Produtividade na construção tem gap duplo e impõe desafios ao setor
Estudo realizado pelo SindusCon-SP e FGV revela diferença de 54% em relação à média de outros 17 países
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Vice-presidente e presidente do SindusCon-SP; e coordenadora da FGV-IBRE em coletiva (Foto: Bruno Massa).
O SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo) elaborou um estudo junto à FGV (Fundação Getúlio Vargas) analisando dados da construção no Brasil e de um conjunto de outros 17 países — Espanha, França, Portugal, Estados Unidos, Holanda, Reino Unido, Suécia, Canadá, Alemanha, Austrália, Itália, Coréia do Sul, Japão, Índia, Rússia, México e China.
Os levantamentos identificaram um gap duplo na produtividade da construção brasileira. O primeiro se dá em relação à produtividade da economia do país, registrando disparidade inferior de 7,6%. O segundo, refere-se à média da produtividade na construção dos 17 países da pesquisa, com diferença inferior de 54%. A escala adotada foi de 0 a 100, atribuindo o limite à produtividade média da economia dos países mais desenvolvidos.
O estudo também aponta que, entre 2003 e 2013, a diferença entre a produtividade no setor da construção e a economia no conjunto dos países estudados sofreu uma variação significativa: passou de 1,4% para 11,3%, resultado acentuado especialmente após a crise de 2008.
Não adianta nada ter uma empresa produtiva em um ambiente improdutivo, pois isso limita a concorrênciaEduardo Zaidan
Na coletiva de apresentação do estudo, Eduardo Zaidan, vice-presidente do SindusCon-SP, disse que aumentar a produtividade da economia no Brasil é a tarefa mais urgente, pois ela se distancia muito dos outros setores mundo afora. “Não adianta nada ter uma empresa produtiva em um ambiente improdutivo, pois isso limita a concorrência”, explica.
“Parte dessas questões não dependem das empresas. São assuntos que dependem de ações institucionais e mudanças muito maiores”, completa Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção da FGV-IBRE. Segundo o balanço do sindicato, essas questões se referem às condicionantes da economia, sendo: estrutura tributária — carga, complexidade e estímulos alocativos; burocracia, custo do capital e previsibilidade regulatória e econômica.
A coordenadora reconhece que o ciclo fechado em 2014 foi fundamental para o crescimento econômico do país, sendo promovido pela estabilidade macroeconômica e mudanças setoriais que estimularam o crédito imobiliário. “É uma condição necessária, mas não suficiente. Há, sem dúvida, um trabalho interno que as empresas precisam fazer”, ressalta Ana. Esse esforço refere-se a métodos eficientes de gestão, qualificação da mão de obra, organização do canteiro, otimização do processo produtivo e fornecimento de materiais à indústria e subempreiteiros.
Com base nas condicionantes mencionadas, o estudo sugere uma agenda ao governo e às empresas para estimular a atividade na construção e retomar o crescimento econômico do país, reduzindo o gap da produtividade.
As pautas transitam entre segurança regulatória; maior participação do setor privado — concessões e PPPs; simplificação tributária, burocrática e de licenciamentos; e incentivos à construção industrializada e sustentável. Por parte das empresas, é necessário adotar métodos mais eficientes de gestão, qualificar a mão de obra e modernizar a construção.
PIB E EMPREGOS NA CONSTRUÇÃO
O SindusCon-SP estima queda de 8% no PIB da construção em 2015 e redução de 6% para 2016. Os principais fatores que contribuem com os dados são o aumento do desemprego, a retração de investimentos públicos e privados, e a diminuição da renda e confiança de famílias e empresas. Somado a isso, há também os atrasos nos pagamentos dos programas PMCMV e PAC.
