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Obra do Leopoldo 1201 exige cuidados na formulação do concreto

Com 90 MPa de resistência, material utilizado na estrutura do residencial de alto padrão bateu o recorde brasileiro de módulo de elasticidade

Publicado em: 09/06/2020

Texto: Juliana Nakamura

projeto residencial
Para o projeto, foi desenvolvido um concreto de 90 MPa para aplicação nos pilares dos quatro subsolos (foto: divulgação/Nortis)

O Leopoldo 1201 é um residencial de alto padrão com unidades de 269 m² e 22 pavimentos-tipo em construção em área nobre da capital paulista. Com entrega prevista para 2021, o empreendimento da incorporadora Nortis foi projetado pelos arquitetos do escritório Aflalo/Gasperini que lançaram mão de um design refinado, de uma fachada frontal de visual dinâmico e de uma diversidade de materiais que inclui concreto, madeira, grandes faces envidraçadas e vegetação natural. "Conseguimos uma arquitetura única graças ao design dos terraços ajardinados combinados com o concreto aparente e natural", resume a arquiteta Grazzieli Gomes Rocha, sócia-diretora do Aflalo/Gasperini.

MÓDULO DE ELASTICIDADE RECORDE

Acompanhando a arquitetura, a construção do edifício exigiu soluções construtivas tecnicamente sofisticadas, especialmente na estrutura. Essa etapa demandou a superação de uma série de desafios técnicos. O mais relevante foi o desenvolvimento de um concreto de altíssima resistência com 90 MPa para aplicação nos pilares dos quatro subsolos.

Por conta da implantação em um terreno bastante estreito, o projeto impôs dificuldades no momento de distribuir as vagas de garagem (quatro por unidade). O concreto de alto desempenho foi um aliado importante nesse momento, por viabilizar pilares retangulares esbeltos, permitindo ganho de área útil.

Produzido a partir de cimento CP II, aditivos superplastificantes e agregado calcário, o concreto foi desenvolvido levando em consideração aspectos como a qualidade dos componentes e o melhor empacotamento dos materiais, assegurando o comportamento reológico adequado para aplicação. "O resultado obtido foi um traço arrojado com relação água/aglomerante de 0,25 e classe de consistência S160", revela a engenheira Janaina Alves de Morais, gerente de tecnologia do concreto da Votorantim Cimentos.

O resultado obtido foi um traço arrojado com relação água/aglomerante de 0,25 e classe de consistência S160
Janaina Alves de Morais

No concreto de alto desempenho (CAD) produzido para o empreendimento da Nortis também foi obtido um módulo de elasticidade de 48 GPa, um recorde entre obras brasileiras, consequência direta do aumento da resistência. Vale lembrar que o módulo de elasticidade está relacionado com o grau de deformação da estrutura. Quanto menor for o seu número, mais flexível tende a ser a estrutura. Índices de elasticidade elevados, portanto, significam uma estrutura bastante rígida.

CONCRETO COLORIDO

Todo o desenvolvimento do concreto utilizado no Leopoldo 1201 exigiu meses de estudos que envolveram os profissionais da PhD Engenharia, da Engemix e da Nortis. “Também foi construído um protótipo para validar as formulações desenhadas e antecipar possíveis dificuldades de aplicação em campo”, conta Morais.

Ela explica que, além dos controles convencionais para garantir as especificações de projeto, como abatimento do tronco de cone (slump test), moldagem de corpos de prova para ensaios de resistência à compressão axial e módulo de elasticidade, foi adotada uma estratégia extra de controle. Diante da ampla diversidade de traços de concreto utilizada na obra, foi adicionado pigmento vermelho ao concreto de 90 MPa como forma de diferenciá-lo.

CONCRETO APARENTE

A construção do edifício paulistano também impôs a necessidade de desenvolver um concreto arquitetônico autoadensável com 50 MPa de resistência para aplicação nos trechos aparentes. Nesse caso, as maiores dificuldades eram assegurar o acabamento ripado e natural desejado após a desforma e obter uma formulação menos porosa, uma vez que São Paulo é uma cidade com altos índices de poluição, o que tende a escurecer e alterar o aspecto estético do concreto.

Janaína de Morais conta que a solução foi ter rigor na seleção das matérias-primas utilizadas na formulação e garantir a regularidade dos carregamentos. "Já no canteiro, os cuidados com a qualidade das fôrmas e com a aplicação de desmoldantes, bem como o planejamento logístico e o lançamento cuidadoso mostraram-se determinantes para o sucesso da execução desse tipo de estrutura", conclui a engenheira.

Colaboração técnica

Janaína Alves de Morais – Engenheira civil formada pela Universidade São Francisco. É gerente de tecnologia do concreto da Votorantim Cimentos.
Grazzieli Gomes Rocha – Arquiteta e urbanista formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e especializada em real estate pela FAU-USP. É sócia diretora do Aflalo/Gasperini Arquitetos.