Problemas em telhados: entenda quais são e por que acontecem
Transbordamento ou penetração de água, entupimento das calhas ou condutores, envelhecimento das telhas e danos causados pela ação do vento são os mais comuns
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Problemas na execução do telhado podem ser explicados pela deficiência na preparação de profissionais (Rob Bayer / shutterstock.com)
Qualquer pequena falha no projeto ou na execução de telhados pode acarretar enormes transtornos para toda a edificação. Transbordamento ou penetração de água, entupimento das calhas ou condutores, envelhecimento das telhas e danos causados pela ação do vento são alguns dos problemas mais comuns.
Um elevado número de obras sofre com essas questões, o que é explicado pela deficiência na preparação dos profissionais que atuam na construção civil. “Engenheiros e arquitetos nem sempre têm formação completa em telhados. Também existem professores de ensino superior que lecionam a disciplina, mas que nunca tiveram experiência prática”, destaca o engenheiro Roberto Massaru Watanabe, consultor em segurança, conforto e habitabilidade das edificações.
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Por outro lado, contar com a vivência nas pranchetas e nos canteiros nem sempre é suficiente. “A cada 50 ou 100 anos, ocorrem fenômenos naturais que provocam fortes ventos e chuvas. O profissional que projeta ou constrói há 20 anos não conhecerá essas eventualidades se não tiver estudado o assunto”, exemplifica Watanabe, ressaltando que as ventanias têm potencial de levantar todo o telhado.
AÇÃO DO VENTO
A cada metro quadrado, o vento puxa o telhado para cima com a força de 30 kgf (quilograma-força)Roberto Massaru Watanabe
Ao passar sobre a edificação, o vento exerce duas forças, uma para baixo e outra para cima. A força que empurra o telhado na direção do solo costuma causar danos em telhas grandes, como as metálicas de perfil trapezoidal, que acabam entortando e afundando. Já a força para cima, denominada sucção, muitas vezes é desconsiderada ou esquecida. “Essa pressão é da ordem de 30 kg/m2, ou seja, a cada metro quadrado, o vento puxa o telhado para cima com a força de 30 kgf (quilograma-força)”, explica o engenheiro.
Quando o telhado é composto por telhas maciças, como as de barro, cerâmica e cimento, seu peso total será de cerca de 120 kgf e o vento não consegue levantá-lo. Já se as telhas forem leves, como as de fibrocimento, cujo peso médio é de 23 kgf, a sucção causará o arrancamento do telhado. “A pior situação se dá com as telhas superleves, como as plásticas ou de alumínio, quando o peso do telhado chega a 15 kgf, e qualquer ‘ventinho’ é capaz de danificá-lo”, afirma.
Quando as telhas mais leves são especificadas, o ideal é que as cumeeiras, calhas e todos os demais componentes do telhado sejam firmemente fixados e ancorados. “Mesmo com as telhas de barro, portanto pesadas, é interessante tomar o cuidado de amarrar com arames, pelo menos, as duas fiadas da borda”, recomenda Watanabe.
A localização da edificação também é um fator que interfere na força dos ventos. Morros ou prédios altos na vizinhança canalizam o vento, o que aumenta significativamente a pressão exercida não só sobre os telhados, mas sobre toda a construção.
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VAZAMENTOS DE ÁGUA
É comum ouvir dizer que o telhado está ‘vazando’ água, entretanto, o termo é usado de maneira inadequada. “Vazamento é um fenômeno que ocorre em tubulações hidráulicas. No caso do telhado o que costuma acontecer é o transbordamento da água”, afirma o engenheiro. A situação é causada pelo dimensionamento incorreto da calha, que, se for pequena, não dará vazão ao grande volume acumulado em temporais.
Outra situação comum ocorre em telhados que foram projetados e executados corretamente, mas que, por alterações na vizinhança, começam a apresentar problemas. “Se a edificação estiver construída na divisa do terreno e, do outro lado, for levantado um prédio alto, a combinação de chuva e vento faz com que a água escorra pelas paredes do novo empreendimento e caia na calha do imóvel mais antigo. Isso fará com que o volume de água sobre o telhado aumente e fique acima do que foi calculado inicialmente, causando o transbordamento”, detalha o especialista.
DESGASTES
As infiltrações surgem, principalmente, devido à má vedação. Qualquer espaço, por menor que seja, está sujeito às penetraçõesRoberto Massaru Watanabe
Por não estarem sujeitas ao tráfego de pessoas ou veículos, as telhas não recebem atrito mecânico e, portanto, não sofrem grandes desgastes. “O que acontece é o envelhecimento do material, principalmente, quando a matéria-prima é o plástico. Já as fabricadas de barro, fibrocimento ou cimento não sofrem com a ação do tempo”, explica Watanabe.
INFILTRAÇÕES
A água de chuva pode infiltrar-se – entre outras possibilidades – pelas frestas entre telhas; entre a telha e a cumeeira; e entre telha e calhas. “O problema surge, principalmente, devido à má vedação. Qualquer espaço, por menor que seja, está sujeito às penetrações”, informa o engenheiro. O comportamento da chuva nem sempre é o mesmo, pois, além da intensidade, a direção da queda varia conforme a ação do vento. Por isso, algumas precipitações podem causar infiltrações e outras não.
Se o telhado tiver pouca declividade a chuva cria pequenas poças sobre a cobertura e o vento é capaz de espalhar a água, que acaba entrando pelo encaixe das telhas ou transbordando por cima do ressalto.
IMPERMEABILIZAÇÃO
Segundo Watanabe, impermeabilizar o telhado não deve ser uma opção. “Vemos com frequência telhados impermeabilizados com uso de manta asfáltica. A solução até consegue acabar com as penetrações de água, mas causa um problema mais grave, que é a eliminação do arejamento do sótão”, fala. Como são encaixadas umas sobre as outras, as telhas conservam pequena fresta por onde o vento pode entrar e sair. Nessa circulação, o ar carrega para fora o calor que se forma no ambiente mais próximo da cobertura.
ENTUPIMENTO DE CALHAS OU CONDUTORES
Quanto mais água houver no telhado, maior a possibilidade de acúmulo de objetos estranhos. “Se a edificação estiver cercada de prédios altos, ainda existe o problema de os vizinhos jogarem ‘sem querer’ embalagens pela janela. O material acaba armazenado sobre os imóveis menores”, observa o engenheiro.
Muitos projetos de telhados não levam em consideração a necessidade de limpeza das calhas, o que é uma falha. “Não é raro o imóvel apresentar dificuldades no acesso ao telhado para execução das importantes limpezas periódicas”, lamenta Watanabe. A higienização da cobertura é ação fundamental para evitar o entupimento de calhas e condutores, protegendo, assim, toda a edificação em longo prazo.
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Colaboração técnica
- Roberto Massaru Watanabe– Formado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Trabalhou no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), onde desenvolveu diversas pesquisas sobre materiais e métodos construtivos. Atualmente, presta consultoria em segurança, conforto e habitabilidade das edificações.