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Parklets se espalham por São Paulo, Fortaleza e Florianópolis

No lugar de vagas para carros, uma estrutura mobiliada em extensão à calçada acolhe pedestres e ciclistas, oferecendo um espaço de uso público para o convívio social

Publicado em: 13/01/2015

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Redação AECweb / e-Construmarket

ParkletFoto: Fabio Arantes

“Este é um espaço público acessível a todos. É vedada, em qualquer hipótese, sua utilização exclusiva, inclusive por seu mantenedor”. A informação obrigatória nas placas fixadas nos parklets que vão surgindo na cidade de São Paulo resume o conceito da novidade que agradou e virou lei municipal. Diante da ausência de áreas de convivência nas grandes cidades brasileiras e da adesão da população, as pequenas praças começam a ser implantadas em outras cidades como Fortaleza e Florianópolis. Extensão das calçadas, a estrutura é montada em trecho de rua por particulares ou pelo poder público onde, antes, estacionavam automóveis. A ideia, nascida na cidade de São Francisco (EUA), em 2005, chegou através dos escritórios paulistanos Design Ok e Instituto Mobilidade Verde.

A iniciativa foi testada na capital paulista, no final de 2013 por quatro dias durante a Design Weekend e, depois, por um mês durante a X Bienal de Arquitetura. “Numa terceira etapa, nossa meta era a consolidação dos parklets como política pública”, lembra Guilherme Ortenblad, do Zoom Arquitetura, Urbanismo e Design, e membro da Design Ok. Não demorou para que o prefeito Fernando Haddad assinasse o decreto nº 55.045, em 16 de abril de 2014.

PARKLET MÓVEL

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Foto: Divulgação Zoom Arquitetura

“O parklet tem a característica de ser perene, porque se não deu certo num lugar, pode ser montado em outro. Entendemos que é uma forma eficiente de transformação do espaço da rua em área de convivência”, diz o arquiteto. A ideia, segundo ele, foi criar um mobiliário de qualidade, que oferecesse conforto aos transeuntes e do qual as pessoas pudessem se apropriar. “É uma estrutura muito pequena, mas com grande impacto na paisagem, ela muda a rua, que cria uma dinâmica própria. Primeiro porque é essa estrutura para quem está na rua e precisa sentar, descansar – tanto o pedestre, quanto o ciclista. Depois, as plantas e móveis emprestam qualidade à calçada, retirando um pouco da agressividade própria do trânsito de veículos”, explica.

A crítica à novidade foi a de que os parklets eliminam vagas para o estacionamento de veículos. “Nas duas vagas usadas pelo parklet param de 30 a 40 carros num dia. Em contrapartida, ele recebe entre 300 a 400 pessoas. É, portanto, uma equalização do espaço e não uma guerra contra os automóveis”, comenta.

É uma estrutura muito pequena, mas com grande impacto na paisagem, ela muda a rua, que cria uma dinâmica própria. Primeiro porque é essa estrutura para quem está na rua e precisa sentar, descansar – tanto o pedestre, quanto o ciclista. Depois, as plantas e móveis emprestam qualidade à calçada, retirando um pouco da agressividade própria do trânsito de veículos
Guilherme Ortenblad

PROJETO

A regulamentação do decreto determina as regras para a implantação dos parklets e, também, os critérios técnicos de projeto que devem ser respeitados.

  • Os parklets são permitidos em vias públicas com velocidade de até 50 km/hora e com 8,33% de inclinação longitudinal
  • Deve ser respeitada a distância mínima de 15 m da esquina
  • Se a calçada estiver deteriorada será preciso reformá-la
  • O artigo 5º do decreto determina que a plataforma “não pode ocupar espaço superior a 2,20 m de largura, contados a partir do alinhamento das guias, por 10 m de comprimento em vagas paralelas ao alinhamento da calçada, ou de 4,40 m largura por 5 m de comprimento em vagas perpendiculares ou a 45º do alinhamento.
  • O parklet deve estar no nível da calçada para que as pessoas com mobilidade reduzida possam acessá-lo. Pela mesma razão, não são permitidos degraus ou desníveis
  • O equipamento deve receber proteção perimetral, ficando aberto apenas para a calçada
  • Tem o caráter de guarda-corpos, com pelo menos 0,90 m de altura e fixados na estrutura, de maneira a suportar o peso de pessoas que venham a se apoiar
  • É preciso projetar o equipamento com atenção à drenagem. Ele não pode causar impedimentos à sarjeta. “O ideal é que a implantação seja feita depois da boca de lobo na direção do fluxo das águas para evitar alagamentos. Além disso, a perfuração do pavimento para a fixação da plataforma não pode ser superior a 12cm e deverá ser restaurada quando o parklet for removido”, comenta o arquiteto.
TÉCNICAS

Guilherme Ortenblad conta que desenvolveu algumas técnicas a partir da experiência dos primeiros projetos. “Não fazemos mais a fixação da plataforma no asfalto, mas o travamento para que não corra. É uma solução específica de projeto, pois, ao fixar, não podemos atingir nenhum tipo de rede de serviço público, como gás ou energia”.

