Quais são as diferenças entre cobogós e muxarabis?
Enquanto os muxarabis foram trazidos ao Brasil pelos colonizadores, os cobogós são criação nacional. Contudo, as soluções cumprem a mesma função nas edificações
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
O cobogó é uma criação brasileira (Foto: Horus2017/Shutterstock)
Ao favorecer tanto a ventilação quanto a iluminação natural, os elementos vazados têm espaço em variados tipos de projetos arquitetônicos. Duas das soluções que integram esse grupo de materiais são os cobogós e os muxarabis, peças com mais semelhanças entre si do que diferenças. “Ambas cumprem a mesma função na edificação”, afirma a arquiteta Joanna Marino, diretora do Grün Studio Arquitetura e Urbanismo.
O muxarabi é mais rebuscado e orgânico, já o cobogó remete aos traços da arquitetura moderna, mais retoJoanna Marino
O cobogó é uma criação brasileira proveniente da cultura árabe, origem do muxarabi. Estética e formas são seus diferenciais. “O muxarabi é mais rebuscado e orgânico, já o cobogó remete aos traços da arquitetura moderna, mais reto”, compara Marino. Eles também se distinguem em relação aos materiais usados em suas produções: enquanto o estrangeiro nasceu em madeira, o nacional era moldado em cimento. Com o passar do tempo, os dois começaram a ser confeccionados a partir de outras matérias-primas.
“É o caso, por exemplo, da fachada do museu do mundo árabe em Paris, que tem muxarabis feitos em aço”, destaca Marino, informando que tanto esses elementos vazados quanto os cobogós hoje são produzidos de concreto, madeira, cerâmica ou vidro. Usadas geralmente em paredes divisórias e fechamentos, as soluções também podem ser aplicadas em fachadas. “São materiais que têm fácil integração com demais sistemas construtivos”, conta.
Origens
O muxarabi, termo de origem árabe e que significa “local fresco”, chegou ao Brasil por volta de 1530. No período da colonização do país, diversas obras apresentavam traços da arquitetura muçulmana e possuíam esse elemento vazado. Porém, com a vinda da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, o muxarabi caiu em desuso. A alegação era que o Brasil deveria perder os ares de colônia para assimilar as novas tendências europeias.
A solução nacional, por sua vez, surgiu no Recife (PE) na década de 1920. A palavra cobogó é uma junção das iniciais dos sobrenomes de três engenheiros que trabalhavam na capital pernambucana e conjuntamente idealizaram o material: Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest August Boeckmann e Antônio de Góis. A popularização do material foi alavancada pelo arquiteto Lúcio Costa que o inseriu sutilmente em seus projetos.
Usando cobogós e muxarabis
A arquiteta detalha que o uso dos elementos vazados nas paredes possibilita a passagem de ar e luz. Porém, é importante ressaltar que não são peças estruturais. “Nas fachadas, podem ser instaladas para atuar no controle da incidência solar ou como barreira de transparência do espaço interno com o externo”, menciona a especialista.
São diversos os ambientes que podem receber as soluções, como salas ou quartos, onde elas se tornam mais um ornamento do que divisórias. “Costumo especificá-las em meus projetos nas circulações onde a fachada tem uma forte incidência solar. Assim, o elemento vazado permitirá a entrada do sol com certa barreira, resultando em um desenho interessante de luz e sombras. Já internamente, pode dividir um corredor de uma sala, ou uma lavanderia aberta da cozinha, trazendo muito charme e originalidade”, detalha Marino.
Vantagens
O assentamento desses materiais chega a ser mais rápido e fácil se comparado com o dos blocos tradicionais. Isso porque são dispensados quaisquer tratamentos após a instalação, sendo necessário somente o cimento para construir a parede. “Não precisa passar verniz, rebocar ou pintar, a não ser que exista o desejo de mudar a cor dos elementos vazados por uma questão de estética. Funcionalmente, eles já vêm prontos”, destaca a arquiteta.
O arquiteto desenha seu projeto autoral e o fabricante reproduz exatamente a peça. Isso traz muita personalidade à obraJoanna Marino
Os cobogós e muxarabis são facilmente encontrados no mercado, seja em home centers ou diretamente com fornecedores. Comercializados em formatos e tamanhos variados, existe a opção de adquirir modelos padronizados, ou então, procurar por empresas que fazem produtos personalizados. “O arquiteto desenha seu projeto autoral e o fabricante reproduz exatamente a peça. Isso traz muita personalidade à obra”, destaca a profissional.
Marino lembra que é importante certificar junto ao fabricante se a solução pode ser especificada para qualquer tipo de uso. “Há peças, por exemplo, que não são resistentes às intempéries, logo, devem ser evitadas nas fachadas”, conclui.
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Colaboração técnica
- Joanna Marino — Formada em Arquitetura e Urbanismo pela Escola da Cidade, em São Paulo, e Mestre em Urbanismo Sustentável pela Université Rennes II, na França. É diretora do Grün Studio Arquitetura e Urbanismo, que assina o projeto internacional Waze Carpool Experience.