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Projeto cuidadoso é fator de sucesso para sistemas de reúso de águas pluviais

Soluções para aproveitamento devem ser dimensionadas em função da incidência de chuvas, do tamanho do telhado e da demanda por água

Publicado em: 07/07/2021Atualizado em: 04/08/2021

Texto: Juliana Nakamura

Reúso de águas pluviais
O sistema deve garantir o armazenamento das águas pluviais (Foto: zstock/Shutterstock)

O interesse crescente em elevar a eficiência hídrica nas edificações tem impulsionado a instalação de sistemas para captação de águas pluviais. Além de diminuir a demanda por esse insumo, a estratégia ajuda a não sobrecarregar a infraestrutura de drenagem urbana em caso de chuvas intensas. Em habitações, estima-se que entre 40 e 50% do consumo de água possa ser atendido a partir de reúso em atividades como irrigação, limpeza e descargas de vasos sanitários.

Os sistemas de aproveitamento das águas pluviais devem garantir a coleta, o armazenamento, a filtragem e a recirculação segura, sem vazamentos. As soluções mais recorrentes utilizam como área de captação a laje ou o telhado da edificação. A partir daí, o líquido é conduzido por calhas e dutos até chegar a um reservatório dimensionado de modo a aproveitar o potencial pluvial, sem desperdícios de recursos e de espaço.

FRAÇÃO DE DESCARTE

A água da chuva costuma ter boa qualidade. No entanto, os primeiros milímetros carregam consigo a poluição da atmosfera e a sujeira depositada nos telhados. “Por isso, para manter a qualidade da água no reservatório, evitar que as louças sanitárias amarelem com o tempo e impedir que os mecanismos de descarga fiquem obstruídos, deve-se descartar sempre o primeiro volume da água captada”, explica João Vitor Gallo, sócio da Petinelli. A ABNT NBR 15.227 — Aproveitamento de água de chuva de coberturas para fins não potáveis — Requisitos recomenda o descarte de 2 mm da precipitação inicial.

Quando não se descarta a primeira água de chuva, os reservatórios ficam carregados de sedimentos que dão cor, mau cheiro e desenvolvem bactérias que são nocivas ao ser humano
João Vitor Gallo

“Quando não se descarta a primeira água de chuva, os reservatórios ficam carregados de sedimentos que dão cor, mau cheiro e desenvolvem bactérias que são nocivas ao ser humano. Sem a filtragem, esses sedimentos podem danificar os mecanismos de descarga, impedindo o bom funcionamento do sistema”, salienta Gallo. Segundo ele, nos dias atuais, há diversos fornecedores com sistemas de descarte automático da primeira captação e estações de tratamento para filtrar a água com sistemas embarcados que medem a saturação dos filtros e executam a retrolavagem automaticamente. “Isso dispensa a necessidade de presença de um operador para o funcionamento do sistema, viabilizando sua utilização em qualquer edifício comercial e residencial”, continua Gallo.

ESTANQUEIDADE E POTABILIDADE

Isso dispensa a necessidade de presença de um operador para o funcionamento do sistema, viabilizando sua utilização em qualquer edifício comercial e residencial
João Vitor Gallo

Para fins não potáveis, a água da chuva não precisa ser submetida a complexos procedimentos de purificação. Uma filtragem simples já costuma ser suficiente para a retirada das principais impurezas. Mas também há a possibilidade de se utilizar a água da chuva para consumo humano, seja para banhos ou para o preparo de alimentos. Nesses casos, é necessário utilizar tratamentos mais complexos, como desinfecção por ultravioleta ou osmose reversa.

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Todo e qualquer projeto de reaproveitamento de água precisa atender as normas e as legislações vigentes. Duas referências importantes são as ABNT NBR 16.782 e 16.783. A primeira estabelece orientações, diretrizes, requisitos e procedimentos para a realização da conservação de água em edifícios novos e existentes. Já a NBR 16.783 aborda o uso de fontes alternativas não potáveis em edificações, estabelecendo parâmetros que contemplam variáveis físicas, químicas e microbiológicas da água. Outras referências técnicas importantes são a ABNT NBR 5626 — Instalação predial de água fria e a ABNT NBR 15.527 — Aproveitamento de água de chuva de coberturas para fins não potáveis.

Um sistema típico de reutilização de águas pluviais é composto por:

• Coletores — Sistema de condutores horizontais e verticais que conduzem a precipitação do telhado até o sistema de armazenamento.
• Armazenamento — Conjunto de uma ou mais cisternas para armazenar a água da chuva coletada.
• Tratamento — Geralmente composta por um filtro simples e alguns produtos químicos leves.
• Distribuição — Conjunto de tubulações, conexões e aparelhos responsáveis por distribuir a água até os pontos de uso.

Falhas no projeto ou na execução de componentes do sistema de reúso pode induzir problemas como infiltrações, goteiras e transbordamento. Para evitá-los, calhas, condutores, rufos, grelhas, assim como os reservatórios precisam ser dimensionados de forma sistêmica, considerando que os componentes são interdependentes entre si.

O volume do reservatório deve ser definido a partir de um cálculo que considere fatores como o uso desejado da água, o regime de chuvas no ano, a área do telhado e a disponibilidade de espaço para instalação da cisterna. O mesmo ocorre com a seção dos condutores, que precisam ser projetados de modo a evitar retenções e extravasamentos de água.

Uma boa prática é criar uma diferenciação visual entre a rede de água potável e as instalações de reúso, que precisam ser separadas. Isso pode ser feito, por exemplo, pintando tubos e conexões com cores diferentes.

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Colaboração técnica

João Vitor Gallo
João Vitor Gallo — Engenheiro ambiental, é sócio na Petinelli, empresa especializada em consultoria de projetos de engenharia para a certificação de construções verdes no Brasil.