Projeto de impermeabilização: conheça cuidados técnicos e erros comuns
Projetista tem que atender às determinações de normas técnicas para elaborar o estudo preliminar e os projetos básico e executivo do sistema de impermeabilização
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
A execução da impermeabilização deve ser realizada por profissional especializado (Foto: bogdanhoda/Shutterstock)
A definição das soluções de impermeabilização que serão aplicadas na edificação é dividida em três fases principais: estudo preliminar, projeto básico e projeto executivo. Cada uma das etapas tem diretrizes estabelecidas por norma técnica e essas informações devem ser de conhecimento do responsável pelo projeto. Para esse trabalho de especificação, também é fundamental profissional especializado e qualificado em impermeabilização.
Estudo preliminar
De acordo com o arquiteto Jacques Monet Junior, titular da Imperconsultores (Consultoria em Projetos de Impermeabilização), o estudo preliminar consiste no conjunto de detalhes que permite caracterizar as soluções de impermeabilização. “Precisa ser elaborado simultaneamente ao projeto arquitetônico. Assim, podem ser devidamente analisadas as restrições e possibilidades para atender as exigências de desempenho em relação à estanqueidade”, afirma.
O estudo preliminar tem que ser embasado em relatório com a qualificação das áreas que serão atendidas e uma planilha com os tipos de impermeabilização aplicáveisJosé Miguel Morgado
“O estudo preliminar tem que ser embasado em relatório com a qualificação das áreas que serão atendidas e uma planilha com os tipos de impermeabilização aplicáveis”, diz o engenheiro José Miguel Morgado, diretor executivo do Instituto Brasileiro de Impermeabilização (IBI Brasil), que destaca a importância de o projeto não ser um simples “copiar e colar”, mas sim específico para cada situação.
Projeto básico e executivo
A ABNT NBR 9575 — Impermeabilização — Seleção e projeto — está em revisão e, na nova versão, o projeto básico passa a ser tratado como pré-executivo. “Nele, constam as informações gráficas e descritivas que definem as características de todos os sistemas de impermeabilização a partir do estudo preliminar”, explica Monet, lembrando que esse projeto não traz detalhes suficientes para ser adotado na execução.
Segundo Morgado, no projeto básico são estabelecidas as áreas impermeabilizadas, além do equacionamento de possíveis interferências. “Todas as soluções precisam estar definidas com uma planilha de levantamento quantitativo, estudo de desempenho e estimativas de custo”, detalha o diretor do IBI.
Já o projeto executivo é aquele que traz os dados necessários para a correta aplicação dos materiais. “Seu conteúdo técnico apresenta as soluções detalhadas para cada área, com informações sobre as camadas que irão compor o sistema e a identificação de todos os componentes”, comenta Monet. No documento há, ainda, os procedimentos que têm que ser adotados para garantir que a vida útil planejada seja, de fato, alcançada.
Devem constar no projeto executivo:
• as características construtivas das soluções adotadas no projeto de arquitetura;
• memorial descritivo de materiais;
• memorial descritivo de procedimento de execução;
• a planilha quantitativa de materiais e serviços.
Complementando esse projeto, poderão ser definidas a metodologia para controle e inspeção dos serviços; a metodologia para controle dos ensaios tecnológicos; e diretrizes para elaboração de manual de uso, operação e manutenção.
De acordo com Morgado e Monet, alguns construtores adquirem apenas o projeto básico, entendendo que atenderam de uma vez as exigências da obra quanto à necessidade de um projeto de impermeabilização. Entretanto, para o correto desempenho de norma, com a adequada execução, tanto o construtor junto com a fiscalização quanto a empresa aplicadora têm que ter em mãos o projeto e executá-lo.
Erros comuns
A certificação de que a execução seguirá tudo aquilo previsto em projeto é um dos principais problemas enfrentado atualmente. “Alguns construtores compram o projeto e, muitas vezes, o colocam na gaveta”, conta Morgado. É importante, durante a obra, aferir se os produtos, consumos, tempo de secagem, prazo de validade, entre outros, estão em conformidade com o que foi planejado.
