Quais vidros utilizar para evitar o choque de pássaros em edifícios?
Nos edifícios envidraçados e nas barreiras acústicas de vidro, a Europa aplica a solução de adesivos de pássaros predadores para evitar a morte de milhares de aves
Redação AECweb / e-Construmarket
A busca do equilíbrio entre a ocupação do espaço nas cidades e a preservação do meio ambiente se confronta com os desafios propostos pelas torres de vidro dos edifícios comerciais e corporativos. A busca da eficiência energética, utilizando vidros com elevado poder de isolamento térmico, exige conhecimento que transcende as soluções convencionais. Em todo o mundo, as belas fachadas envidraçadas acarretam consequência pouco observada, porém real e nada sustentável, de se tornarem armadilhas para os pássaros que, com a imagem do céu refletida, perdem a noção de espaço e se chocam contra edificações.
De acordo com o arquiteto Paulo Duarte, consultor de vidros e fachadas, a maior preocupação dos especialistas da área é com o uso de vidros muito transparentes, principalmente se eles podem se constituir em barreiras “quase invisíveis”, interrompendo a passagem de pessoas ou o voo dos pássaros. “Na Europa, o uso dos vidros refletivos sempre foi mínimo e, agora, praticamente não existe. Foi lá que surgiram as primeiras preocupações com o choque de pássaros contra os vidros das construções. A solução encontrada foi o uso de adesivos com figuras de pássaros predadores para espantar as aves menores. O objetivo é evitar a morte de pássaros que trombavam com envidraçamentos das barreiras acústicas margeando as estradas, pois enxergavam o ambiente natural através dos vidros transparentes”, conta. Isso ocorre, também, em situações em que há dois envidraçamentos muito transparentes e próximos um do outro, como passarelas envidraçadas, escadas salientes da edificação fechadas com vidros e halls de edifícios com dois fechamentos em vidro, que possam ser vistos de ângulos pelos quais a transparência permite uma visão de continuidade do ambiente externo.
REFLETIVOS
No caso dos refletivos, diz Paulo Duarte, o choque de pássaros é mais raro, pois o efeito de voar contra um sólido céu de mentira pode ocorrer, mas ao se aproximar do vidro eles veem seu próprio reflexo e desviam. “Sou consultor de fachadas há quase 30 anos e não tenho informação de mortandade de pássaros em consequência do uso de vidros refletivos”, afirma. Entretanto, o arquiteto não descarta o fato de que, dependendo da velocidade em que se aproxime, esse desvio pode ser tardio, ou que devido à continuidade da fachada, o choque ocorra um pouco mais afastado do ponto em que ocorreu a visão inicial.
Ele conta que os refletivos surgiram no século passado como solução para o controle da radiação que atinge os edifícios. “A proposta era refletir o calor para fora, impedindo que penetrasse no ambiente interno”, afirma.
As fotos mostram os vidros do fechamento da escada do edifício de um museu na Suíça, com figuras dos pássaros predadores da região
No início, o conhecimento para obter tais resultados era limitado e, para refletir calor, era necessário refletir, quase na mesma proporção, a radiação luminosa, ou seja, a luz solar. Isso resultava em vidros refletivos que davam às fachadas um desagradável efeito de espelho, que incomodava aos arquitetos e aos estudiosos da eficiência fotoenergética. “Na verdade incomodavam a todos, dentro e fora dos edifícios, causando certo desconforto, pois reduziam a passagem de calor e também de luz, tornando o ambiente interno mais escuro. Além disso, por serem refletivos também internamente, diminuíam a visibilidade do lado de fora das edificações. Quem gosta de estar dentro de um edifício e, ao olhar a janela, ver todo o ambiente interno refletido nos vidros, diminuindo a visibilidade do lado de fora?”, questiona.
Duarte explica que as tecnologias aplicadas para garantir conforto fototérmico e eficiência energética das fachadas se desenvolveram em escala exponencial, principalmente a partir do início do Século XXI. Hoje os vidros que apresentam eficiência energética são cada vez menos refletivos, pois a física permite que se trabalhe em diferentes comprimentos de onda da radiação solar no sentido de se obter o resultado o mais próximo possível do ideal. “Há vidros que permitem a passagem de grande quantidade de luz, mas bloqueiam as radiações térmicas, reduzindo o calor que passa para dentro. Por ser menos refletivo no espectro luminoso, reflete pouca luz”, ensina.
SELETIVOS
O arquiteto orienta que a correta especificação de vidros para esquadrias e fachadas traz resultados efetivos para o isolamento térmico do edifício, porém, é preciso conhecer suas características técnicas. “O vidro Low-e básico tem a função de refletir o infravermelho para dentro, criando um ambiente similar ao de uma estufa. É usado na composição de vidros duplos insulados na posição que faceia o ambiente. Os insulados, por sua vez, também têm a função de reduzir a transferência de calor de um lado para o outro”, lembra, acrescentando que essa solução é ideal para países frios, pois reduz a saída do calor para o exterior, onde a temperatura é mais baixa.
Sua explicação recupera o fato de que, nos últimos anos, o mercado de vidros nos países tropicais começou a se ampliar, despertando o interesse dos fabricantes mundiais, que desenvolveram outro tipo de Low-e: o vidro de controle solar e o vidro seletivo. “Não se trata de película, no sentido de ser um ‘filme’ aplicado no vidro, nem de composição da massa do vidro. Utilizando um processo de alta tecnologia que envolve câmaras de vácuo, atmosfera de plasma, além de correntes de alta energia, são depositados metais e outros minerais nobres no vidro já pronto. A soma dessas camadas faz uma filtragem da radiação que se quer deixar passar. A maioria não tem restrições de transformação, podendo ser laminado ou temperado”, conta. Sofisticados, portanto, “os vidros seletivos já estão no Brasil há mais de cinco anos. Algumas empresas produzem aqui e outras vão instalar novos equipamentos para fabricar vidros seletivos de ponta, diz.
Redação AECweb / e-Construmarket
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Paulo Duarte – É arquiteto graduado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie. Foi consultor para projetos na área hospitalar e industrial, tendo também coordenado projetos e obras. A partir de 1967 trabalhou em várias empresas sempre com a responsabilidade pela coordenação de projetos e o planejamento técnico de construções especiais para a Kibon/General Foods, Construtora Norberto Odebrecht, Construtora Loyo e Construtora Adolpho Lindenberg. Entre 1976 e 1979 exerceu essas atividades notadamente na América Latina, Arábia Saudita, Nigéria, Gabão e Costa do Marfim, onde colaborou para a viabilização da participação de construtoras brasileiras naqueles mercados. Em 1979, fundou a AEC que presta consultoria nas áreas de Arquitetura e Construção Civil atendendo empresas de projeto e construção, nacionais e internacionais além de grupos multinacionais. Durante os 11 últimos anos, a AEC concentrou suas atividades na área de Consultoria para esquadrias e seus componentes, vidro para a Construção Civil e sistemas construtivos de fachadas. Hoje, 90% de suas atividades estão concentradas na Consultoria para o Envelopamento dos Edifícios. Em 2003, estabeleceu a PCD Consultores, empresa dedicada ao desenvolvimento de estudos, pesquisa, análise de patologias e consultoria específica. Paulo Duarte é membro do comitê 37 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para o desenvolvimento das Normas de Uso do vidro na Construção, além de participar de outros comitês – Vidros Insulados, Painéis Colados e Esquadrias para Construção. É, também, membro da Associate Consultant Architect Member e da AAMA – American Architectural Manufacturers Association.