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Pavimentação de via em Guarulhos inaugura o uso do cimento verde

Desenvolvido pelo IPT e pela Intercement, projeto-piloto realizado na rua Miguel Biondi utiliza cimento produzido com resíduos de demolição como subleito de pavimentação

Publicado em: 03/01/2018

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

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O cimento verde foi desenvolvido pelo IPT em parceria com a Intercement (foto: divulgação/Proguaru)

Não é de hoje que a indústria da construção civil busca soluções para minimizar o problema gerado pelos resíduos de sua produção. Entre várias pesquisas e projetos-piloto realizados nesse sentido, uma nova tecnologia para pavimentação de vias baseada no uso de cimento verde está sendo testada em Guarulhos, região metropolitana de São Paulo. Com a promessa de ganhos econômicos e ambientais, a solução foi executada em um trecho da rua Miguel Biondi, no bairro de Torres de Tibagy. A obra é responsabilidade da Progresso e Desenvolvimento de Guarulhos (Proguaru), sociedade de economia mista responsável pelos trabalhos de manutenção e recuperação viária no município.

MATÉRIA-PRIMA RECICLADA

Em vez de retirar calcário da natureza para produzir o material que seria usado no subleito da pavimentação, reaproveita-se o resíduo, promovendo a economia circular
Valdecir Ângelo Quarcioni

Desenvolvido nos laboratórios do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) em parceria com a Intercement, o cimento ecológico tem como matéria-prima a fração fina (grãos menores do que 0,15 mm de diâmetro) de resíduos de obras civis e demolições (RCD), como concreto e cerâmica vermelha. “Em vez de retirar calcário da natureza para produzir o material que seria usado no subleito da pavimentação, reaproveita-se o resíduo, promovendo a economia circular”, comenta Valdecir Ângelo Quarcioni, chefe do Laboratório de Materiais de Construção Civil do IPT.

Ele explica que a nova tecnologia ajuda a reduzir a quantidade de resíduos que são enviados dos canteiros para os aterros, auxiliando as empresas do setor no cumprimento da nova Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em escala, soluções como o cimento verde podem contribuir para a redução das emissões de gás carbônico geradas pela indústria do cimento.

APLICAÇÕES DO CIMENTO VERDE

O desenvolvimento do cimento verde teve início em julho de 2013, quando IPT e InterCement obtiveram aprovação de um fomento do BNDES-FUNTEC para custear 50% do custo da pesquisa.

A partir daí o produto foi criado para servir como aglomerante para aplicações não-estruturais e para funcionar como uma alternativa para a execução de camadas de suporte (estrutura) de vias de tráfego baixo e moderado.

Embora a pesquisa tenha como foco a utilização deste material na camada estrutural de pavimentos, o cimento verde também pode ser utilizado em valas de apoio de tubulações de água ou esgoto e em concretos secos
Seiiti Suzuki

“Embora a pesquisa tenha como foco a utilização deste material na camada estrutural de pavimentos, o cimento verde também pode ser utilizado para outras finalidades, como em valas de apoio de tubulações de água ou esgoto e em concretos secos, utilizados na produção de elementos pré-fabricados de concreto”, explica Seiiti Suzuki, gerente de pesquisa e desenvolvimento da InterCement.

Na rua Miguel Biondi foram pavimentados 211 m divididos em trechos, alguns executados com métodos convencionais, outros com o cimento verde combinado com brita reciclada e brita graduada. A ideia é testar a resistência de cada conjunto de materiais aplicados no subleito.

Vale lembrar que uma obra de pavimentação urbana costuma compreender a execução de uma base, composta de um material mais resistente que o solo (brita corrida, por exemplo), uma sub-base, (brita, betume, cimento ou cimento verde) e cobertura, feita de massa asfáltica.

A rua em Guarulhos será monitorada ao longo de um ano. Durante esse período, o IPT realizará uma avaliação da durabilidade do trecho experimental em comparação ao trecho convencional por meio da determinação da deflexão do pavimento.

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A pavimentação com cimento verde utiliza os mesmos equipamentos usados em serviços convencionais (foto: divulgação/IPT)

PAVIMENTAÇÃO CONVENCIONAL

O cimento verde utilizado na Rua Miguel Biondi é produzido na própria usina recicladora da Proguaru. No local, com o auxílio de uma autoconcreteira, é realizada a mistura da brita reciclada e da brita graduada com o cimento verde. Em seguida, o produto é transportado para a obra.

Segundo Suzuki, os equipamentos utilizados na pavimentação realizada com o cimento verde são os mesmos usados em serviços convencionais, como fresadora, motoniveladora, rolo compactador pé de carneiro, rolo liso de chapa e de pneus, caminhão pipa, caminhões para o transporte e vibroacabadora. “A produtividade também é similar aos processos de pavimentação tradicionais e varia em função de outros fatores, como mão de obra e condições locais não inerentes à tecnologia”, comenta o engenheiro da InterCement.

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Colaboração técnica

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Seiiti Suzuki – Engenheiro químico com mestrado pelo IPT (Instituto de Pesquisas tecnológicas), é gerente de pesquisa e desenvolvimento da InterCement.
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Valdecir Ângelo Quarcioni – Químico industrial, possui mestrado e doutorado pela Poli-USP. É chefe do Laboratório de Materiais de Construção Civil do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e professor do curso de Mestrado Profissional, também do IPT.