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O que é Bioarquitetura?

Uso de materiais pouco industrializados e aproveitamento de luz e ventilação naturais são alguns dos conceitos

Publicado em: 23/11/2016Atualizado em: 28/03/2023

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

A bioarquitetura é a arte de proporcionar conforto, beleza e funcionalidade às construções, tudo isso de maneira integrada, respeitosa e harmoniosa ao ecossistema. “O prefixo bio, que significa vida, confere a essa linha da arquitetura um DNA que a diferencia do método convencional de projetar. O profissional dessa escola busca criar edificações mais ‘vivas’ e que se assemelhem aos ambientes naturais onde estão inseridas”, define o arquiteto Márcio Holanda Cavalcante, titular do escritório Baixo Impacto Arquitetura.

O aproveitamento das características climáticas de cada região para gerar conforto térmico, acústico e lumínico é uma das diretrizes da bioarquitetura. A iniciativa reduz o consumo energético com climatização artificial e deve nortear a elaboração do projeto. “Outro ponto importante é priorizar os materiais naturais e aqueles produzidos regionalmente. Com isso, há redução da poluição gerada nos processos de transformação da matéria-prima e diminuição dos gases emitidos no transporte até a obra”, ressalta o arquiteto.

bioarquitetura
Edifício Bosco Verticale, projetado em Milão, Itália (Alexandre Rotenberg/ Shutterstock.com)

A escolha das soluções não pode ser realizada apenas pela estética, mas sim em função de sua aplicação adequada e eficiente. O projeto também deve pensar nos fluxos de entrada e saída dos insumos necessários à vida na edificação, como água, ar e alimento. “É recomendada a criação de sistemas cíclicos e não poluentes de saneamento, com aproveitamento local dos descartes para irrigação, adubação e produção vegetal”, afirma Cavalcante.

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MATERIAIS E SISTEMAS CONSTRUTIVOS

O sistema construtivo de um projeto de bioarquitetura tem que buscar o equilíbrio entre as tecnologias contemporâneas disponíveis e a arquitetura vernacular, que é aquela que aproveita os materiais naturais e a cultura local. “As técnicas de construção de paredes com terra crua são exemplos de arquitetura vernacular”, diz o profissional, destacando que essa opção é a de menor impacto ambiental possível, pela simplicidade de aquisição e quase nenhuma transformação da matéria-prima.

Devido à sua capacidade de controle da temperatura e umidade internas, as paredes com terra crua também proporcionam ganhos à saúde dos usuários. Já as madeiras, que podem ser aproveitadas com pouca transformação, também estão sendo priorizadas em relação ao aço ou concreto, soluções que têm alto impacto ambiental em seu processo de fabricação. Nos telhado, a cobertura ajardinada é a mais indicada. A solução tem excelente capacidade de controle termoacústico, além de gerar maior biodiversidade e criar ambientes de convivência ou produção vegetal, inclusive de alimentos.

Não existe receita pronta na especificação de materiais e tecnologias. A única dica é investigar e decidir localmente qual a melhor solução para cada tipo de projeto
Márcio Holanda Cavalcante 

“Não existe receita pronta na especificação de materiais e tecnologias. A única dica é investigar e decidir localmente qual a melhor solução para cada tipo de projeto”, fala o arquiteto.

O poder aquisitivo do cliente é outra variável que deve ser levada em conta no momento de decidir quais os produtos que serão aproveitados.

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CUSTOS

Seria um erro afirmar que o projeto norteado pela bioarquitetura é sempre mais caro. “Algumas diretrizes podem aumentar e outras reduzir os custos da obra”, diz Cavalcante.

Por exemplo, um planejamento de conforto natural não precisa de nenhum investimento adicional, por já fazer parte do trabalho do arquiteto. Projetar soluções que aproveitam a ventilação e iluminação naturais ainda traz como benefício uma significativa redução de gastos com equipamentos e consumo energético dos sistemas de climatização.

Por outro lado, as instalações prediais dos sistemas de autonomia em água e energia, como reservatórios, tubulações e equipamentos, tendem a aumentar o custo inicial da obra. “Quando se pensa em sustentabilidade, é preciso planejamento para médio e longo prazo. Assim, teremos sistemas de menor consumo energético e menores custos ao longo de sua vida útil”, destaca o arquiteto. De maneira geral, o valor adicional dependerá do nível de autonomia predial de cada obra.

BIOARQUITETURA NO BRASIL

As recomendações da bioarquitetura estão sendo gradativamente mais bem aproveitadas pelo mercado da construção civil nacional. Ainda mais agora que os empreendedores estão assimilando a urgente necessidade do reequilíbrio ambiental de nosso planeta. “Outro fator que também está impulsionando o aproveitamento do conceito em novos empreendimentos é a demanda por edifícios que priorizem a saúde do usuário, associada ao bem-estar ambiental”, explica o profissional.

Quando se pensa em sustentabilidade, é preciso planejamento para médio e longo prazo. Assim, teremos sistemas de menor consumo energético e menores custos ao longo de sua vida útil
Márcio Holanda Cavalcante

Segundo Cavalcante, qualquer projeto pode ser elaborado em conformidade com os ensinamentos da bioarquitetura, ou seja, de casas populares a empreendimentos de alto padrão. “Não há qualquer impedimento. É preciso apenas ter bom senso nas escolhas das tecnologias mais adequadas para cada caso”, diz.

ESPECIALIZAÇÃO

Os cursos disponíveis no mercado, em geral, são mais voltados aos processos de certificação ambiental. “Os selos verdes ainda estão muito comprometidos com a indústria da construção e o uso de alta tecnologia”, afirma o arquiteto.

Algumas entidades promovem especializações voltadas à bioarquitetura, valorizando o bom projeto bioclimático, as técnicas construtivas vernaculares e os sistemas de autonomia compatíveis com cada classe social, de forma a atender ao maior número de usuários do mercado da construção civil

“Acho muito importante que essa forma de fazer e ensinar a bioarquitetura seja, urgentemente, inserida nos currículos das centenas de faculdades de arquitetura espalhadas por todo o país. Não podemos mais conceber novos profissionais sem uma visão sustentável, já que a construção civil é o setor que mais impacta o planeta”, finaliza Cavalcante.

Colaboração técnica

Márcio Holanda Cavalcante – Arquiteto e Urbanista pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Possui especialização em Permacultura pelo IPEC e pelo Instituto de Permacultura da Bahia e em Bioconstrução pelo Instituto de Tecnologia Intuitiva e Bioarquitetura - Tibá. Trabalha com técnicas de permacultura e bioarquitetura desde 2001. Desde 2008, desenvolve bioconstruções e consultoria pelo escritório Baixo Impacto Arquitetura. Atualmente, também é produtor de adobe (tijolo de terra crua) e realiza palestras, cursos, consultoria e construções com terra crua pela empresa Adoberia.