Projeto de cinemas exige abordagem técnica e atendimento a normas
Garantir aos usuários boa visibilidade e conforto acústico são alguns desafios desse tipo de obra
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Sala de cinema com poltronas vermelhas (kaopan/ Shutterstock.com).
Projetar uma sala de cinema é um trabalho que exige atendimento a uma série de requisitos técnicos para garantir aos espectadores uma experiência divertida e segura. Nos últimos anos, esse tipo de projeto arquitetônico tornou-se ainda mais complexo. Isso deve-se, em grande parte, à expansão do modelo multiplex, no qual várias salas de projeção são acomodadas em um único espaço, e ao desenvolvimento de novos modelos de salas, como as que têm serviços e acabamentos de alto padrão, e as XD, que acomodam mais de 300 pessoas e possuem tela de parede a parede.
Implantação das poltronas (Fonte: Recomendação Técnica
da Associação Brasileira de Cinematografia — ABC).
DESAFIOS TÉCNICOS
Um dos aspectos arquitetônicos críticos em salas de cinema é garantir visibilidade a todos os usuários. Para isso, o projeto deve atender a algumas regras, descritas em normas técnicas, como a ABNT NBR 12.237, que trata de projetos e instalações de salas de projeção cinematográfica, e a recomendação técnica 001, de 2009, da Associação Brasileira de Cinematografia (ABC).
A dimensão da tela de projeção, por exemplo, deve ter largura igual ou superior à metade da distância entre a tela e a face anterior do encosto da poltrona instalada na última fileira. Também é aceitável que a largura seja igual ou superior à distância dividida por 2,9.
O espaço entre a tela de projeção e as poltronas da fileira mais distante deve ser menor ou igual ao dobro da largura da tela. A distância entre as poltronas deve ser igual ou, preferencialmente, superior a 1 m. O espaço entre os assentos é medido da face anterior de um determinado encosto até a face anterior do encosto imediatamente à sua frente.
Escalonamento dos assentos (Fonte: Recomendação Técnica da ABC).
VISÃO LIVRE
Assegurar o conforto da plateia acomodada nos pontos periféricos da sala também demanda atenção dos arquitetos. Para evitar que as pessoas saiam da sessão com torcicolo, as normas determinam que a distância entre a primeira linha de poltronas e a tela deve ser maior ou igual a 60% da largura da tela. Os ângulos máximos de visão do espectador sentado na poltrona mais próxima da tela devem ser iguais ou, preferencialmente, inferiores a 30 graus em relação a um plano horizontal que passe pelo centro da altura da tela. Em uma sala ideal, todo espectador (inclusive aqueles sentados nas poltronas coladas às paredes laterais) deve conseguir enxergar o meio da tela sem precisar virar o rosto mais que 30 graus.
Ângulos mínimos de visibilidade
(Fonte: Recomendação Técnica da ABC).
Há, ainda, a necessidade de garantir o escalonamento visual, necessário para que a visão dos usuários não seja obstruída por espectadores sentados à sua frente. A distância entre a altura dos olhos do espectador (que fica a cerca de 1,20 m do chão, quando sentado) e a cabeça da pessoa à frente deve ser de, no mínimo, 15 cm. “Um desafio extra é garantir todas essas condições em locais com pé-direito restrito, principalmente em cinemas implantados em construções já existentes, como shoppings antigos”, comenta a arquiteta Andrea Pupo, diretora de expansão da Rede Cinemark no Brasil.
REVESTIMENTOS ESPECIAIS
Independentemente do porte ou da localização do cinema, ele deve possuir um amplo sistema de controle e combate a incêndio composto por sprinklers, detectores e centrais de alarme. Os materiais de acabamento utilizados dentro das salas também devem ser submetidos a tratamento ignifugante (que não entra em combustão).
Um desafio extra é garantir todas essas condições em locais com pé-direito restrito, principalmente em cinemas implantados em construções já existentes, como shoppings antigosAndrea Pupo
Nas salas administradas por bandeiras internacionais, costuma-se seguir uma especificação padrão que garante conforto, facilidade de limpeza e de manutenção para todas as unidades da rede. No entanto, algumas variações nas cores e na forma de uso do material podem acontecer de acordo com o tipo de sala. “Nas salas prime, por exemplo, os tecidos são aplicados nas paredes através do sistema de painéis. Já nas regulares, o mesmo material é utilizado drapeado, em uma única tonalidade. As salas XD (large format) também recebem o tecido drapeado com uma combinação de três cores”, comenta Pupo.
CONFORTO ACÚSTICO E ISOLAMENTO
Um ponto especialmente crítico em salas de projeção é a acústica, disciplina que demanda uma série de ações conjugadas para assegurar que não haja vazamento de som de uma sala para outra. Entre as soluções empregadas para atingir esse objetivo está o uso de espessas paredes de drywall (algumas com aproximadamente 50 cm) preenchidas com lã de vidro e revestidas com tecido absorvente. “Os forros também costumam receber placas de drywall com recheio de lã mineral de alto desempenho”, comenta o engenheiro civil e consultor em acústica, Olavo Fonseca Filho. A cabine de projeção deve receber cuidado especial, com isolamento em todas as suas faces de modo a garantir que nem o som nem a luz vazem para a plateia.
Os forros também costumam receber placas de drywall com recheio de lã mineral de alto desempenhoOlavo Fonseca Filho
Comumente relegadas a segundo plano, as instalações também precisam receber proteção para não gerar os chamados ruídos de fundo (provenientes de equipamentos como bombas e sistema de ar-condicionado). Em São Paulo, por exemplo, na renovação do Cine Belas Artes, a necessidade de garantir o desempenho acústico levou à renovação de todas as máquinas e dutos que compõem o sistema de ar-condicionado.
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Colaboração técnica
- Andrea Pupo – arquiteta e urbanista, é diretora de expansão/real estate, responsável pelos novos empreendimentos da rede Cinemark no Brasil
- Olavo Fonseca Filho – engenheiro civil, consultor em acústica e diretor da Sonar Engenharia