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Pavimentos permeáveis evitam acúmulo de água no piso

A estrutura pode captar as águas pluviais para aproveitamento e colaborar na prevenção de enchentes, redução de ilhas de calor e manutenção de aquíferos subterrâneos

Publicado em: 16/03/2015Atualizado em: 17/03/2015

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Os pavimentos permeáveis caracterizam-se como uma estrutura composta por camadas de agregado granular — pedras britadas de diferentes tamanhos — que possuem volumes vazios capazes de armazenar água em seu interior.

São diferentes do piso permeável ou drenante – última camada que reveste a superfície do pavimento. Feitos em concreto permeável ou poroso, os pisos servem como ‘porta de entrada’ do sistema de condução ou esgotamento de águas.

“Devemos tratar os pavimentos permeáveis como um conjunto de camadas granulares que possuem um revestimento permeável. Todas funcionam integradas ao pacote estrutural”, esclarece Afonso Virgilis, professor de Hidráulica na Escola de Engenharia Mackenzie e titular do Conselho Municipal de Ciência Tecnologia e Inovação da cidade de São Paulo.

Originalmente, o foco do piso permeável é fazer a água da chuva desaparecer sob o piso e reduzir a ocorrência de enchentes, à revelia de preceitos da engenharia de drenagem e pavimentação
Ronaldo Meyer

O principal benefício dos pavimentos permeáveis é evitar o rápido e indesejado acúmulo de volumes de água acima da superfície do piso. Por permitirem passagem de água, eles também proporcionam impacto ambiental positivo com prevenção de enchentes, redução de ilhas de calor e manutenção de aquíferos subterrâneos.

PAVIMENTO PERMEÁVEL EM ESTACIONAMENTOS, JARDINS E ÁREAS EXTERNAS

A pavimentação permeável pode ser implantada em qualquer ambiente cuja permeabilidade tenha deixado de existir. “Seja em decorrência de uma intervenção feita pelo homem ou pela própria natureza”, explica Ronaldo Meyer, gerente de Comunicação Corporativa da EmpresasCITY.

No entanto, a natureza estrutural dos pisos permeáveis faz com que eles não suportem cargas muito pesadas. Portanto, o sistema acaba sendo mais adequado para projetos comerciais e residenciais. Sua aplicação ideal é em áreas externas, como estacionamentos, ambientes de circulação, jardins, quadras poliesportivas, ciclovias, calçadas, parques e caminhos verdes.

É necessário considerar que a capacidade de carga do piso influencia diretamente no método de drenagem. Sendo assim, o peso, o volume e a forma de movimentação da carga podem fazer com que poluentes como óleos e ácidos passem pelo sistema, contaminando o solo.

A velocidade de percolação pode variar de 0,2 a 0,9 m por segundo, dependendo do tipo de material
Afonso Virgilis

PERCOLAÇÃO

A constituição porosa dos pisos não retém quase nada de água, permitindo passagem de até 95% do volume que entra. “A velocidade de percolação pode variar de 0,2 a 0,9 m por segundo, dependendo do tipo de material”, aponta Virgilis.

Como a percolação está relacionada à velocidade de entrada e ao tempo de saída da água no interior do pavimento, não depende só da capacidade de drenagem do piso. Para Meyer, o ideal seria que a percolação fosse compatível com o volume de precipitações, ou seja, que o tempo de saída fosse o mesmo da velocidade de entrada, evitando os acúmulos por completo.

“Originalmente, o foco do piso permeável é fazer a água da chuva desaparecer sob o piso e reduzir a ocorrência de enchentes, à revelia de preceitos da engenharia de drenagem e pavimentação”, ressalta o gerente.

Ainda assim, a pavimentação permeável apresenta excelente capacidade de percolação e é capaz de evitar inundações. “Se o sistema composto por camadas granulares e revestimento permeável for dimensionado hidraulicamente para absorver determinada chuva, e o solo for propício à infiltração, pode-se dispensar até dispositivos como ralos”, acrescenta o professor.

ABASTECIMENTO DE ÁGUA

O pavimento permeável também pode ser concebido para captar e acumular água em reservatórios pluviais, também chamados de cisternas. A solução é ideal para aproveitamento potável (com tratamento) e não potável (sem tratamento, para fins sanitários).

