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Projeto e aplicação de pisos táteis devem obedecer a normas técnicas

Do início dos anos 2000 até o momento, o mercado ampliou a oferta de materiais adequados às áreas internas e externas, para alto e baixo trânsito de pessoas. Veja as principais opções

Publicado em: 24/09/2018Atualizado em: 25/09/2018

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

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Pisos táteis funcionam como sinalização de direcionamento e alerta (foto: ARPA - Acessibilidade)

Eles são instalados no piso, mas comunicam tudo o que as pessoas com deficiência visual precisam saber para se locomover com segurança. Cumprindo as funções de alerta e direcional, os pisos táteis se assemelham à linguagem, ao transmitirem informações como direção, mudança de direção, presença de obstáculo ou pontos de atenção.

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“Os sinais táteis, em sua grande maioria, incorporam as linguagens visual e tátil, através de texturas, relevos e cores/contrastes”, diz o arquiteto Robson Gonzales, sócio-proprietário do escritório Arpa Acessibilidade. Numa analogia, ele diz que, assim como um texto pode expressar ideias de maneira objetiva e correta, a combinação dos signos dos pisos táteis pode passar informações corretas ou não, objetivas ou não. Tudo depende do projeto e do conhecimento do profissional, a começar pelas normas de acessibilidade, a ABNT NBR 9050:2015 e a ABNT NBR 16537:2016.

Em linhas gerais, as normas estabelecem que os pisos táteis devem ser utilizados como modo de direcionamento em grandes espaços e equipamentos urbanos, como vias de pedestres. E, também, como meio de alerta, atenção ou posicionamento diante de obstáculos, escadas, elevadores e degraus, entre outros. “Neste caso, são aplicados em todos os edifícios, sejam residenciais, públicos ou de uso coletivo”, acrescenta Gonzales.

As estações do metrô paulistano adotam os pisos táteis desde 2004 nas áreas de acesso ao público. De acordo com a arquiteta do Metrô de São Paulo Eliete Mariani, que coordenou o grupo de trabalho da NBR 16537, os pisos táteis orientam os usuários para os locais de interesse, como bilheterias, catracas, sanitários e pontos de embarque e desembarque nas plataformas. “Como segurança, temos a sinalização tátil de alerta no início e final de todas as escadas, rampas e obstáculos, e a faixa amarela tátil na borda das plataformas”, explica.

PROJETO

Robson Gonzales destaca que as questões de acessibilidade em geral devem ser previstas e acompanhadas por um especialista, desde o estudo preliminar até o projeto executivo. Já a informação tátil, na forma de pisos e placas de sinalização, pode ser prevista a partir do projeto básico e do projeto executivo, inclusive em edificações existentes.

Para a elaboração do projeto de pisos táteis, é essencial que a arquitetura e o layout interno, com seu mobiliário, estejam definidos. “Já me deparei com locais onde os pisos táteis foram atropelados por gôndolas de exposição, caixas de cobrança, mesas e cadeiras”, conta ele, reforçando que o elemento deve estar nos espaços destinados à circulação de pessoas.

Os sinais táteis, em sua grande maioria, incorporam as linguagens visual e tátil, através de texturas, relevos e cores/contrastes
Robson Gonzales

Os principais erros de projeto são, em geral, o excesso de informação ou a falta dela. Um bom projeto de sinalização deve, primeiramente, levar em consideração quem a utilizará. Ou seja, é preciso saber como as pessoas com deficiência visual se locomovem, como percebem o ambiente e como o piso tátil poderá dar mais segurança ao seu trajeto. “A informação passada deve ser direta e clara e o trajeto o mais curto e seguro possível”, recomenda o especialista.

SÍMBOLOS

O piso tátil é caracterizado por relevo e luminância contrastantes em relação ao piso adjacente. “Pois cerca de 85% das pessoas com deficiência visual possuem baixa visão, conseguindo enxergar vultos”, observa Mariani, acrescentando que a cor contrastante aliada à textura tátil ajuda essas pessoas a distinguirem a sinalização tátil no piso.


O metrô de São Paulo optou pela cor azul por contrastar com os pisos em preto e cinza existentes nas estações, na época. As faixas azuis se distinguem e evitam confusão com a amarela, de segurança, na borda das plataformas. Estas apresentam uma sutileza: nas plataformas abertas, foram instalados pisos táteis amarelos contínuos, enquanto que nas estações onde há portas de vidro que se abrem diretamente para os vagões, a faixa foi instalada apenas diante do vão de vidro. “A diferença é que uma é totalmente aberta e a outra é fechada, sendo necessária a sinalização somente em frente às portas. Os dois casos também fazem parte das normas técnicas”, afirma Mariani.

