Obras visam acabar com a seca na região do Cariri
Cinturão das Águas do Ceará começa com 158 quilômetros de extensão para abastecer inicialmente dezessete municípios
As técnicas de engenharia brasileira avançam para resolver o histórico problema da falta de água no árido sertão cearense. O Cinturão das Águas do Ceará (CAC), cujas obras são realizadas em parceria entre o governo do estado e o federal, fará a interligação de bacias hidrográficas por meio de canais a céu aberto e túneis. Estão sendo desembolsados cerca de 1,5 bilhão de reais na construção do primeiro trecho, que tem extensão de 158 quilômetros e leva água do reservatório Jati a toda a região do Cariri.
A obra vai abastecer inicialmente dezessete municípios cearenses com água para consumo humano, hidratação animal e também para a promoção da agricultura irrigada e de atividades industriais. Numa segunda etapa serão feitas ramificações para a distribuição ao interior do estado. O sistema tem vazão de 30.000 litros de água por segundo impulsionada pela força da gravidade, sem a necessidade de bombeamento, o que reduz o custo operacional.
O prazo de conclusão é de 26 meses, e nessa primeira etapa a obra está dividida em cinco lotes, sendo o Lote 5 realizado pelo Consórcio Ferreira Guedes – Toniolo, fruto de uma parceria entre as construtoras Ferreira Guedes e Toniolo, Busnello, que também participam em conjunto na obra de transposição do Rio São Francisco.
O consórcio trabalha exclusivamente na parte de construção de 9 quilômetros de túneis, devido à expertise das empresas. “A água segue o percurso pela própria gravidade, não é necessário bombeamento”, explica o engenheiro Honorio Ajani Júnior, gerente de equipamentos do Grupo Agis/ Construtora Ferreira Guedes. “Os demais lotes são de construção de vala a céu aberto.”
Devido ao maciço percentual de rocha, estão sendo utilizados jumbos de perfuração utilizados pela Toniolo, Busnello e, em contrapartida, a Ferreira Guedes forneceu manipuladores telescópicos. “Os equipamentos foram divididos entre as empresas, conforme a especialidade no segmento em que trabalham, para ser aplicados em trabalhos que vão desde terraplenagem até operações mais específicas de construção de túneis, como explosão, perfuração, bate-choco, concreto projetado, emboque e desemboque etc.”, conta Honorio.
Dinamismo das equipes, potência da frota
Ao todo, são cinco frentes de trabalho que fazem escavações simultâneas, realizando todos os trâmites de terraplenagem e movimentação de terra necessários para chegar ao nível do túnel e fazer o emboque.
“É uma obra difícil. Quem trabalha na construção de túnel não tem total certeza do que encontrará pela frente. A parte geológica é uma incógnita, pode guardar surpresas adiante”, ressalta o engenheiro. Os túneis têm altura de 5,40 metros e 5,45 metros de largura, e serão preenchidos pela metade da seção em água, conforme especifica o cálculo hidráulico.
O consórcio chegará a utilizar cerca de 150 equipamentos, entre máquinas e caminhões. “Em julho foi concluída a construção do canteiro central e da oficina, com escritório, almoxarifado, laboratório de ensaios, e em todas as cinco frentes haverá uma oficina avançada com lavador, rampa, ponto de separação de água e óleo com todos os cuidados ambientais – prioridade no consórcio”, explica o gerente de equipamentos.
Os setores de segurança e limpeza também recebem bastante atenção, já que as operações de perfuração e projeção de concreto são severas para os equipamentos, depreciando a frota em um espaço curto de tempo; por isso a Construtora Ferreira Guedes dedica especial atenção à limpeza e à lubrificação.
De acordo com Honorio, 90% dos equipamentos de apoio operacional são próprios do consórcio, e o restante é de prestadores de serviço locais. A quantidade de locação é flexível, mas, no caso dessa obra específica para túneis, o consórcio aportou quase a totalidade de frota própria, mas há casos em que a Ferreira Guedes realiza projetos nos quais terceiriza 100% da frota, tudo depende da estratégia.
Complexidade logística
Os túneis são distribuídos ao longo dos 150 quilômetros do cinturão. Duas cidades – Missão Velha e Crato – foram escolhidas para sediar os canteiros centrais, que funcionam 24 horas e centralizarão a logística para as cinco frentes avançadas com minicanteiros, com contêineres, refeitórios, banheiros etc. São quase 1.000 pessoas trabalhando para o consórcio, a maior parte formada por mão de obra local.
“Estamos aplicando o conhecimento dos dealers no dia a dia da obra, especialmente no treinamento da mão de obra para operar os equipamentos”, conta Honorio. A Ferreira Guedes adquiriu quatro manipuladores telescópicos JCB modelo 535-125.
De acordo com Honorio, um dos motivos que implicaram a aquisição é a segurança. “É o único modelo homologado pela NR-18 na parte de trabalho em alturas com cesto, além de dispor de uma série de atrativos como tecnologia avançada, segurança com o patolamento dianteiro, versatilidade de operações, entre outros”, diz ele.