Monet ressalta que no Brasil é cultural os projetos não serem lidos e aplicados no setor de obras. “Mas, já temos nos edifícios de alto padrão mestres e engenheiros de produção abrindo as plantas na laje e adequando os detalhes de execução. Como acontece em nossos projetos”, conta.
Devemos reforçar a cultura de fiscalizar e responsabilizar a execução dos projetos nos seus detalhes construtivos, fazendo os devidos checklists, necessários para a finalização do desempenhoJacques Monet Junior
“Devemos reforçar a cultura de fiscalizar e responsabilizar a execução dos projetos nos seus detalhes construtivos, fazendo os devidos checklists, necessários para a finalização do desempenho”, avalia Monet, lembrando que outro erro comum é optar por profissionais sem a devida qualificação para elaborar o projeto de impermeabilização.
A importância do projeto
Desprezar o projeto de impermeabilização pode resultar em diversos impactos negativos para a edificação, que vão desde problemas de saúde para os ocupantes até graves riscos estruturais. Um vazamento que seria evitado com a vedação adequada pode tornar o ambiente inabitável — graças à proliferação de microrganismos — ou causar a corrosão das armaduras nas estruturas, situação que envolve altos custos para ser solucionada.
Em um projeto habitacional, os pontos mais críticos em relação à impermeabilização são a laje de cobertura e térrea, juntas de dilatação e subsolos. A garantia de torná-los totalmente estanques, assim como as demais estruturas do empreendimento, passa pela escolha da mão de obra e materiais adequados, qualidade da construção, preservação dos sistemas aplicados, assertividade do projeto, entre outros cuidados.
Normas técnicas
As principais normas técnicas a serem observadas no projeto e execução da impermeabilização são ABNT NBR 9575 — Impermeabilização — Seleção e projeto; ABNT NBR 9574 — Execução de impermeabilização; e ABNT NBR 15575 — Edificações habitacionais — Desempenho. “Sendo que as duas primeiras atualmente passam por revisão”, informa Monet.
Após a publicação da nova versão, a ABNT NBR 9575 terá cinco partes e passará a englobar a ABNT NBR 9574, que será cancelada. “Elas serão: Parte I – Nomenclatura; Parte II – Projeto de Impermeabilização; Parte III – Execução da Impermeabilização (que irá substituir e cancelar a ABNT NBR 9574); Parte IV – Fiscalização; e Parte V – Uso e manutenção da impermeabilização”, enumera Morgado, indicando que as duas últimas partes começarão a ser analisadas após o envio das três primeiras para consulta nacional.
O projetista também deve estar atento às normas relativas aos produtos que estão sendo especificados durante seu trabalho. “Empresas ou profissionais não devem realizar uma obra, qualquer que seja ela, sem o mínimo de conhecimento das normas técnicas. O IBI possui diversas Câmaras e, no caso em questão, temos a Câmara dos Projetistas do IBI com mais de uma dúzia de projetistas associados que estão à disposição da classe construtora para apoiá-la na execução de seus projetos”, conclui Morgado.
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Colaboração técnica
- Jacques Monet Junior – Arquiteto, fundador da Imperconsultores Consultoria em Projetos de Impermeabilização — com acervos técnicos RRTs e ARTs em projetos desde 1986. Foi superintendente da ABNT no período de 2004 a 2007, com participação ativa nos comitês do CB-22 e câmara de Projetista do IBI (instituto Brasileiro de Impermeabilização).
- José Miguel Morgado — Engenheiro Civil formado pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), tem MBA em negócios e inovação pela Barry University e pela University of Nevada. É diretor Executivo do Instituto Brasileiro de Impermeabilização (IBI Brasil) e titular da Morgado Consultoria. Tem trabalhos técnicos publicados no Brasil e exterior, além da participação em eventos nacionais e internacionais.