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Pilotis agregam função e beleza a projetos arquitetônicos

A evolução do concreto e das tecnologias construtivas asseguram liberdade à arquitetura para projetar grandes vãos, considerando importantes questões técnicas e estéticas

Publicado em: 08/03/2016

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

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Fachada do Palácio do Planalto, obra de Oscar Niemeyer (Donatas Dabravolskas/ shutterstock.com)

De origem francesa, a palavra pilotis se refere aos pilares estruturais que sustentam uma construção. “Em geral, não são projetados com intuito estético, mas, ao resolver a questão técnica, esses elementos podem, sim, ter característica plástica específica”, comenta o arquiteto José Luiz Tabith Júnior, titular do escritório JT Arquitetura e professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie, em São Paulo.

Tabith lembra que os pilotis em ‘V’ de Oscar Niemeyer cumprem esse conceito e asseguram personalidade ao edifício. Eles imprimem um ritmo mais leve e o prédio passa a flutuar, independentemente do sistema construtivo empregado – concreto ou metálico.

RELAÇÃO COM A CIDADE

Para Tabith, um dos elementos mais relevantes na história da arquitetura são os apoios estruturais horizontais e verticais. O piloti, como elemento em que a estrutura toca o solo, passa a ter grande valor ao estabelecer um diálogo do edifício com os transeuntes e a cidade. “A pessoa está vindo da rua, penetra no edifício e vai encontrando os primeiros fechamentos e os pilares como pontos de apoio", ressalta.

Em geral, [os pilotis] não são projetados com intuito estético, mas, ao resolver a questão técnica, esses elementos podem, sim, ter característica plástica específica
José Luiz Tabith Júnior

Um projeto de Tabith que venceu o concurso nacional para a sede da Ordem dos Advogados do Brasil, em Campo Grande (MS), em 1997, utiliza o elemento que suporta a estrutura metálica e entra pelo edifício, reproduzindo o mesmo movimento que se vê por fora. “A intenção é que haja uma compreensão de que é o mesmo espaço que começou antes de a pessoa entrar no edifício. A característica desse prédio é de continuidade da circulação, ou seja, quando se chega no final, é possível sair do prédio de novo – e quem vai acompanhando o percurso é o piloti”, explica.

POSSIBILITANDO GRANDES VÃOS

A tecnologia tem hoje tal nível de domínio, principalmente na Europa e Estados Unidos, que permite que tais pilares cumpram sua função estrutural, porém com uma liberdade muito maior. Antigamente, um projeto com vão de 10 era uma ousadia. Nos dias atuais, vencer 20 m é totalmente plausível. No Brasil, como a solução projetual é ainda muito dispendiosa, especialmente para o mercado imobiliário, ela acaba sendo usada apenas em edificações especiais.

A técnica de construção é convencional, o que mudou foram as resistências do concreto. “É como se criássemos uma grande plataforma muito rígida que se autossustenta, sem necessidade de apoiá-la inteiramente, mas apenas em pontos vitais”, destaca Tabith.

NOVOS DESENHOS E REVESTIMENTOS

Como o avanço na tecnologia construtiva foi tão representativo, arquitetos de expressão internacional passaram a questionar a racionalidade construtiva. Surgiram, então, pilotis inclinados, assimétricos, com vãos diversos entre um e outro, ou agrupados de um lado deixando um grande balanço de outro.

A pessoa está vindo da rua, penetra no edifício e vai encontrando os primeiros fechamentos e os pilotis como pontos de apoio
José Luiz Tabith Júnior

Muito além dos circulares que marcaram época na arquitetura brasileira, esses elementos têm agora formas variadas, do elíptico ao quadrado, sem qualquer interferência estrutural. Mas quando é solto no espaço, passa a ter uma grande importância plástica, exigindo cuidado maior de execução do que quando inserido dentro de uma parede, que será posteriormente revestida.

Tabith explica que, quando se constroem os pilotis afastados da parede, é essencial que sejam iguais, evitando diferenças causadas por fôrmas de concreto que podem deformar, alterando o resultado final. “A precisão é importante se essa for a intenção do projeto. Porque há pilares, hoje, que começam com espessuras mais estreitas, alargam e voltam à dimensão inicial. A espessura mínima é definida pelo cálculo estrutural, que envolve a altura do edifício. A resistência vertical é elevada, portanto, não é necessária uma grande peça”, observa o professor.

Acompanhando o declínio das construções em concreto aparente – solução que predominou na arquitetura nas décadas de 1960/70, particularmente em São Paulo e Rio de Janeiro, os pilotis ganharam revestimentos variados, dos mosaicos às pedras. De acordo com Tabith, ao longo do tempo, houve rejeição do mercado ao concreto aparente e, com isso, muito se perdeu do conhecimento em relação à sua execução. Há cerca de cinco anos, a solução vem retornando aos novos projetos.

A PRECISÃO DOS SOFTWARES

Os softwares são importante ferramenta da arquitetura e da engenharia, pois permitem aferir a resultante estrutural e simular a realidade com grande precisão. Atualmente, ao lançar em softwares a forma imaginada e a carga, o arquiteto consegue saber com exatidão o que vai ocorrer. O profissional apenas corrige, se necessário, os pontos de inflexão ou de aumento da espessura, por exemplo. É como se construísse virtualmente, na tela do computador, e com toda a segurança. “No passado, os profissionais faziam tudo a mão", lembra Tabith.

Na Galeria da Arquitetura, conheça projetos que usaram pilotis:
Residência CA, do escritório Jacobsen Arquitetura
Casa da Copaíba, do escritório MGS – Macedo, Gomes e Sobrera
Edifício Toulon Office Center, do escritório Roberto Leme Arquitetura

Colaboração técnica

José Luiz Tabith Júnior – Formado em 1983 pela Faculdade de Arquitetura Brás Cubas, de Mogi das Cruzes (SP), e doutor em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). É professor de projetos na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie. Em 1987, ao lado dos colegas Carlos Eduardo Bianchini e Fausto Torneri, teve o projeto para o Paço Municipal de Suzano premiado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil Departamento de São Paulo (IAB-SP). A partir daí, venceu importantes concursos nacionais e internacionais, como o prêmio UIA (Union Internationale des Architectes) – Honorary Mention, em Veneza, Itália, de 1990, e o Concurso Internacional de Arquitetura para construção da nova sede do Liceu Frances François Mitterrand, em Brasília, em 2009. É titular da JT Arquitetura.