aço, assim como os caixilhos fixos, e a maxim-ar em madeira. Esta é uma situação incomum, pois o arquiteto Isay Weinfeld quis assim e o incorporador atendeu. Incomum porque a manutenção dos caixilhos de alumínio é menor, praticamente não existe.
AECweb – Há uma tendência em caixilhos para os edifícios institucionais?
Joel - Em hospitais, se usa mais o alumínio; em hotéis, o PVC ganha espaço porque resolve o problema de acústica, sem precisar colocar um caixilho muito espesso. Nas moradias populares, predominam as janelas de aço, exceto no litoral onde são empregadas as de alumínio. Lembrando que em projetos especiais, com grandes vãos, mesmo na praia o ideal é usar o aço, pois tem resistência estrutural mais elevada. Já as residências com esquadrias sob encomenda, utilizam todos os materiais - alumínio, aço, PVC e madeira.
AECweb – A janela de aço recebe bem os componentes, assim como a de alumínio?
Joel - Sim, especialmente as escovas auto-adesivas. Opção interessante é a esquadria de aço inoxidável, com custo mais competitivo a partir da redução de espessura dos perfis – o custo se equipara ao do caixilho de PVC e das de alumínio de alto padrão. A resistência do inox é maior que a do aço comum e pode ser pintada.
AECweb – As janelas de madeira têm futuro?
Joel - Considero a madeira como o mais complicado de todos materiais. A começar pelo controle do Ibama, das exigências da certificação FSC e da pouca matéria-prima disponível. Trata-se de um produto quase artesanal, que exige mão-de-obra muito qualificada. Tecnicamente é muito versátil e recebe bem os componentes, como fazer um canal para colocar escova. A manutenção da madeira é cara, pois pede tratamento de superfície a cada um ou dois anos. Além disso, é um material que dilata muito, mas as seladoras existentes no mercado não deixam a madeira absorver muita água.
AECweb - As janelas são feitas com madeiras certificadas (FSC)?
Joel - Sim, até porque é impossível comprar madeira sem a certificação. Para se ter uma idéia, a CDHU tem uma regulamentação para substituição da estrutura de telhado de madeira por aço ou outro material certificado. No caso de portas, há muita coisa industrializada de madeira de reflorestamento ou madeira composta, mas tudo certificado.
AECweb – É possível realizar todas as tipologias com esses materiais?
Joel - Somente o PVC apresenta algumas restrições de dimensão, que são resolvidos com estruturas internas de aço, já que a resistência mecânica do material é muito baixa. No alumínio e no aço, inclusive inox, é possível produzir qualquer tipologia.
AECweb – Qual a tendência de mercado nos próximos anos?
Joel - Com o menor preço entre todos os materiais, o aço continuará a dominar o mercado de revenda. Os caixilhos de alumínio são imbatíveis no segmento de obras verticais, tanto residencial quanto comercial. Mas, o PVC surge como um forte concorrente, depois de inaugurar sua presença nas obras de hotéis e alguma coisa, hoje, em hospitais e clínicas. Nas residências de alto luxo, a briga permanecerá acirrada entre o PVC, a madeira e o alumínio. Com uma ressalva: a madeira se tornará, cada vez mais, um produto de luxo.
Joel Carlos Ferreira de Souza
Administrador de Empresas, sócio-gerente da SSG Consultores. Respondeu pela área industrial e técnica da serralheria do Liceu de Artes e Oficio entre 1979 e 1998. Consultor do Instituto Brasileiro de Siderurgia desde 1999. Participa de comissões de elaboração de normas técnicas na área de componentes metálicos para construção civil e no desenvolvimento de programas de qualidade. A partir de 1993, assume a direção técnica e gerencial da SSG consultores, que torna-se uma empresa especializada em componentes para construção civil.
Redação AECweb