Piscinões são alternativa eficaz para controle de enchentes urbanas
Eles permitem manobrar os volumes de chuva pelo controle das vazões que entram e saem de suas estruturas
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Reservatórios para a retenção de água são construídos para reduzir o efeito de inundações (Divulgação DAEE)
Reservatórios para a retenção de água são construídos no Brasil desde a década de 1990 como solução para reduzir o efeito de enchentes e inundações em áreas urbanas. A construção desse tipo de infraestrutura, que é uma alternativa ao aumento da canalização de rios ou córregos, tem indicação sempre que um sistema de drenagem falha e gera alagamentos em uma cidade consolidada. “Especialmente em locais densamente ocupados e com redes de drenagem já implantadas, há poucas opções para aumento da capacidade da rede de drenagem”, comenta o engenheiro Marcelo Gomes Miguez, professor dos Programas de Engenharia Ambiental e de Engenharia Urbana da Escola Politécnica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Segundo ele, os piscinões são úteis justamente por permitirem manobrar os volumes de chuva pelo controle das vazões que entram e saem de suas estruturas.
Os piscinões são construídos no Brasil desde a década de 1990 (Divulgação DAEE)
O piscinão protege as áreas a jusante de onde está instalado, de forma que não adianta construí-lo próximo à foz, assim como não é efetivo colocá-lo na cabeceira da baciaJosé Rodolfo Scarati Martins
PROJETO E DIMENSIONAMENTO DE PISCINÕES
Entre os desafios por trás do projeto e construção de piscinões está a identificação do terreno ideal para receber o reservatório. “O piscinão protege as áreas a jusante de onde está instalado, de forma que não adianta construí-lo próximo à foz, assim como não é efetivo colocá-lo na cabeceira da bacia”, alerta o engenheiro José Rodolfo Scarati Martins, professor do departamento de engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Ele explica que os piscinões são dimensionados a partir de cálculos hidrológicos para determinar qual volume precisa ser retido. Conhecido este volume, parte-se para localizar a área, que muitas vezes precisa ser desapropriada.
Em função das características do projeto, os piscinões podem ganhar funções complementares, além de reservar água. Podem, por exemplo, contribuir para a revitalização de espaços degradados e agregar áreas verdes e de recreação.
Os piscinões permitem manobrar os volumes de chuva pelo controle das vazões que entram e saem de suas estruturas (Divulgação DAEE)
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Projeto do reservatório Guamiranga (Divulgação DAEE)
PISCINÃO GUAMIRANGA
Com capacidade para acumular 850 mil m³ de água das chuvas, o maior piscinão do Estado de São Paulo foi entregue em fevereiro de 2017, na zona leste da capital paulista. Localizado ao lado do rio Tamanduateí, o reservatório Guamiranga começou a ser construído em 2012 para minimizar o risco de inundações nos bairros da Vila Prudente e Mooca. Consumindo investimentos de R$ 160 milhões, ele retém as águas do rio Tamanduateí na hora do pico da tempestade, liberando-a depois que passam as chuvas. Construído pelo DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), o complexo será operado e mantido pela administração municipal.
Ao todo, o reservatório ocupa uma área de 70 mil m² onde, nos anos 1950, havia um parque industrial. Tal particularidade exigiu a realização de um trabalho de descontaminação do terreno que incluiu o monitoramento de toda a área, o controle de águas superficiais e subterrâneas, a implantação de postos de monitoramento de emissão de gases e a análise do material removido para aterros específicos.
Entre os desafios por trás do projeto e construção de piscinões está a identificação do terreno ideal para receber o reservatório (Divulgação DAEE)
A grande profundidade do piscinão Guamiranga exigiu a execução de cinco linhas de tirantes com comprimento e capacidade variáveisManoel Horário Guerra
O engenheiro Manoel Horário Guerra, diretor de obras do DAEE, conta que, para a construção do piscinão, que tem profundidade máxima de 22 m, foram escavados 875 mil m³. As contenções verticais em concreto armado foram executadas em paredes diafragma. “A grande profundidade do piscinão Guamiranga exigiu a execução de cinco linhas de tirantes com comprimento e capacidade variáveis”, destaca Guerra, lembrando que os taludes do reservatório foram revestidos com concreto projetado.
A infraestrutura é dividida em três células de captação, reserva e escoamento de água, com túnel de 103 m para interligar as áreas 1 e 2. Também conta com quatro comportas e dois stop logs (comportas verticais) laterais de entrada de água, além de seis bombas de recalque, cada uma com capacidade para 850 litros por segundo.
O projeto do piscinão deve prever defesas para as estruturas de captação (Divulgação DAEE)
LIMPEZA CRÍTICA
Um aspecto especialmente complicado na operação dos piscinões diz respeito à manutenção desse tipo de infraestrutura. Isso porque, em geral, os escoamentos urbanos trazem uma quantidade considerável de sedimentos e resíduos sólidos que se acumulam nas estruturas de captação e no interior do reservatório.
Para minimizar o problema, o projeto do piscinão deve prever defesas para as estruturas de captação e para as eventuais bombas hidráulicas utilizadas no escoamento de saída do reservatório. “É necessário também prever acessos para manutenção, com a possibilidade de entrada no reservatório de caminhões e equipamentos de grande porte”, lista Marcelo Miguez.
Recomenda-se o uso de equipamentos de automação das comportas e bombas, assim como o acionamento remoto para o melhor aproveitamento dos piscinões (Divulgação DAEE)
Os reservatórios precisam ser operados de forma inteligente, de modo que o armazenamento seja acionado no momento adequado. “Para isso, vale lançar mão de tecnologia de monitoramento em tempo real do rio, do reservatório e das condições meteorológicas locais”, cita Martins, que recomenda, também, o uso de equipamentos de automação das comportas e bombas, assim como o acionamento remoto para o melhor aproveitamento dos piscinões.
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Colaboração técnica
- Marcelo Gomes Miguez – Engenheiro-civil, doutor em Engenharia Civil na área de Recursos Hídricos. É professor dos Programas de Engenharia Ambiental e de Engenharia Urbana da Escola Politécnica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). .
- José Rodolfo Scarati Martins – Engenheiro-civil, doutor em Engenharia Hidráulica pela Universidade de São Paulo. É professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo).
- Manoel Horário Guerra – Engenheiro civil, é diretor de Obras do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo).