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Primeira obra ‘verde’ do Minha Casa Minha Vida

Residencial construído em Minas Gerais inova e recebe a certificação Selo Casa Azul, da CAIXA

Publicado em: 21/02/2013

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Redação AECweb / e-Construmarket

Durante sua primeira fase, o programa do governo federal Minha Casa Minha Vida iniciou a construção de um milhão de residências destinadas a famílias com renda entre zero e dez salários mínimos. Agora, na segunda etapa, a promessa é contratar mais dois milhões de moradias até 2014. Há quem identifique no programa a oportunidade de construir edificações sustentáveis. É o caso do Ville Barcelona – empreendimento localizado na cidade de Betim, Minas Gerais – e primeiro projeto do Minha Casa Minha Vida certificado pelo Selo Casa Azul, concedido pela Caixa Econômica Federal.

Com previsão de entrega para setembro deste ano, o edifício residencial Ville Barcelona abrigará 30 famílias em um prédio de oito andares. Cada apartamento terá dois quartos e área útil de, aproximadamente, 43 m2. A construção é da Precon Engenharia, já a certificação ambiental é resultado do trabalho da Creato Consultoria e Projetos. “O Ville Barcelona foi desenvolvido com a intenção de atender a diferentes requisitos sustentáveis. Começa com o processo construtivo diferenciado e a vontade da incorporadora em aliar economia e eficiência ao empreendimento”, afirma a arquiteta Patricia Vasconcellos, diretora técnica da Creato.

O prédio atendeu a 19 créditos obrigatórios, necessários para iniciar o processo de certificação, e mais 11 de livre escolha. Com as soluções adotadas, o edifício recebeu o nível Prata do Selo Casa Azul. Patrícia comenta que o maior diferencial da obra para atingir esse resultado foi a pré-fabricação da estrutura e a modulação do projeto. Entre as vantagens, ela destaca que “a produção em série reduz muito o volume de resíduo gerado durante a construção”.

Diferenciais sustentÁveis

A arquiteta comenta que a primeira medida foi verificar se todos os pré-requisitos do Selo Casa Azul eram atendidos pelo empreendimento. “Após esta análise, foi feita uma avaliação de custo-benefício para a seleção dos créditos que mais se adequavam ao perfil da obra e a descrição do plano de intervenção do projeto com todas as ações necessárias para obter a certificação”, diz.

Entre os recursos usados no Ville Barcelona estão itens como o uso de madeira certificada, a inclusão de trabalhadores locais e a flexibilidade do projeto que, por ser pré-fabricado, tem três opções possíveis de layout. Todas as torneiras das cozinhas, dos lavatórios, dos banheiros e as existentes nas áreas comuns do condomínio foram equipadas com arejadores, dispositivos que limitam a vazão de água.

As bacias sanitárias são dotadas de sistema de descarga com duplo acionamento (três e seis litros) e a medição do consumo de água será feita via rádio por empresa terceirizada, ou seja, cada apartamento pagará apenas o que consumiu de fato. “A medição individualizada de água, pré-requisito da certificação, foi o maior desafio. Pois, como o projeto é pré-fabricado, alterar as prumadas de água para conseguir a individualização tornaria inviável a construção do empreendimento. A solução encontrada foi fazer a leitura do consumo via rádio”, diz Patricia.

Para economizar energia, foram utilizadas lâmpadas eficientes nas áreas comuns e sistema de minuteria nas escadas. “O elevador também é diferente, pois não possui casa de máquinas e consome menos eletricidade”, detalha Patricia.

De acordo com a lei de uso e ocupação da cidade de Betim, a área permeável para essa obra deveria ser de, no mínimo, 30% do terreno revestido por grama ou piso intertravado. O Ville Barcelona aumentou o coeficiente além do necessário e tem 40% de sua área permeável. “Após todas as ações de projeto, elaboramos um caderno com a documentação e informações, que encaminhamos à Caixa Econômica Federal para análise e validação”, conta Patricia.

Economia

Estimativa inicial, com base em dados de construções brasileiras semelhantes e de informações dos fabricantes dos sistemas instalados, indica que o Ville Barcelona irá economizar cerca de 40% de água potável e 25% de energia elétrica. “Utilizar materiais de boa qualidade e com garantia de procedência; automatizar sistemas que normalmente o usuário não dá tanta atenção como iluminação de garagens, halls e escadas; e reduzir o consumo de água com um projeto de jardim bem feito, onde se prioriza plantas adaptadas à região são alguns itens que conferem eficiência a uma edificação com baixo custo de utilização”, destaca.

Segundo ela, além da economia para os futuros moradores, o custo da obra não foi muito diferente daquele investido em construções convencionais. “Quando um projeto já é concebido com características sustentáveis e as alterações necessárias para atendimento aos créditos de uma certificação são realizadas ainda na fase inicial, os gastos para certificar são muito baixos. No caso do Selo Casa Azul é cobrado um valor simbólico pela Caixa Econômica Federal para a avaliação da documentação entregue”, explica, acrescentando que os sistemas economizadores de energia e água têm, hoje, preços similares aos produtos comuns, não gerando impacto nos gastos da construtora.

Baixa manutenÇÃo

A manutenção também foi uma das preocupações do projeto e da certificação. Levou-se em consideração desde a escolha correta dos materiais, para facilitar ao máximo a utilização, até a inclusão de um capítulo especial no Manual do Usuário, mostrando aos futuros proprietários as características construtivas da edificação e como manter o desempenho dos sistemas. Satisfeita com o resultado, Patricia Vasconcellos afirma que este modelo de sucesso será reeditado em novos empreendimentos do Minha Casa Minha Vida. “Já recebemos diversas solicitações de análises de viabilidade de certificação de empreendimentos que fazem parte do programa Minha Casa Minha Vida. Acreditamos que é uma iniciativa que só vem agregar valor ao mercado”, finaliza.

Selo Casa Azul

O Selo Casa Azul é uma classificação socioambiental de empreendimentos residenciais concedida pela Caixa Econômica Federal. A certificação reconhece as edificações que otimizam o uso dos recursos naturais e reduzem custos de manutenção. Para ser certificada, a obra é avaliada em 53 critérios, alguns obrigatórios e outros de livre escolha, divididos entre seis categorias: qualidade urbana; projeto e conforto; eficiência energética; gestão de água; conservação de recursos materiais; e práticas sociais. Dependendo da quantidade de quesitos atendidos, a construção é classificada dentro dos níveis ouro, prata e bronze.

Após as análises, a consultoria chegou à conclusão que o Ville Barcelona atende critérios de todas as categorias:

Qualidade urbana - o entorno tem todos os requisitos de infraestrutura considerados obrigatórios, como a existência de rede de abastecimento de água, pavimentação, energia elétrica, iluminação pública, esgoto sanitário, drenagem, linhas de transporte público regulares, pontos de comércio e serviços dentro de um raio adequado ao deslocamento dos moradores, equipamentos de saúde e escolares nas proximidades. Além disso, a Precon assumiu a reforma de uma praça que fica próxima ao prédio, oferecendo a revitalização do piso, pintura dos elementos construtivos e recuperação da grama. Uma proposta de manutenção periódica também foi apresentada à comunidade.

Projeto e conforto - paisagismo adequado ao clima da região, reduzindo o gasto de água potável para irrigação, local para coleta seletiva de lixo no condomínio, equipamentos de lazer, sociais e esportivos, projeto com flexibilidade de alterações de layout, ventilação e iluminação natural de todos os ambientes dos apartamentos. As vedações externas e internas, por serem pré-fabricadas, passaram por análises laboratoriais que garantiram o desempenho térmico e acústico necessários.

Eficiência energética - adoção de dispositivos economizadores nas áreas comuns e elevador eficiente que consome menos eletricidade.

Gestão da água - torneiras com dispositivos economizadores, bacias sanitárias dotadas de sistema de descarga com duplo acionamento e medição do consumo de água individualizado.

Conservação de recursos materiais - adoção de componentes industrializados, uso de concreto com dosagem otimizada, compra de madeira certificada, formas e escoras reutilizáveis, especificação de materiais que provêm de fabricantes que são aprovados pelos Programas Setoriais de Qualidade do PBQP-H e elaboração de plano de gestão dos resíduos da construção com a destinação correta dos detritos gerados pela obra, reduzindo a quantidade de entulho depositado nos aterros sanitários.

Práticas sociais - educação ambiental dos empregados; adoção de um programa de desenvolvimento pessoal dos funcionários da obra com temas sobre saúde, segurança e orçamento doméstico; e destinação de, no mínimo, 20% das vagas de trabalho na construção para a população local ou futuros moradores que estavam à procura de emprego.


COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA

Patricia Bittencourt de Faria Vasconcellos – Engenheira Civil formada pela FUMEC em 1996, Arquiteta e Urbanista formada pelo Instituto Izabela Hendrix em 1999, ambos em Belo Horizonte – MG. Patrícia sempre trabalhou na área comercial técnica. Especializou-se em Sistemas Tecnológicos e Sustentabilidade aplicados ao ambiente construído, na Faculdade de Arquitetura da UFMG e, em 2009, concluiu na primeira turma o Programa Sustentabilidade para Gestores no setor da Construção Civil da Fundação Dom Cabral em Belo Horizonte. É diretora Técnica da Creato Consultoria e Projetos.