Em países como Estados Unidos da América, Japão, Alemanha e Austrália, são oferecidos financiamentos para construir áreas de captação. A água da chuva torna-se uma alternativa para garantir segurança no abastecimento em situações de emergência.

PAVIMENTO PERMEÁVEL NA USP

A Prefeitura de São Paulo e o Centro Tecnológico de Hidráulica da USP (Universidade de São Paulo) foram responsáveis pela construção de um sistema de captação e reserva de água em um estacionamento de 1.600 m² da universidade, em 2010. O projeto piloto é forma de estudar soluções para problemas de drenagens urbanas.

De acordo com Virgilis a pavimentação tem apresentado ótima durabilidade. “Recentemente fizemos estudos na USP e o pavimento permeável comportou-se com praticamente a mesma eficiência de cinco anos atrás, quando foi construído”, revela.

Pisos permeáveis são favoráveis para a situação de escassez de água, especialmente se forem amplamente utilizados por condomínios, loteamentos, edifícios e residências como reúso e até mesmo como medida complementar de drenagem urbana, contribuindo para a diminuição das enchentes
Afonso Virgilis

Alguns conjuntos habitacionais no bairro de Perus, zona noroeste da cidade, também optaram por esse método. Na zona sul, na Área de Preservação Ambiental (PA) de Bororé, o pavimento permeável também foi utilizado.

Virgilis acredita que a pavimentação permeável é um método benéfico para casos emergenciais. “Ele é favorável para a situação de escassez de água, especialmente se for amplamente utilizado por condomínios, loteamentos, edifícios e residências como reúso e até mesmo como medida complementar de drenagem urbana, contribuindo para a diminuição das enchentes”, completa.

Apesar das vantagens, a pavimentação permeável também apresenta suas ressalvas. “Não podem ser aplicados em áreas de enchente ou locais mais baixos das bacias hidrográficas; exigem manutenção para evitar a colmatação dos poros (entupimento); e o preço é mais alto, pois trata-se de um sistema composto por camadas e revestimento”, lista o conselheiro.

NORMA TÉCNICA PARA PAVIMENTO PERMEÁVEL De acordo com Meyer, a pavimentação permeável deve evoluir com a futura Norma Técnica que está em desenvolvimento para projetos desse tipo. Ela foi conduzida para o CB 18 da ABNT que editou, em 2014, seu texto-base. Em etapa final de Consulta Nacional, a expectativa é que entre em vigor até o final deste semestre.

“Ela oferecerá parâmetros para o adequado dimensionamento quanto à resistência e durabilidade, bem como para a conservação e manutenção da eficiência de pisos permeáveis”, prevê o gerente.

A elaboração da norma conta com a colaboração de especialistas da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) e da FCTH (Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica) da Escola Politécnica (POLI) da Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, na cidade de São Paulo, é o ETS 03-2013 que regulamenta a utilização de pavimentos permeáveis em ruas de tráfego leve.

Avanços tecnológicos também devem aperfeiçoar a pavimentação permeável com peças construtivas que evitam patologias e aumentam a eficiência do sistema. “Novos materiais de revestimentos estão sendo desenvolvidos, como pré-moldados de concreto permeável de vários tamanhos e cores, e asfalto permeável com adição de borracha moída de pneus e fibras, sempre na busca por maior resistência estrutural”, conta Virgilis.

“A crise de abastecimento deve impactar fortemente os hábitos de consumo. A captação de água da chuva pelo piso e seu acúmulo em cisternas passará a ser óbvia”, aposta Meyer.

Colaboraram para esta matéria

Afonso Virgilis – É professor de Hidráulica na Escola de Engenharia Mackenzie, professor de Estradas e Aeroportos da Universidade São Judas Tadeu, engenheiro da Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras e Conselheiro Titular do Conselho Municipal de Ciência Tecnologia e Inovação.
Ronaldo F. T. Meyer – Arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, antiga FNA/UB) com extensão universitária em Industrialização da Construção e Planejamento Urbano pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Hannover (Alemanha). Foi coordenador do Conselho de Desenvolvimento de Mercado da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) entre 1983 e 2001. Atuou nas empresas SH Fôrmas, Duratex e Braston. É Gerente de Comunicação Corporativa da EmpresasCITY desde 2011.