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Preparo da cabeça de estacas é etapa crítica na execução de fundações

Quando mal realizado, procedimento pode atrapalhar a transferência de cargas, gerando recalques e deformações

Publicado em: 26/04/2017Atualizado em: 28/03/2023

Texto: Redação PE

Durante a execução de fundações profundas, o preparo das cabeças das estacas é uma etapa fundamental para garantir a transferência dos esforços como definido no projeto de fundações e preconizado pelas normas técnicas vigentes. Perda de área de contato, corte desnivelado ou irregular e presença de materiais estranhos sobre o topo da estaca são alguns problemas que podem acontecer quando há falhas na execução desse serviço e que podem gerar recalques na estrutura e deformações exageradas no bloco.

“Muitas vezes esses problemas são confundidos com recalques devido à insuficiência na estaca quando, na verdade, são consequência de falhas na ligação com o bloco”, alerta o engenheiro e projetista de fundações José Luiz de Paula Eduardo.

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Estaca arrasada com armaduras aparentes, pronta para a execução do bloco de coroamento
(Aisyaqilumaranas/ Shutterstock.com)

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BOAS PRÁTICAS

O cuidado com o preparo das cabeças de estacas deve começar ainda no molde desses elementos de fundação. Como ao final da concretagem pode haver subida do excesso de argamassa, ausência de britas e contaminação com solo ou fluidos estabilizantes, admite-se que o concreto presente na cabeça da estaca possa ter qualidade inferior. Daí a recomendação para que o lançamento do concreto seja interrompido acima da cota de arrasamento da estaca para que, posteriormente, essa camada seja removida.

“Para estacas escavadas sem uso de fluido estabilizante, bem como para tubulões, o concreto deve ultrapassar a cota de arrasamento do elemento de fundação em pelo menos 20 cm. Já para estacas escavadas com uso de fluido estabilizante, o concreto deverá ultrapassar a cota de arrasamento em no mínimo 50 cm, sendo que muitas construtoras têm adotado camadas acima de 80 cm por precaução”, explica o engenheiro Hugo Sefrian Peinado, professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Maringá.

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EQUIPAMENTOS PARA CORTE DE ESTACAS

O corte adequado do concreto que sobra além da cota de arrasamento deve garantir uma cabeça de estaca plana e regular. O diâmetro da estaca e o tipo de concreto que a compõe são determinantes na definição da estratégia de preparo.

Para estacas escavadas sem uso de fluido estabilizante, bem como para tubulões, o concreto deve ultrapassar a cota de arrasamento do elemento de fundação em pelo menos 20 cm
Hugo Sefrian Peinado

Estacas moldadas no local, de grande diâmetro e concreto de alta resistência, podem ser preparadas com um corte inicial realizado por marteletes mais pesados e com o acabamento mais leve nos últimos 30 cm ou 40 cm. As estacas de diâmetros menores precisam ser cortadas com equipamentos mais leves, como martelos rompedores leves ou ponteiros e marretas. Algumas construtoras utilizam disco diamantado para corte de uma cintura na estaca na cota final do arrasamento, delimitando claramente o trabalho de preparo.

Para o corte geral em obras com alturas grandes de corte e uma quantidade razoável de estacas de um mesmo diâmetro, algumas empresas passaram a utilizar um equipamento hidráulico, que consiste num colar de pistões que rompem o concreto por compressão. “O equipamento trabalha montado numa escavadeira hidráulica, não causa vibrações e proporciona uma quebra rápida do concreto”, comenta Eduardo, lembrando que o acerto final, também nesses casos, deve ser feito com marteletes manuais leves para evitar fissuras no elemento de fundação que possam comprometer o seu desempenho e durabilidade.

A mão de obra deve ser bem preparada e jamais ser remunerada por tarefa, para evitar que a busca por produtividade supere a qualidade final
José Luiz de Paula Eduardo

Segundo Peinado, o posicionamento do ponteiro para a quebra do concreto que ultrapassa a cota de arrasamento deve ser sempre de baixo para cima ou na horizontal, evitando danificar o elemento de fundação. Ainda durante a demolição, outra recomendação é deixar no mínimo 5 cm do concreto da estaca acima do nível do fundo do bloco para ajudar no embutimento do elemento de fundação no bloco de coroamento.

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CUIDADOS NA CONTRATAÇÃO

O serviço de corte e preparo da cabeça de estacas não é uma simples demolição do topo da estaca. As equipes envolvidas devem estar cientes do valor do serviço e da sua qualidade final. “A mão de obra deve ser bem preparada e jamais ser remunerada por tarefa, para evitar que a busca por produtividade supere a qualidade final”, sugere Eduardo.

De acordo com a ABNT NBR 6.122:2010 – Projeto e Execução de Fundações, é de responsabilidade do engenheiro de fundações especificar em projeto como deverá se dar a ligação estaca-bloco de coroamento, no intuito de assegurar a transferência dos esforços.

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Colaboração técnica

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José Luiz de Paula Eduardo – Engenheiro civil, é diretor administrativo da ABEG (Associação Brasileira de Empresas de Projetos e Consultoria em Engenharia Geotécnica). Também é diretor da Apoio Assessoria e Projeto de Fundações e professor do curso de pós-graduação da FESP (Faculdade de Engenharia de São Paulo).
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Hugo Sefrian Peinado – Engenheiro civil, mestre em engenharia urbana e professor do departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Maringá (DEC/UEM) .