Pisos drenantes colaboram para a redução das enchentes nas cidades
Esses pisos fazem parte da família de pavimentos permeáveis, constituída também pelos intertravados e vazados. Cada um tem características e locais apropriados de uso. Conheça!
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Áreas permeáveis, principalmente as vegetadas, ajudam a amenizar a temperatura urbana e a combater as ilhas de calor (Foto: Molbra/Divulgação)
Ruas, calçadas, estacionamentos e quintais impermeáveis têm participação ativa nas enchentes urbanas, ao reduzir a infiltração da água no solo. “O aumento das taxas de escoamento das águas pluviais podem chegar a 95% em grandes cidades brasileiras. Entre as consequências, está o aumento das vazões máximas dos rios em até sete vezes”, informa o doutor em engenharia ambiental, Leandro Guimarães Bais Martins, sócio proprietário da Habito Educação Ambiental. Entre as soluções para este problema estão os pisos drenantes, também chamados de pavimentos permeáveis.
Segundo Bais, a preservação da permeabilidade do solo nas cidades ajuda a equilibrar essa conta, ao permitir a infiltração das águas da chuva e reduzir a parcela de escoamento superficial que seria direcionada aos rios. Além disso, as áreas permeáveis, principalmente as vegetadas, ajudam a amenizar a temperatura urbana e a combater as ilhas de calor, contribuindo para uma melhor qualidade do ar.
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Pisos drenantes: funcionais e versáteis
Nesse contexto de funcionalidade urbana versus função hidrológica, os pisos drenantes surgem como solução ideal, cumprindo a dupla função. Eles têm superfície uniforme e durável que permite a infiltração da água no solo e dispensam manutenção frequente.
“Os pisos drenantes são muito versáteis e, atualmente, suas características se assemelham muito ao concreto normal ou ao asfalto, tanto em textura como em durabilidade”, fala Bais.
Em geral, são feitos de concreto poroso ou pavimento asfáltico, mas podem ser simplesmente blocos sólidos intertravados, com espaços entre blocos que permitem a passagem da água. Por todas essas propriedades, os pavimentos permeáveis ganham cada vez mais espaço nas cidades.
Famílias de pavimentos permeáveis
“Se considerarmos todos os pavimentos permeáveis que possuem a característica de pavimentação, podemos incluir tipos bastante interessantes para projetistas em geral”, diz o especialista, detalhando cada um deles.
- Pisos drenantes: têm superfícies sólidas e permeáveis, com poros muito pequenos ou imperceptíveis, e textura praticamente semelhante à sua versão impermeável. São, em geral, vendidos em blocos ou placas pelos fabricantes. Possuem boa resistência mecânica e superfícies uniformes, que raramente trabalham ou desalinham. Além disso, são muito duráveis.
Contudo, se não forem limpos com frequência, tendem a perder boa parte da permeabilidade, uma vez que os poros podem entupir. Seu funcionamento depende de uma montagem adequada, através da execução de camadas de sub-base específicas, condição para garantir uma boa permeabilidade.
- Blocos intertravados: também chamados de pavers, são blocos sólidos impermeáveis. A instalação também é simples, bastando arranjar e encaixar as peças, de forma que a água consegue infiltrar nos espaços entre elas. São encontrados no mercado em formatos variados, desde os retangulares comuns aos mais complexos. “Permitem arranjos artísticos no solo e têm alta durabilidade, embora tendam a trabalhar com o tempo, exigindo que sejam alinhados esporadicamente”, indica Bais.
Dependendo do método de arranjo e construção, podem ter taxas de permeabilidade limitada, que tendem a decair com o tempo pelo entupimento dos vãos entre blocos. Seu funcionamento também depende de uma montagem adequada, exigindo a construção de camadas de sub-base específicas para garantirem uma boa permeabilidade.
- Blocos vazados: conhecido pelas denominações pisograma, concregrama ou bloquete vazado, possuem amplas aberturas para a passagem da água, muitas vezes próprias para receber vegetação. Comercializados como blocos, são colocados lado a lado para comporem uma superfície. Funcionam bem como áreas permeáveis e tendem a preservar sua permeabilidade inalterada ao longo de toda a vida útil. “Sua montagem é mais simples e podem ser instalados diretamente sobre o solo nivelado e com compactação suave, dispensando camadas de sub-base”, explica, reforçando que a compactação está diretamente ligada à durabilidade da estabilidade da superfície.
Resistência x instalação
Dentro da engenharia de materiais, a questão da resistência é bastante relativa. “Ou seja, qualquer material apresenta boa resistência se instalado da maneira adequada e para a situação adequada. Assim, se bem instalados, os pisos drenantes não são inferiores em nada aos materiais impermeáveis”, reforça.
