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O uso de Estações de Tratamento de Esgoto em edifícios

As ETEs ganham espaço em prédios residenciais e comerciais. Água de reúso pode ser aproveitada em irrigação de jardins e descarga do vaso sanitário. Saiba mais

Publicado em: 21/01/2009Atualizado em: 30/04/2020

Texto: Redação AECweb

Redação AECweb

As vantagens das Estações de Tratamento de Esgoto

Antes restritas a edificações localizadas em áreas remotas, as ETEs – Estações de Tratamento de Esgoto – ganham espaço, sendo instaladas até mesmo em prédios residenciais e comerciais nos grandes urbanos. A razão é simples: com o aumento no custo da água potável e as exigências ambientais, a água gerada pelo tratamento é reutilizada em funções como irrigação de jardins e descarga de vaso sanitário. A economia resultante de uma ETE bem projetada e instalada paga o investimento inicial em, no máximo, dois anos.

A engenheira e mestre Sibylle Muller, diretora da AcquaBrasilis, empresa especializada em sistemas para tratamento de esgoto e de águas pluviais, explica que “toda e qualquer edificação não ligada a redes públicas de coleta de esgotos deveria ter seu próprio sistema de tratamento para não causar poluição no seu entorno e subsolo”. Segundo ela, o esgoto pode ser tratado de maneira mais severa para reutilização da água de esgoto tratada na própria edificação. “A substituição da água potável por água não-potável em fins conhecidos como menos nobres significa redução de consumo de água da concessionária, com conseqüente diminuição de consumo e despesas”, diz.

Os benefícios diretos são o ambiental, o sanitário e o de saúde pública. “O tratamento do esgoto elimina a poluição de rios e demais cursos dágua, permitindo que essas águas permaneçam balneáveis e fontes de recursos hídricos para consumo humano. Dessa forma, ficam garantidas as boas condições de saúde pública, eliminando a contaminação de pessoas e animais por meio da água, o maior veículo de transmissão de doenças”, alerta Sibylle Muller.

O tratamento do esgoto evita infiltrações de águas poluídas que acabam contaminando o solo, por meio do qual percolam, atingindo reservas naturais subterrâneas de águas, que podem ter sua pureza comprometida.

Sistemas de tratamento
“Numa ETE, o objetivo maior é separar a água dos resíduos nela existentes. Neste sentido, existem graus de tratamento que vão desde uma simples separação dos sólidos mais grosseiros, realizados por peneiras, até uma etapa final de polimento, na qual se procura eliminar resíduos extremamente pequenos. Em princípio, o grau de tratamento vai depender da qualidade final almejada para o efluente”, destaca a engenheira.

Os processos de tratamento de esgoto atualmente aplicados podem ser divididos, basicamente, em físico-químicos e biológicos. “Nos sistemas físico-químicos, são usados produtos químicos que tem a função de agregar as partículas maiores de modo que elas se separem da água por sedimentação, resultando em lodo. Em processos biológicos, são usadas, geralmente, as bactérias presentes no próprio esgoto, que têm a função de degradar a carga orgânica existente, além de reduzir os teores de nitrogênio e fósforo”, ensina.


Entre as tecnologias mais aplicadas atualmente destacam-se aquelas que utilizam os processos biológicos. As bactérias podem ser aeróbias e trabalharem em presença de oxigênio. Já as anaeróbias, trabalham na ausência de oxigênio, enquanto as facultativas tanto trabalham na presença de oxigênio, como na sua ausência. “As tecnologias existentes caracterizam-se por serem essencialmente aeróbias ou anaeróbias e, muitas vezes, são uma combinação dos dois processos, procurando tirar proveito das vantagens de ambos. O aeróbio tende a alcançar eficiências mais altas em processos mais simples de tratamento. Processos anaeróbios, geralmente, deixam odor e necessitam de um monitoramento mais eficaz e contínuo para alcançar uma boa eficiência, gerando, no entanto, menos lodo do que o processo aeróbio”, comenta a engenheira.

Hoje, há tecnologia que permite implantar um sistema integrado de ETE com unidades de tratamento de água de chuva e de água subterrânea.

“O estudo envolve o balanço hídrico, prevendo consumo e eventuais ofertas de cada tipo de recurso hídrico, com o objetivo de minimizar custos com os sistemas mais caros – em geral, os de reuso. Procuramos aproveitar o máximo de recursos gratuitos, como chuva e água subterrânea, minimizando o tamanho das estações de reuso. Isto é obtido a partir de controles e de automação. A principal vantagem para o empreendimento é a redução geral de despesas correntes”, explica a diretora da AcquaBrasilis.



Reuso: onde e como

A água gerada por uma ETE dimensionada para atender o padrão de lançamento em corpo receptor, atendendo as leis existentes, geralmente, não tem qualidade suficiente para ser reutilizada. “Em caso de reuso, a água de esgoto deve passar por um tratamento mais apurado, passando por um polimento final do efluente, como filtração e desinfecção adequadas.


As águas com qualidade ideal para o reuso podem ser aproveitadas em fins não-potáveis, como rega de jardins, irrigação, limpeza de veículos e pisos em geral, descarga de vasos sanitários, água de reposição em sistemas de ar condicionado e de espelhos dágua, usos industriais”, afirma.


Nos centros urbanos onde existe rede de coleta, é comum que a legislação imponha o descarte na rede. “Sugerimos o aproveitamento da fração cinza (lavatórios e chuveiros) do esgoto nos fins não-potáveis. Neste caso, a tubulação de alimentação de água deve ser duplicada em potável e de reuso. A rede de coleta de águas também deve ser separada em águas provenientes de lavatórios e chuveiros (água cinza) e as demais águas”, recomenda Sibylle Muller. Segundo ela, a relação custo x benefício resulta do porte do sistema e do custo do m3 de água da concessionária. “Atualmente, o período de retorno do investimento está entre 1 e 2 anos. Com a tendência crescente do preço do m3 da água tratada, esse período de retorno deve ficar cada vez menor”, diz. 


Especificação
Para escolher o melhor projeto de uma ETE, o especificador deve levar em conta, além do investimento inicial, os custos e as necessidades de operação do sistema. Neste sentido, deve considerar despesas com energia elétrica e produtos químicos, operações de controle e o tipo de profissional necessário para executar essas tarefas. “Deve se preocupar, ainda, com o tipo de lodo gerado. Lodos com produtos químicos necessitam de descarte específico, em aterros especiais. Lodos gerados em processos essencialmente biológicos podem ser descartados em aterros comuns”, orienta.


No mercado brasileiro, empresas especializadas projetam e instalam as ETEs. “A AcquaBrasilis projeta, instala, dá o ‘start up’, treina quem irá operar o sistema e, a critério do cliente, fornece assistência técnica”, afirma. Os sistemas podem ser fornecidos já em tanques de fibra de vidro ou plástico especial. Neste caso, as empresas geralmente solicitam ponto de energia e uma base com resistência adequada para o apoio dos tanques. Caso o cliente opte por trabalhar com tanques em alvenaria armada ou concreto, essa obra é feita pelo empreendedor. A AcquaBrasilis apresenta desenho hidro-mecânico detalhado de todo o sistema de tratamento e das medidas dos apoios para que o cliente possa construir os elementos necessários.