A indústria da construção é favorável a uma resolução rápida da crise política, fundamental para a retomada das medidas destinadas ao ajuste fiscal e à manutenção do grau de investimentosJosé Romeu Ferraz Neto
Além das questões econômicas, o dilema político do país também contribui com o avanço de melhorias. José Romeu Ferraz Neto, presidente do SindusCon-SP, evitou se posicionar em relação ao assunto, mas espera que a decisão aconteça logo. “A indústria da construção é favorável a uma resolução rápida da crise política, fundamental para a retomada das medidas destinadas ao ajuste fiscal e à manutenção do grau de investimentos”, diz ele.
“Mas queremos simultaneamente a adoção de medidas que abreviem a recessão e levem à retomada do crescimento. Será fundamental atrair capitais privados para novas concessões e PPPs, prosseguir com o MCMV e PAC, e ampliar a captação de recursos para financiamento imobiliário”, defende o presidente do sindicato.
O estudo também apontou que, até outubro de 2015, 508 mil empregos formais foram fechados — em relação a outubro de 2014. A expectativa para 2016 é de que o desemprego na construção avance 6%, configurando corte de 200 mil postos de trabalho com carteira assinada.
Leia mais:
Emprego na Construção recua ao nível de 2011
OPINIÃO EMPRESARIAL
A Sondagem Nacional da Indústria da Construção de outubro de 2015 – estudo que mensura a evolução da atividade da construção civil conforme a perspectiva de empresários – registrou 24 pontos na percepção de desempenho da atividade atual das empresas, 47% abaixo da média histórica (a pesquisa é feita desde 1999).
O impacto (da Operação Lava Jato) foi de duas ordens: sobre a confiança, pois atingiu grandes empresas; e de que a Petrobrás reduziu pesadamente seus investimentos, afetando toda uma cadeia, como por exemplo, seus fornecedoresAna Maria Castelo
As expectativas para crescimento econômico ficaram 80% abaixo da média, atingindo 15 pontos. As análises e previsões negativas do PIB contribuem para o pessimismo do setor. A Operação Lava Jato é outro fator que motivou os baixos resultados da sondagem.
“O impacto foi de duas ordens: sobre a confiança, pois atingiu grandes empresas; e de que a Petrobrás reduziu pesadamente seus investimentos, afetando toda uma cadeia, como por exemplo, seus fornecedores”, analisa a coordenadora da FGV-IBRE.
Ainda segundo a sondagem, a maioria dos entrevistados revelou baixa disposição em adotar novas tecnologias ou investir em máquinas e equipamentos. No entanto, as empresas indicaram intenção em promover mudanças organizacionais e mudança de segmento de mercado.
Os empresários também apontaram que a volta da oneração da mão de obra e a nova regulação da terceirização afetarão negativamente os negócios. Por fim, a sondagem mostra que as empresas não estão muito confiantes para crescer em médio e longo prazo, mas apostam em uma melhora no ambiente de negócios a partir de 2017.
Leia também:
Na contramão da crise, indústria investe em longo prazo
Colaboraram para esta matéria
- Ana Maria Castelo – coordenadora de projetos na área da construção na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Responsável pelo INCC-M e Sondagem da Construção. É coeditora da Revista ‘Conjuntura da Construção’ e presta assessoria ao Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP).
- Eduardo May Zaidan – engenheiro Civil com mais de 30 anos de experiência em Construção Civil e no mercado Imobiliário, é vice-presidente de Economia do SindusCon-SP, diretor de engenharia da RFM Construtora. É pós-graduado em administração de empresas pela EASP FGV e graduado no MBA Executivo em Construção Civil da Escola de Economia da FGV.
- José Romeu Ferraz Neto – É Engenheiro Civil pela Universidade Mackenzie; Administrador de Empresas pela Universidade Mackenzie; MBA pela FGV-SP; Sócio Fundador da RFM Construtora, RFM Incorporadora, Develop Brasil; Presidente do TXAI Resorts; Presidente do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo), vice-presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), membro dos Conselhos da Fiabci-Brasil (Federação Internacional das Profissões Imobiliárias, seção Brasil) e da Adit Brasil (Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico).