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Piauí receberá a maior usina solar da América Latina

Empreendimento terá capacidade instalada de 292 megawatts e poderá abastecer cerca de 300 mil residências

Publicado em: 28/06/2017

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

O estado do Piauí será sede da maior usina de energia solar da América Latina. O empreendimento já começou a ser construído no município de Ribeira do Piauí, localizado a 377 km da capital Teresina, e ocupará área de 690 hectares. Batizada de usina Nova Olinda, quando concluída terá capacidade instalada de 292 megawatts. Os investimentos para execução da obra, calculados em cerca de US$ 300 milhões, estão sendo realizados pela empresa italiana Enel, por meio de sua subsidiária Enel Green Power Brasil, vencedora do leilão de energia solar realizado em agosto de 2015.

“A construção de usinas solares fotovoltaicas tem influência positiva na matriz energética nacional, já que produzem energia limpa e com impacto ambiental praticamente inexistente’, considera o engenheiro Marcelo Gradella Villalva, professor na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ele complementa: “Nos últimos 10 anos, observou-se no Brasil um aumento crescente no uso de combustíveis fósseis para a geração de eletricidade - como o petróleo, o gás natural e o carvão. A criação de usinas solares, juntamente com as eólicas, deverá ter como primeiro resultado a redução no aproveitamento das termelétricas baseadas em fontes fósseis”.

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Equipamentos para geração de energia solar fotovoltaica (pedrosala/ Shutterstock.com)

GERAÇÃO FOTOVOLTAICA EM ASCENSÃO

A usina Nova Olinda irá retirar do Complexo Fotovoltaico Ituverava, localizado na Bahia e com capacidade instalada de 254 megawatts, o posto de maior da América Latina. Para Villalva, esse é um indicativo de que o Brasil está aprendendo a aproveitar essa fonte energética. “Apesar de termos elevados níveis de radiação solar, o país praticamente desconhecia a geração fotovoltaica. As primeiras usinas só foram construídas há cerca de três anos. A expectativa é de que, nas próximas décadas, muitos empreendimentos solares sejam implantados no território nacional”, diz.

A construção de usinas solares fotovoltaicas tem influência positiva na matriz energética nacional, já que produzem energia limpa e com impacto ambiental praticamente inexistente
Marcelo Gradella Villalva

Anualmente, a usina Nova Olinda será capaz de gerar mais de 600 GWh, quantidade suficiente para atender a 300 mil residências e evitar a emissão de cerca de 350 mil toneladas de CO2 na atmosfera. Os cálculos da redução da geração de gás carbônico são baseados na substituição das usinas termelétricas pelas usinas solares. “Além disso, há o fato de que plantas solares são construídas em locais que não abrigam vegetação, como regiões áridas ou desérticas, e não requerem a construção de barragens, assim como acontece com as hidrelétricas”, destaca o docente.

A escolha do Piauí para receber a usina é justificada por motivos técnicos. A região Nordeste do Brasil está bem próxima da linha do Equador, o que a torna muito privilegiada quanto à incidência de radiação solar. “Além disso, a área tem poucas chuvas e céu limpo durante praticamente o ano inteiro”, complementa o engenheiro. A energia gerada pela usina será injetada no SIN - Sistema Interligado Nacional. Isso significa que, apesar de o empreendimento estar localizado no Nordeste, a eletricidade gerada pode ser exportada para outras regiões do país, se for necessário.

PREÇO DA ENERGIA

O aumento no uso das termelétricas tem elevado o preço da energia, principalmente na região Nordeste. Esse tipo de geração é prejudicado devido a uma soma de fatores, como períodos prolongados de seca e, consequentemente, a redução dos níveis dos reservatórios das hidrelétricas. “A inserção de usinas solares na região deverá contribuir para a redução do custo da energia elétrica”, indica o professor.

A expectativa é de que, nas próximas décadas, muitos empreendimentos solares sejam implantados no território nacional
Marcelo Gradella Villalva

A diminuição da atividade industrial causada pela atual crise econômica faz com que planos de construção de novas plantas, como a de Nova Olinda, sejam frequentemente cancelados. “No entanto, se pensarmos em horizontes de médio e longo prazo, quando houver a retomada do crescimento, existirá o risco de falta de energia”, alerta o especialista, completando: “Sobretudo se atravessarmos períodos de secas prolongadas nas regiões Sul e Sudeste, como aconteceu dois anos atrás”. O docente ressalta, ainda, que investir agora em usinas solares é interessante para o futuro. “A iniciativa evitará que plantas térmicas sejam ligadas às pressas para suportar o aumento da demanda”, diz.

MÃO DE OBRA

O setor de energia solar fotovoltaica é conhecido em todo o mundo por ser um grande gerador de empregos. “Mais postos de trabalho são criados no mercado de energia solar do que em qualquer outro segmento ligado a fontes tradicionais, como petróleo e carvão”, comenta Villalva. O setor solar está em permanente evolução, com pesquisas e constantes desenvolvimentos de novos materiais e equipamentos. “A indústria fotovoltaica é altamente tecnológica e auxilia o desenvolvimento científico, tecnológico e econômico em todos os países onde é explorada. O Brasil não pode perder a oportunidade de apostar nessa fonte alternativa de energia”, ressalta.

Para auxiliar na qualificação dos profissionais brasileiros, foi criado na Unicamp um programa de cursos e treinamentos em energia solar. O projeto teve início com cursos básicos, de introdução à energia solar fotovoltaica, voltados para o público em geral, e depois evoluiu para cursos avançados de projeto e dimensionamento de sistemas, destinados a técnicos e engenheiros. “Atualmente, está sendo criado programa de capacitação em instalação de sistemas, para a formação de profissionais que atuam em campo, realizando a construção de usinas solares e sistemas fotovoltaicos de geração distribuída. Mais informações podem ser encontradas em http://www.cursosolar.com.br”, finaliza Villalva.

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Colaboração técnica

Marcelo Gradella Villalva – Possui graduação e títulos de mestre e doutor em Engenharia Elétrica. É professor de Engenharia Elétrica na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atua como pesquisador nas áreas de conversão de energia elétrica e fontes renováveis. Ministra, por meio da Escola de Extensão da Unicamp, cursos de extensão universitária em energia solar fotovoltaica, com os seguintes temas: “Introdução à Energia Solar Fotovoltaica - Sistemas Isolados e Conectados à Rede” e “Projeto e Dimensionamento de Usinas Solares e Sistemas Fotovoltaicos de Geração Distribuída”.