Entretanto, quando instalado em locais inadequados ou sem a execução correta, qualquer material pode apresentar problemas. Por exemplo, não é incomum encontrar superfícies de estacionamentos revestidas de pisograma com placas rachadas ou com pequenas áreas danificadas, e o problema geralmente está relacionado aos esforços sobre a superfície.
“Quando se instala pisograma em estacionamentos de carros de passeio e em local com poucas manobras em cima do piso, a durabilidade é muito superior àquela onde há trânsito de caminhões. Isso não quer dizer que o material não é resistente, apenas que a escolha não foi adequada para a situação”, expõe Bais.
Para alguns materiais, como os blocos intertravados de concreto, alguns fabricantes alegam que são mais resistentes que as superfícies de concreto convencionais, por exemplo. Isso porque não apresentam fissuras devido à dilatação térmica, comuns e dispendiosas nas superfícies de concreto. “No caso dos blocos, mesmo que apresentem problemas, são de fácil reposição e manutenção, o que torna o material bastante vantajoso”, comenta.
Critérios para especificação
A escolha do piso drenante geralmente deve atender ou a um critério técnico ou a um critério estético. No técnico, a ideia é priorizar a função principal do espaço, como um estacionamento ou uma calçada. “Assim, o conforto dos usuários vem em primeiro lugar. Recomenda-se os pisos drenantes não vegetados e sem vãos ou espaços livres que possam tornar a superfície irregular”, sublinha.
Já os blocos vazados, por alternar entre superfícies duras e macias, como concreto e grama, dificultam o caminhar de pedestres e seriam mais indicados em locais de trânsito de carros e com poucos transeuntes, como áreas de estacionamento ou mesmo locais com funções paisagísticas.
Leandro Bais orienta que, para a correta especificação de piso permeável, é muito importante que se estude as opções disponíveis no mercado e qual a recomendação de uso feita pelo fabricante. “Existem diversas opções, desde aquelas com 60% de superfícies vegetadas e 40% duras até aquelas opções de piso drenantes 100% duras. É interessante destacar que, quanto maior a superfície dura, mais regular o piso para pedestres”, informa.
Custo-benefício
Os pisos drenantes mais simples, como os intertravados, não costumam ser muito mais caros do que os tradicionais. Entretanto, na hora de calcular os custos, é preciso levar em conta que trata-se de um material diferenciado. Se bem projetados, trazem bastante charme ao ambiente, como os pisos intertravados usados como mosaicos, ou tornam os ambientes mais agradáveis, como os pisogramas.
É interessante lembrar que esses pisos têm uma função hidrológica de infiltração de água, ajudam os proprietários a cumprirem as diretrizes de ocupação de solo e possuem vantagens como fácil manutenção e reposição em caso de defeitos.
“Alguns fabricantes alegam, inclusive, que os pisos drenantes têm custos menores que as superfícies tradicionais, pois são instalados manualmente, sem grandes equipamentos e, no longo prazo, têm menores custos de manutenção”, acrescenta. Além disso, materiais drenantes reduzem custos com instalação de drenagem pluvial em edificação, por exemplo, economia que deve ser considerada na hora de comparar os materiais permeáveis com os tradicionais.
“Por fim, com a popularização dos pisos drenantes, a tendência é que se tornem cada vez mais acessíveis, fazendo com que seus custos sejam cada vez mais competitivos no mercado”, acredita Bais.
Histórico
A cultura da impermeabilização do solo, no Brasil, se desenvolveu sob uma abordagem “higienista”, que associava as águas de chuva a doenças de veiculação hídrica. “O objetivo dos sistemas de drenagem urbanos era escoar essa água para fora das cidades o mais rápido possível”, conta Leandro Bais. Atualmente, os gestores tentam recuperar a permeabilidade do solo, através de políticas públicas ou legislação municipal, para facilitar o manejo de águas pluviais urbanas.
“Muitas cidades já possuem diretrizes de ocupação do solo onde são exigidos um percentual mínimo do terreno com superfície permeável”, diz. Para a cidade de São Paulo, por exemplo, o Plano Diretor de 2014 exige que um mínimo de 25% do lote seja permeável, esteja no nível do solo e seja diretamente conectado ao terreno, sobre solo local. Já os estacionamentos e calçadas enfrentam o desafio técnico de tornar o terreno transitável por pessoas e veículos. A escolha, no passado, foi concretar essas áreas.
Colaboração técnica
- Leandro Guimarães Bais Martins – Engenheiro Ambiental, especialista em hidrologia e drenagem urbana, tem doutorado pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo. É professor universitário de graduação e pós-graduação e consultor de projetos de drenagem urbana e combate a inundações. Trabalha há mais de 10 anos com drenagem sustentável e adequação de projetos de manejo de águas pluviais urbanas. Sócio proprietário da Hábito Educação Ambiental.