Ortenblad conta que desenvolveu uma tecnologia de proteção e acesso à sarjeta, através de chapas metálicas fixadas na plataforma do parklet, que abrem e fecham, permitindo a limpeza. “Temos usado mais o piso de deck, que permite melhor escoamento da água da chuva para a rua e a sarjeta. Já cogitamos usar grama sintética, mas será preciso associar a alguma solução que permita a fácil drenagem, evitando que a água da chuva retorne, alagando a calçada.


MATERIAIS

Desde os primeiros projetos, foram testadas soluções diversas. “Numa primeira etapa, contamos com apoiadores que doaram diversos materiais. Já usamos piso elevado de concreto, mobiliário de madeira, chapa metálica”, conta Ortenblad.

ParkletFotos: Fabio Arantes e Sissy Eiko

O mobiliário dos primeiros foi mais artesanal, depois foram usados industrializados, e hoje já estão fabricando os móveis em sistema modular de fácil instalação e desmontagem. “Até porque o decreto estabelece que, em caso de manutenção, a peça deve ser retirada em até 72 horas”, diz Ortenblad. O proponente é responsável – inclusive pelos custos – da instalação, manutenção e futuro desmonte do parklet. O monitoramento feito nos existentes mostra que os equipamentos são respeitados e cuidados pelos usuários.

O parklet tem que estar no nível da calçada para que as pessoas com mobilidade reduzida possam acessar. Pela mesma razão, não são permitidos degraus ou desníveis
Guilherme Ortenblad

MOBILIÁRIO E SOLUÇÕES

“O mobiliário tem inúmeras possibilidades e consideramos que as pessoas podem testar novas soluções, materiais e estética”, ensina. Por sua experiência até agora, testando vários layouts, alguns elementos são básicos:

  • Lixeira: ajuda na manutenção
  • Paraciclo como estrutura de apoio ao ciclista
  • Bancos sem encosto: permitem interação maior entre as pessoas e outros com encosto que convidam a ficar por mais tempo
  • Floreiras idealmente devem ser de concreto
  • As mesas têm sido usadas para as refeições de quem trabalha na região do parklet e para piquenique coletivo
  • Foram testados assentos do tipo arquibancada, porque os jovens gostam de sentar em alturas diferentes. “No primeiro que instalamos, o da rua Padre João Manoel, acabamos de implantar, de forma pioneira, uma placa fotovoltaica com tomadas para carregar celulares. Agora, estamos desenvolvendo melhor a ideia”, conta.

Ortenblad ressalta que é importante levar em conta a dinâmica de cada local. “O mobiliário vai estimular os usos, não tem uma verdade: uma solução vai funcionar melhor num local e não tão bem em outro. Um exemplo é o bicicletário, muito usado em um dos parklets de Pinheiros, porém pouco na instalação dos Jardins”.

É preciso projetar o equipamento com atenção à drenagem. Ele não pode causar impedimentos à sarjeta
Guilherme Ortenblad

QUEM FAZ

Qualquer pessoa física ou jurídica pode implantar um parklet, desde que autorizada pela prefeitura. Os cinco primeiros foram implantados na Vila Madalena, Pinheiros e Jardins pelo coletivo Parkl[it] composto pelo Zoom, H2C, Superlimão, Contain[it] e Instituto Mobilidade Verde. Ortenblad conta que há outros cinco em projeto, que serão instalados a curto prazo. Sua expectativa é de um grande número em toda a cidade. O decreto é coerente com o caráter de máxima difusão desse conceito ao não restringir o desenvolvimento do projeto por arquitetos. “A população pode se organizar para levar à frente o seu projeto de parklet”, observa.

PARA SABER MAIS

O Decreto nº 55.045 e Manual Técnico dos Parklets podem ser conhecidos no portal da prefeitura municipal de São Paulo: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/manual-de-implementacao-parklets/#

Colaborou para esta matéria

Guilherme Ortenblad
Guilherme Ortenblad – Arquiteto e urbanista, sócio fundador do Zoom Urbanismo, Arquitetura e Design. O foco do trabalho do Zoom é a atuação e investigação em diversas escalas de projeto, desde a escala da cidade até a do design da vida cotidiana. O escritório foi vencedor de prêmios e concursos públicos, tais como Habitação para Todos, Morar Carioca e Ensaios Urbanos. Foi um dos realizadores das implantações piloto dos parklets em SP, que atuaram para a regulamentação dos parklets como política pública. Em colaboração com a prefeitura elaborou o "Manual Operacional para Implantar um Parklet em São Paulo".