Gonzales ensina que os pisos táteis possuem dois tipos de textura: a de alerta (bolinhas) e a de direção (bastões), para atendimento de quatro funções principais:

• Identificação de perigos (sinalização tátil alerta): informa sobre a existência de desníveis ou outras situações de risco permanente
• Condução (sinalização tátil direcional): orienta o sentido do deslocamento seguro  
• Mudança de direção (sinalização tátil alerta): informa as mudanças de direção ou opções de percursos
• Marcação de atividade (sinalização tátil direcional ou alerta): orienta o posicionamento adequado para o uso de equipamentos ou serviços

MATERIAIS

Há 14 anos, o metrô paulistano foi pioneiro no uso da solução. Porém, na época, o único material disponível e que respondia às exigências de qualidade necessária era em borracha. Nesse período, os materiais evoluíram e, hoje, há uma ampla gama de acabamentos e procedimentos de aplicação.

“Temos os elementos em relevo tátil aplicados diretamente no piso, em materiais como aço inox, PVC ou poliéster colorido. Podem ser fixados por parafuso e bucha, autoadesivos ou colados. Já a placa tátil em PVC, borracha ou poliéster, com medidas de 25 x 25 cm com relevos, é aplicada diretamente sobre o piso utilizando cola de contato, ou embutida e fixada com argamassa”, elenca Gonzales.

O piso tátil em porcelanato com acabamento esmaltado colorido é material mais recente. Sua fixação é feita com argamassa (embutido no piso) – procedimento semelhante ao exigido pelo piso tátil cimentício, disponível em placas de 25 x 25 cm, 30 x 30 cm, ou 20 x 20 cm.

Cerca de 85% das pessoas com deficiência visual possuem baixa visão, conseguindo enxergar vultos
Eliete Mariani

“O tipo de material e de fixação deverá ser definido em função do local onde será aplicado e do contingente de pessoas ou máquinas que trafegarão sobre o piso”, alerta o especialista. Assim, para áreas internas, caracterizadas por baixo trânsito de pessoas, Gonzales recomenda os relevos táteis fixados por adesivo ou fita dupla-face. E, ainda, o piso de PVC ou borracha com fixação sobreposta (adesivo).

Quando na área interna há alto trânsito, os relevos táteis devem ser fixados por parafusos e buchas. São opções o piso em poliéster com fixação sobreposta ou argamassado, ou o porcelanato fixado com argamassa. Em áreas externas, os materiais ideais são o PVC fixado com argamassa, o porcelanato ou o cimentício.

“Com o lançamento dos pisos táteis em porcelanato, no final dos anos 2000, as estações do metrô passaram a adotar o material, havendo hoje os dois tipos, dependendo da estação”, relata a arquiteta, comentando que os pisos em porcelanato são mais duráveis e bem mais fáceis de limpar.

A manutenção vai variar de acordo com o tipo de piso aplicado. “Os que exigem manutenção periódica e cuidados com a forma de limpeza são os pisos recomendados para áreas internas, pois os de áreas externas são mais resistentes”, diz o especialista. No entanto, a qualidade da manutenção causa impacto direto na vida útil do piso tátil. Aqueles aplicados em áreas externas podem durar mais de dez anos, mas os pisos de áreas internas têm vida útil menor, em média de cinco anos.

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Colaboração técnica

Eliete-Mariani.
Eliete Mariani – Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1992) e mestrado em Ciências pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo FAU USP (2016). Foi coordenadora da Norma ABNT de Sinalização Tátil no Piso – Pisos Táteis – NBR 16.537 – publicada em 2016. É arquiteta no Metrô de São Paulo, onde trabalha desde 1985. Especialista em acessibilidade.
Eliete-Mariani
Robson Gonzales – Arquiteto e urbanista pela Universidade Nove de Julho (2006), onde fez pós-graduação em acessibilidade e Desenho Universal (2010). Executou projetos para as estações de trem da CPTM (SP) e dos metrôs CCR Salvador e Metrô Rio. Atende às principais construtoras e indústrias do país e possui projetos internacionais (Londres e Argentina). É sócio-proprietário da ARPA Acessibilidade.